sexta-feira, dezembro 31, 2010

Alunos não sabem raciocinar nem escrever

Após as imensas gabarolices de Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro, estranhamente, o Ministério da Educação publica um documento afirmando que

Relatório 2010. Alunos não sabem raciocinar nem escrever

Acabo de ler isto no jornal I, o qual traz também uma reportagem sobre "copianços" e o modo como podem agora ser detectados informaticamente em países que usam testes de escolha múltipla.
Afigura-se-me dizer o seguinte: o problema em Portugal tem múltiplas facetas, sendo talvez a primeiro o exagerado facilitismo proposto pelo actual governo, sendo outro que os testes deveriam ser mais rigorosos e exactos, como é o caso dos referidos de escolha múltipla, que podem existir para todas as disciplinas, sendo o terceiro que existe em Portugal uma mentalidade favorável ao copianço. Sempre existiu. Sendo uma pequena corrupção e a primeira, participa da mentalidade geral sobre a corrupção.
Toda a gente se surpreende ao ouvir a história de um rapaz que foi estudar para Inglaterra e pediu a um inglês que o deixasse copiar. Ofendido, o colega considerou que ele o estava a ultrajar por o julgar capaz de ser cúmplice de uma fraude e foi fazer queixa dele.
Quanto ao facilitismo, ouve-se hoje em dia professores gabarem-se de que os seus alunos obtêm bons resultados (notas dadas por eles mesmos), o que, também na sua opinião, significa que ensinaram bem. E que merecem uma boa nota, na recém implementada avaliação de professores, sobretudo se os seus alunos não forem submetidos a exame, porque quase não há exames nessas disciplinas.
Uma minha amiga professora de português (que vocês conhecem bem) contou-me o que vos vou contar.
- Tive uma aluna no 10º ano que vinha com o diagnóstico de dislexia. Quer isto dizer que quase tinha direito a nota positiva a português só por isso, pois era-lhe permitido dar toda a espécie de erros. Eu deveria considerar a resposta inteiramente certa se a ideia geral estivesse certa, embora mal ou muito mal expressa. A rapariga era extremamente malcriada, mal comportada e não fazia nada. 
A primeira nota que lhe dei, num teste, foi 2, de zero a vinte. Foi fazer queixa de mim - no teste seguinte teve 2,5.
No segundo período deixou de ser mal comportada, no terceiro deixou de ser malcriada. Passou com 10 e este ano deixou de ser disléxica. É claro que nunca foi disléxica...
E até me está muito agradecida pela cura milagrosa!

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Prenda de Natal para os Pobres

A Prenda de Natal para os pobres, do Excelentíssimo Primeiro-Ministro, foi serem obrigados a pagar a taxa moderadora (para serem atendidos nos hospitais, quando antes era grátis).
O pseudo-esquerdismo deste Excelentíssimo Primeiro-Ministro, acusado em inúmeros casos de corrupção (nunca provados) e mais recentemente, de ter colocado o país numa situação espantosamente má,  consiste em considerar pobres alguns, ricos outros e privilegiados os restantes, gerando grande conflitualidade entre estas 3 classes, semelhantes às passadas clero, nobreza e povo.
Vejamos: pobres são os que ganham menos de 400 Euros, antigamente 80 contos. Ricos são os que ganham mais do que isso, mesmo que seja pouco mais. Privilegiados são os juízes, professores, etc., motivo de contestação e repúdio dos pobres e dos ricos.


Com estas atitudes e estas medidas, o nosso Excelentíssimo Primeiro-Ministro irá resolver o problema que ele próprio criou como Excelentíssimo Primeiro-Ministro, ou seja, gastar tudo o que Portugal tinha e ainda o que nunca teve. Ele mesmo tem 20 motoristas e creio que 20 automóveis topo de gama.
Mas parece haver ainda muita gente disposta a votar nele. Sobretudo os  mais pobres. Que acusam da crise os referidos ricos e privilegiados.

terça-feira, dezembro 28, 2010

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal

Para variar das críticas e lamentações, aqui vai uma crónica do Expresso, feita pelo embaixador de Inglaterra. 

Coisas que nunca deverão mudar em Portugal: http://aeiou.expresso.pt/um-bife-mal-passado=s24971 CLICAR

1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.  
 
2. O lugar central da comida na vida diária.  O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família. 
 
3. A variedade da paisagem.  Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies  do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior. 
 
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX. 
 
5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente. 
 
6. A inocência.   É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência. 
 
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista. 
 
8.  As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa. 
 
9.  A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado,  e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.       
    
10.  Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho. 
 
Então,  terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.

Ah, então é por isso...


Sociólogos dizem que portugueses receberam a crise com surpresa mas podem passar à "explosão"



Ah, agora percebo por que muitos ainda estão na fase da estupefacção! Ainda não acreditam... e por isso não percebem.
Espero que não demorem mais 48 anos a perceber!



Muito sábias palavras de António Barreto e Boaventura Sousa Santos


"Além disso, Portugal não tem tradição organizativa, considera o sociólogo, lembrando que o país viveu metade do século XX sem democracia e que, por isso, as pessoas continuam a ter medo e a viver como num regime de ditadura. "


 "Taxas elevadas de desemprego e até situações de fome ou carência podem coexistir com graus igualmente elevados de resignação"


Na minha terra, dizem que um remédio para o medo é comer crista de galo cozinhada. Quando eu era pequena, davam-me muita: as crianças têm medo...

segunda-feira, dezembro 27, 2010

A pior das idades: "Que [o mundo] não se muda já como soía"

Não vou dizer a minha idade, que já partilhei e já despartilhei, por me parecer que a maioria das pessoas não compreende nada a respeito do assunto e fica bloqueada quando se fala no tempo. É vulgar alguém ficar muito surpreendido porque outrem, que não vê há 20 anos, está 20 anos mais velho. E também é frequente alguém, quando ouve falar numa pessoa invulgar, perguntar a idade e responder, seja a idade qual for: isso é próprio das pessoas dessa idade. E assim se resolve a constante dificuldade de entender o mundo e o próximo...
Mas a minha idade é mesmo a pior, pelo menos aqui, em Portugal. Senão, vejamos.
Quando inventaram o Inter-rail, que permitia viajar de comboio a preços irrisórios, a peça "Inter-rail" era para jovens até uma determinada idade, suponhamos que era até aos18 anos. Pois eu tinha 19. 
Mais tarde, era concedido crédito aos jovens para comprarem uma casa, talvez até aos 25 anos de idade. Eu tinha 26. 
Apesar disso, apanhei todas as reformas do ensino, de tal maneira que fui das primeiras pessoas a tirar um curso de Letras sem estudar latim (e talvez mesmo grego), pelo que fui muito criticada no passado, como se tivesse culpa. (Agora já ninguém estuda latim e grego, nem parece sentir a falta dessas línguas mortas, dando-me razão ao ter eu optado por Inglês e Alemão). Mais tarde, ao chegar à Universidade, fiz o primeiro ano de um curso que imediatamente deixou de existir, pelo que tive que passar para outro, no segundo ano.
Revolução Permanente? Perguntarão os meus amigos doutras paragens...
Sim, claro: a maoista Revolução Permanente que temos tido sempre, embora sem nos apercebermos dela.


Mas as minhas atribulações, por ter nascido um ano antes ou um ano depois, ainda não terminaram nem estão quase a terminar e, na verdade, estão quase a começar.


Senão, vejamos.
Vou ser uma das primeiras pessoas a só se poderem reformar aos 65 anos, mais provavelmente 67. As pessoas um pouco mais velhas, reformam-se aos 60.
Na minha profissão, que também não digo qual é, a idade é mesmo muito relevante, pelo que serei a primeira  a experimentar a situação de ter essa idade nesta profissão. Como sempre fui atípica, não será talvez aí que me transformarei numa personagem-tipo... só acho que deve ser esquisito e difícil.
Mas há pior. Um reputado economista fez uma afirmação cabalística na televisão: que quando nós chegarmos aos 65, não vamos ter reforma, porque já não há reforma...
Ninguém percebeu muito bem o que ele quis dizer, mas eu, que estou habituada às reformas, estando sempre um ano atrás ou à frente delas...
Se e quando chegar à reforma, talvez já não haja reforma...
Ou, como dizia Camões: o mundo já não muda como mudava dantes, dito assim por ele:
"Outra mudança [o mundo] faz de mor espanto
  Que não se muda já como soía"

domingo, dezembro 26, 2010

Ciao amore, ciao





Uma canção que foi muito apreciada, a seu tempo. E a letra. Algumas palavras estão um nadinha fora do sítio... embora não pareça, é sobre a emigração.


La solita strada, bianca come il sale 
il grano da crescere, i campi da arare. 
Guardare ogni giorno 
se piove o c'e' il sole, 
per saper se domani 
si vive o si muore 
e un bel giorno dire basta e andare via. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Andare via lontano 
a cercare un altro mondo 
dire addio al cortile, 
andarsene sognando. 
E poi mille strade grigie come il fumo 
in un mondo di luci sentirsi nessuno. 
Saltare cent'anni in un giorno solo, 
dai carri dei campi 
agli aerei nel cielo. 
E non capirci niente e aver voglia di tornare da te. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Non saper fare niente in un mondo che sa tutto 
e non avere un soldo nemmeno per tornare. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao. 
Ciao amore, 
ciao amore, ciao amore ciao.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

A velha e a couve

Já me esquecia deste conto popular, pois os religiosos são sempre um pouco esquisitos. Vem a propósito do espírito Natalício.

Era uma vez uma velha muito avarenta, na minha terra diz-se "muito pirata" ou "muito somítica" e que não dava nada a ninguém, não dava uma esmola a um pobre, não fazia bem a pessoa nenhuma.
Um dia em que estava a lavar hortaliças no rio, fugiu-lhe uma couve e ela disse:
- Coibe, bai-te com Deus e que aproveites a quem te encontrar.
Pouco depois, morreu. Ao chegar ao outro mundo, foi para o Purgatório, mas São Pedro disse-lhe:
- Só uma vez na tua vida é que tu fizeste bem, que foi aquela história da couve. Mas eu vou-te dar uma oportunidade. Agarra-te à tua coibe e sobes dependurada nela para o Paraíso.
A velha assim fez, mas as outras almas que estavam no Purgatório, quando a viram a subir para o céu dependurada na couve, também se dependuraram nas pernas dela. Então, a velha começou a dar pontapés às outras almas, batendo-lhes com os pés na cabeça, fazendo-as cair.
- A coibe é minha!  À minha custa e à custa da minha coibe é que bós não habeis de subir para o Paraíso.
E com esta última maldade, acabou por ficar onde estava.
OH!
Moral da história: se dermos uma couve, nunca devemos depois dizer assim:
- A coibe é minha!


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

terça-feira, dezembro 21, 2010

Linguagem de emigrante e jogos do Facebook

Dou comigo a  a falar pelo telefone com uma amiga:
- Serias capaz de unwither os meus crops?
Bem, isto tem a ver com um jogo do Facebook. As minhas abóboras estão secas e ressequidas, mas vai lá um amigo, rega-as e elas ficam viçosas e óptimas. Como se diz isto em português? Como dizer algo que não acontece, algo seco tornar-se viçoso? Reavivar? Revitalizar? Desmurchar.
- Ok. - diz ela - E então, apanha-me um stump e um skull (tudo pronunciado como se fosse português: setumpe, sekule).


Ela quer dizer que lhe arranque uma raíz de uma árvore e que lhe apanhe um esqueleto do chão... talvez o esqueleto dum animal... como se diz isto em português?
- Apanha-me esse esqueleto!


Bem, é assim que falam normalmente os emigrantes portugueses: já não sabem, ou nunca souberam, dizer em português certas coisas e portanto, dizem-nas numa miscelânea de português e outra línguas.
Caro amigo: Sem sair de casa, sinta-se emigrante na sua terra, como se estivesse num país anglófono! Talvez lhe sirva para o futuro!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

O ABORTO


- O que pensa sobre o aborto?

- Considero-o um Péssimo 1º ministro e está a governar muito mal o país….

Frase atribuída a Alberto João Jardim (circula na net sem referência à fonte).

Porque será que sempre achei muita graça a este político?



domingo, dezembro 19, 2010

Novos pedintes


Tenho-vos contado aqui sobre os novos pedintes que há agora em Lisboa, ainda recentemente encontrei um que passava recibo, mas protestou por lhe ter dado menos de 5 Euros...
Estes, da foto, são ultramodernos. Estão de passagem por Portugal e até têm site na Internet e blogue. 
Vi-os no Jornal I. 
Instalaram-se numa rua de Lisboa, onde dormem, mudam-se para outra onde pedem, com cartazes separando as esmolas: para comida, para álcool, para charros, para drogas pesadas... as pessoas acham-nos muito sinceros e ajudam muito. Intitulam-se como lazy beggars, isto é, pedintes preguiçosos.


P.S.: Vi-os ontem em Lisboa (15 / 6 / 2012). Não tirei foto porque pensei que já tinha, mas esta não é minha.

sábado, dezembro 18, 2010

Sócrates esFeMiado

Para Sócrates, vale tudo menos vir cá o FMI.
Mas o FMI saberia o que fazer e ele não sabe.
Se as 50 medidas que agora tomou para recuperar a economia são tão importantes, porque não se lembrou delas antes?
Não é ele a pessoa certa para resolver os graves problemas que criou com a corrupção e o despesismo.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Hitler também era socialista

O Cardeal Patriarca disse à Visão que não percebe por que hão-de ser os funcionários públicos a pagar a crise.
Mas parece que toda a gente percebe: porque são os outros trabalhadores que pagam aos funcionários públicos... mas então eles não são necessários?
Este governo é perito em pôr todos contra todos, contra os "privilegiados"...
Com excepção dos casamentos gay e da legalização do aborto, nunca tivemos um governo tão à direita desde a revolução.
Um governo minoritário decide liberalizar os despedimentos e não encontra dificuldade nenhuma em fazer isso...


Hitler também era socialista. Nacional Socialista.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Links para aqui

Ainda estou para entender a razão por que este site tem ligação para os meus blogues. Se alguém entender, agradeço que me diga.
CLICAR AQUI

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Alguns são muito menos iguais que os outros


Governo quer tecto máximo nas indemnizações por despedimento



Não creio que este tecto máximo se aplique aos gestores de topo, muitos deles políticos, que saem sempre a ganhar, mesmo quando são despedidos por "suspeita" de fraude.
Vocês não acham que o palerma do nosso PM anda demasiado bem disposto?
Como aqueles criminosos sem senso moral. Com eles está sempre tudo óptimo...
Haverá ainda alguém que sinta respeito por semelhante criatura?
Só se forem os tolinhos de Almansores!!!

domingo, dezembro 12, 2010

Os de Mansores II

Prosseguem as histórias de Mansores (nome ligeirmente modificado). Chamava-se tolinhos a pessoas atrasadas em termos mentais, talvez por vários motivos, incluindo o de terem sido criadas ao Deus-dará, sem nenhuma educação ou instrução.

Uma vez, um pai e um filho de Mansores compraram sardinhas e, como gostavam muito, mas era muito raro chegarem sardinhas àquela aldeia da serra longe do mar, estavam a dizer assim:
- Ai quem nos dera ter sempre sardinhas para comer.
Passava nesta ocasião por lá o almocreve, que ouviu a conversa e disse:
- Se vocemecês me derem um chapéu [cheio de] dinheiro, eu ensino-vos uma maneira de vós  terdes sempre sardinhas para comer...
Lá lhe deram o chapéu de dinheiro e o almocreve explicou:
- É só sameá-las.
- Samear as sardinhas?
- Claro!
Então, pai e filho semearam as sardinhas que tinham e ficaram a vigiar a sementeira, para que ninguém lha roubasse.
- Vai ser a nossa sorte! Vamos ficar ricos a vender as sardinhas.
Quando as sardinhas começaram a apodrecer, começaram a aparecer alguns bichos. A certa altura, pousou um gafanhoto no peito do pai, mesmo por cima do coração. Então, o pai disse:
- Ó moço, mata-me este gafanhoto!
- E como é que eu o mato, meu pai?
- Dá-lhe um tiro.
E assim foi. O moço deu um tiro no coração do pai e matou o gafanhoto e o pai.

(Eu avisei que estes contos são  muito estúpidos, mas, por isso mesmo, deve haver para eles alguma interpretação interessante, parecem contos exemplares.)

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Os de Mansores

Publiquei neste blogue muitos contos populares, mas guardei para o fim os mais estranhos e mesmo disparatados. Eram contos que o meu avô contava à lareira, um homem que morreu muito velho e feliz, na sua cama, quando era suposto ter morrido na Flandres, na I Guerra Mundial, da qual desertou e muito bem, a meu ver.


Contava ele umas histórias estrambólicas que situava numa aldeia próxima, aldeia da serra. Embora fosse próxima, ficava num concelho rival, o que explica, em parte, o mal que dizia da gente de lá. 

Caros amigos: peçam-me que conte uma história de Mansores. E eu conto.


História de Mansores


Era de noite e estava muito calor na aldeia de Mansores  As pessoas estavam todas sentadas à porta, porque não aguentavam estar dentro de casa. Foi então que passou um almocreve e lhes disse:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve disse que a solução era tirarem o telhado de colmo das casas. E assim fizeram.
Enquanto durou o Verão viveram eles muito contentes e satisfeitos nas casas sem o telhado de colmo. O pior foi quando veio o Inverno!
Então, estavam eles cheiinhos de frio e todos molhados e passou por lá outra vez o almocreve:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve mandou-os voltar a pôr os telhados.
Eles assim fizeram e assim ficaram todos contentes dentro de casa à lareira, muito quentinhos e protegidos da chuva, por causa dos telhados.


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

domingo, dezembro 05, 2010

Poupanças do Estado

Professores vão deixar de ganhar dinheiro para corrigir exames, anulando a diferença entre os professores que se estão a bronzear na praia e os que estão a fazer um trabalho intensivo de alta responsabilidade, mas:


Clicar aqui:
Altos quadros do Estado que já acumulam ordenado e pensão não são abrangidos pela proibição dessa regalia.(...)


Nos últimos anos, andava tudo tão entretido com os professores que ninguém reparou neste descalabro das contas. E agora também são os professores que vão pagar a crise...
Porquê tanto ódio aos professores? 
Alguém traumatizado porque não conseguiu acabar um curso pelas vias normais?

Obrigado, eu! - disse a vizinha

Pegou na moda isto de dizer Obrigado, eu! a despropósito.
É um erro muito vulgar, mesmo entre pessoas que usualmente não dão erros, trocar o feminino pelo masculino nesta palavra. Muito naturalmente, as mulheres devem usar o feminino e os homens o masculino, como diriam agradecido / agradecida, que é o que a expressão significa. Nenhuma mulher diz: estou agradecido.
Pedindo outro dia a uma vizinha que me fizesse um pequeno favor, um pouco chato para ela, (aquelas questões do condomínio) quase me desatei a rir ao agradecer, pois ela respondeu-me:
- Obrigado, eu!
É verdade que estas fórmulas, pedir por favor quando não há favor a fazer, por exemplo, não têm muita lógica. Mas ainda têm alguma. Pedir por favor num tom agressivo é outra maluquice...

sábado, dezembro 04, 2010

Quando houver mais portugueses com fome ou com mais fome, talvez se consigam meter na cadeia os que nos fizeram chegar a este ponto.
(Já tivemos revoluções e guerras civis...)

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Só é sincero e bom quem for bom

"De quem é que gostas mais?
De ti, de mim, da mana ou do papá?"


Ouvi esta pergunta e suponho que a resposta seja arrepiante se for sincera. Seja ela qual fôr.
Mais provável: de mim.
Há quem diga que a sinceridade é uma coisa boa... só é sincero e bom quem for bom. E mesmo assim...
Mas a pergunta é simples

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Medonho! O que é que se Passa?

O que é que se passa?
Aparentemente, o que acontece é que, em Portugal, temos uma criatura inconcebível como primeiro ministro. Sim, é verdade, mas não é tudo. Vejamos a conjuntura europeia e mundial: estamos à beira dum "neo-fascismo", para dizer pouco. E só pensamos em nós.





Ver também aqui

terça-feira, novembro 30, 2010

A crise desperta a criatividade II



Só tirei fotos de coisas grandes e chamativas, mas havia algumas muito bonitas e pequenas...
Esta obra de arte tem, no mínimo, a vantagem de ser fácil de entender.
Sobretudo se lermos o título, naquele papelinho branco ao lado: "Portugal e Orçamento de Estado" Catarina Pestana 2010 190X80X80 cm. Técnica Mista.
Descrevendo: num pequeno espaço vêem-se muitos passarinhos pequenos, num espaço maior vêem-se poucos maiores e num espaço muitíssimo maior vêem-se três grandes.
O que é que isto tem a ver com o orçamento de Estado para 2010? Não creio que seja a alegria que era o canto de tanta passarada junta... a menos que não tenha entendido.
Também não entendi o simbolismo da gaiola dourada.

domingo, novembro 28, 2010

A crise desperta a criatividade



 
Esta obra e uma outra da artista chamam muito a atenção. Muito simpática, deixou-me tirar as fotos e aqui vão.
Como se vê ampliando, chama-se Mariana Gillot e a peça "Crise sobre rodas".
Realmente esta crise cheira a ouro e a dinheiro. A obra custa 30 000 Euros e anda, mas não pode andar...


Mais obras da artista, AQUI
Olá Estelita. Obrigada por ser minha seguidora deste blogue. Já agora, gostava de saber porquê.

sábado, novembro 27, 2010

Feira de Arte de Lisboa




Fui ao Parque das Nações por pensar que era lá a Feira de Arte de Lisboa, mas bati com o nariz na porta.
Como boa surpresa, era na antiga FIL, mais pequenina e aconchegada, onde me sinto em casa.
Estava bonita, a meu ver, não tão boa como a do ano passado, mas também ouvia  opinião de que estava melhor.




sexta-feira, novembro 26, 2010

Revista Triplov

A Revista Triplov publicou online duas das minhas peças de teatro.
Espero que se riam com  a comédia O Alarme
VER AQUI
e procurar por ordem alfabética no G. Não é no N de Nadinha.
Leiam também os outros artigos da Revista.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Situação em Portugal vista da Rússia

Já tinha lido isto em Inglês, agora enviaram-me a tradução: é uma reportagem do Pravda (Jornal Russo) sobre a situação política em Portugal.
LINK EM INGLÊS AQUI


Tradução
Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal, pelo
Governo "liberal" de José Sócrates. Mais um caso de um outro governo
de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um
apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora,
historicamente deslizando cada vez mais para o atoleiro da miséria.

E não é, assim, porque eles são portugueses.

Vá o leitor ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores
socioeconómicos, e vai descobrir que doze por cento da população é
portuguesa, oriunda de um povo que construiu um império que se
estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde
Ceuta, na costa atlântica, contornando a costa africana até ao Cabo da
Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar
Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E
foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão..e à Austrália.

Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda
dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA,
mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório
por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto
com o mundo real, um esteio na classe política elitista Português no
Partido Social Democrata (PSD) e Partido Socialista (PS), gangorras de
má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.

O objectivo? Para reduzir o défice. Porquê?

Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?

Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia se deixou
sugar, é aquele em que as agências de Ratings, Fitch, Moody's e
Standard and Poor's, baseadas nos Estados Unidos da América (onde
havia de ser?) virtual e fisicamente, controlam as políticas fiscais,
económicas e sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da
atribuição das notações de crédito.

Com amigos como estes organismos e ainda Bruxelas, quem precisa de inimigos?

Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado
por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois
das suas tropas invadiram o seu território três vezes em setenta anos,
tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma
astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de
Hitler. A França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados
para a sua indústria.

E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos pelos
motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores"
(estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de que país
eles vêm? Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são os
Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.

Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD
(Partido Social Democrata da direita) e PS (Socialista, do centro),
têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos
portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo a sua agricultura
(agricultores portugueses são pagos para não produzir!!) e a sua
indústria (desapareceu!!) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas
lusas!!), a troco de quê?

O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total
de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza numa base
sustentável?

Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante
uma década, entre 1985 e 1995, anos em que despejaram bilhões de euros
através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do
desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores
políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é
considerado "sério" e "honesto" (em terra de cegos, quem vê é rei),
como se isso fosse um motivo para eleger um líder (que só em Portugal,
é!!) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um
bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do
défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.

A sua "política de betão" foi bem concebida, mas como sempre, mal
planeada, o resultado de uma inapta, descoordenada e, às vezes
inexistente localização no modelo governativo do departamento do
Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses
investidos que sugam o país e seu povo.

Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção
de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o
transporte interno e fomentando a construção de parques industriais
nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que
assentava no litoral.

O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para
fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques
industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas,
em muitos casos já fecharam.

Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE
vaporizou-se em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados
Ferraris. Foram encomendados Lamborghini, Maserati. Foram organizadas
caçadas de javalí em Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O
Governo e Aníbal Silva ficaram a observar, no seu primeiro mandato,
enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal
Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controle
e a participarem.

Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio
partido político.

E ele é um dos melhores?

Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António
Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um
candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro
em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo excelente
diplomata, mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora
Presidente da Comissão da EU, "Eu vou ser primeiro-ministro, só que
não sei quando") que criou mais problemas com o seu discurso do que
com os que resolveu, passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD),
que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu
a armadilha. Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro
do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e
tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente
asfixiado pelos interesses instalados.

Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este
primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para
enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise
mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo
foram buscar três triliões de dólares (???) de um dia para o outro
para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada
foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou
projetos de educação).

E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria,
demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus
ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que
obviamente serão contra-producentes.

O Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser
reduzidos. Aqui estão os resultados:

Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%).

Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor
para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%)

Concordo com o sacrifício (1%)

Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reação imediata será
que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer
reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal, 10
milhões, afetará a criação de postos de trabalho, implicando a
obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a
economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua) recessão.

Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O
idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem os
resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar!!

É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de rating,
que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à
custa, como sempre, do povo português.

Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de
um retorno do Governo de Portugal para o PSD, enquanto os partidos de
esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não
conseguem convencer o eleitorado com as suas ideias e propostas.

Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de
punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os
interesses de Portugal para o ralo, pediu sacrifícios ao longo de
décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais
castigos.

Esses traidores estão a levar cada vez mais portugueses a questionarem
se não deveriam ter sido assimilados há séculos pela Espanha.

Que convidativo, o ditado português "Quem não está bem, que se mude".
Certos, bem longe de Portugal, como todos os que podem estão a fazer.
Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que comentário
lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico e uma classe
política abominável

Timothy Bancroft-Hinchey

Pravda.Ru