segunda-feira, julho 02, 2012

"Coração de vidro cortei-me num sonho como um diamante"

- Gostaria de ajudar as crianças com cancro?
- Não gostaria de ajudara as crianças orfãs?
- Gostaria de ajudar os portugueses / africanos / chineses / que passam fome?

A resposta  a estas perguntas, neste momento, diferentemente do que era há meses, só pode ser:
- Não!
- Não?!

Aqui em Lisboa, fazem esta pergunta vinte vezes por dia, a quem passe em certos locais várias vezes, para além de nos assediarem de outros modos, ainda mais originais:
- Posso cumprimentá-la de mão? - Perguntam-nos, estendendo a mão, com um enorme sorriso. É para nos proporem um cartão de crédito que todo o mundo já tem.
Vem-nos logo à ideia: nunca se nega um aperto de mão (bem, a não ser num caso de grave ofensa).
E a única conclusão, sempre, parece ser:
- Esqueçamos tudo o que aprendemos até agora!
-Não!
- Mas eu só quero apertar-lhe a mão!

Mesmo que acabasse por ceder, vou voltar a passar no mesmo lugar ainda umas 3 vezes na próxima meia hora e ele vai perguntar-me sempre a mesma coisa, de mão estendida.

E o nosso coração fica cada dia mais duro. E o nosso relacionamento com os outros cada vez mais gelado.


A resposta não às primeiras perguntas deste post não é a resposta certa, mas sim: 
- Gostaria de ajudar, mas já ajudei e, além disso, não tenho tempo agora para parar e ouvir o seu arrazoado, até porque já hoje me perguntaram isso 5 vezes. Resumindo:
-NÃÃÃOOOOO!!!

P.S.: O título deste post é um verso de Natália Correia do poema Núpcias Químicas  (Clicar por cima) "Coração de vidro cortei-me num sonho como um diamante"

Sem comentários: