terça-feira, janeiro 01, 2013

Faço hoje 7 anos - Diz, gabando-se, o blogue Terra Imunda






Fotos: Povinho


Faz hoje sete anos o blogue Terra Imunda, pois constituiu uma maneira auspiciosa de começar o ano de 2006. A maioria dos blogues dura três meses por falta de assunto, este continua e, até agora, tem corrido bem.

Foi considerada a hipótese de mudar o nome, pela carga de crítica social que este apresenta, embora esta expressão também apareça muito na Bíblia, o que não se sabia na ocasião. Vai manter o nome, porque a sociedade em que vivemos cada vez precisa mais de quem a  critique, no geral e no particular, sem medo.

A corrupção política e económica em Portugal é um facto por demais conhecido, a sua permanência é algo que poderíamos considerar uma ditadura fraudulenta, mas também resulta da passividade do povo.

Não só da passividade, mas da cumplicidade de muitos e da ingenuidade de muitos mais, talvez a maioria.

Vemos pessoas que faltam ao trabalho com falsos atestados médicos: quando regressam, um pouco mais bronzeadas e muito felizes, toda a gente tem pena delas, tão doentinhas que são, e toda a gente as admira porque, apesar das graves doenças de que são vítimas, são pessoas que andam sempre alegres e bem dispostas. Ai de quem levantar a mais vaga suspeita sobre a autenticidade da doença: coitadinhos! Bronzeados? Foi do tratamento.

Todos sabemos que muitos trabalhadores e talvez a maior parte dos pequenos empreiteiros que fazem consertos nas casas, não pagam impostos. E até concordamos quando nos perguntam se queremos fatura, pois nesse caso é mais caro. Consultas médicas caras? É mais barato sem fatura. Pagamos menos sem fatura ou mais com fatura e nem nos passa pela cabeça protestar. Em parte por pensarmos que não vale a pena. 

Claro que não vale a pena: enquanto uns tiverem uma lata descomunal e outros uma complacência descomunal, chamando "mazinhas" às pessoas que nem são corruptas nem parvas, realmente não vale a pena.

Tudo isto começa na escola: a camaradagem exige não denunciar o colega que copia. Nem o que se porta mal. Mesmo que os que estudam, se portam bem e não copiam tenham de mudar de escola, pois não conseguem concentrar-se ou têm notas piores. - "Mas copiar é bom, a copiar aprende-se"- diz todos o mundo. - E é bom ser rebelde! - (Entendendo rebeldia como falta de educação e preguiça).

Caros conterrâneos: continuemos assim, em direção ao abismo. É de boa camaradagem não denunciar nada nem ninguém e ficarmos cada vez mais pobres enquanto os não denunciados cada vez enriquecem mais, numa sociedade em que os culpados são os que não concordam. 

Termino com mais uma citação do pobre Frenando Pessoa, ele que tanto sofreu com tudo isto. Diz que Portugal é um país (ou era, no seu tempo) sem "rei nem lei". Já dizia, nesse tempo que "é a hora" de agir e de mudar, mas, até agora, ainda não foi. Nem mudou.

Vejamos:

"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora! "

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