sexta-feira, março 30, 2018

Feliz Páscoa



A Nadinha e o Blogue Terra e Mundo (o título original, que se vê no URL, chocava algumas pessoas) desejam, aos seus leitores e seguidores, uma Páscoa Feliz, com felizes navegações..

Navegar por novas impressões, que recordam vagamente as sensações da infância...
Amêndoas, cabrito, jejum, missa pascal, visita pascal, compasso...

Recordação dos canto de muitos pássaros, ninhos, voos, enfim, a primavera em flor e em pássaros...
(Aqui, no hemisfério norte)
Nem sempre com um clima igualmente amável, às vezes mais frio, mais chuva, outras vezes a delícia de novos prazeres que se sentem no corpo. Mas sempre em festa!

(Imagem retirada da net de Ovo de Fabergé)

quinta-feira, março 29, 2018

Os descobridores que não descobriram nada. E os outros


Amerigo Vespucci não descobriu a América, mas é por causa dele que a America se chama assim. Ele apenas escreveu umas cartas em que descrevia o novo mundo, gabando-se muito de ter liderado as expedições de descoberta, tendo apenas navegado como subalterno em navios portugueses e espanhóis. Como na altura acreditaram que tinha descoberto um continente novo, chamaram a essa terra América! Vejam bem o poder da escrita! As cartas foram publicadas como livro e divulgadas pela Europa.

Abel Tasman não descobriu a Nova Zelândia, nem a Austrália, foi o Capitão Cook (
muito desconhecido dos portugueses) que as descobriu, de acordo com a versão oficial da História, ou então foram os portugueses (mais provavelmente). Mas Tasman ficou com fama de ter descoberto a Nova Zelândia e deu o nome à ilha da ...Tasmânia! Que parece um nome tão exótico!!!

Há um facto novo: "os espanhóis" publicaram um livro, que distribuíram gratuitamente entre os estudantes da Nova Zelândia.
O autor é neozelandês e defende que foram os portugueses os primeiros a chegar lá, logo seguidos do espanhóis. 
Apesar de terem chegado, alegadamente, em segundo lugar, os espanhóis chegaram primeiro agora, com o livro e com as notícias de jornal, que, com uma ligeira distorção da narrativa histórica, os coloca a chegar primeiro. E nós, portugueses, feitos bobos da corte, muito calados e sossegados!

É preciso que se note este detalhe, que leva os australianos e demais povos a não gostarem de terem sido descobertos pelo ingleses e quejandos (segundo, ainda, aversão oficial) : a Austrália começou como colónia penal para desterro de  criminosos ingleses, o que não é motivo de orgulho para os autóctones. Como se vê aqui:


 VER aqui, artigo de opinião do DN, sobre este assunto recente do livro espanhol:

Sempre nos Antípodas 

PS.: Quando, há dois anos, em Roma, procurei as cartas de Ameigo Vespucci, não as encontrei por não estarem publicadas, o que é surpreendente. 



Olhe, eu tenho um livro, mas é um livro de receitas de cozinha...


-

- Olhe, explique-me como é que eu faço para levar um livro destes.
- Traga um dos seus e leve um destes
- Pode ser um qualquer?
- Sim.
- Sabe, eu tenho um livro.
- Ai tem?
- Tenho, tenho. Mas é um livro de receitas de cozinha.
- Ai sim?
- Sim, sim. Acha que serve para eu trazer?
- Serve.
- E eu posso trazer um livro de receitas de cozinha e levar um desses?
- Pode. Muita gente gosta de livros de culinária. Mas também pode não trazer nenhum. Leva um destes e depois devolve.
- E se eu levar livros e não trouxer nenhum?
- Pode levar vários livros e não trazer nenhum. Mas se todo fizerem assim, isto deixa de ter livros.
- Ah1 e quem é que controla isto?
- Ninguém controla.
- Então adeus. Eu vou pensar!


Oh, quem me dera ter em casa apenas um livro. E que fosse um livro de receitas de cozinha.

Bem, de cada vez que vou a esta cabine e vou muitas vezes, encontro sempre livros novos interessantes. Inesperados e invulgares.

sexta-feira, março 16, 2018

Estamos a precisar de um Eça de Queirós, um daqueles muito chatos!

Se Eça de Queirós exagerou na critica à sociedade portuguesa, elogiando sempre muitíssimo, por contraste, qualquer criatura ou qualquer evento inglês, nem mesmo esse escritor teria sido capaz de inventar histórias como esta.

Enquanto uns portugueses dão do pouco que têm para ajudar as vítimas dos incêndios, outros, não poucos, tentam aproveitar-se da tragédia para ganharem um dinheirinho.

Como a minha mãe dizia, são o Xico Lamúrias. O Xico Lamúrias fica sempre a ganhar sobre os estóicos...
Não ter dizer que não aconteça noutros países, mas se calhar há penas mais pesadas em alguns para quem se arma em mártir, nestes casos.

Ver esta notícia

"Segundo fonte do ministério, na maioria dos casos, estão em causa as candidaturas para quem sofreu prejuízos entre os mil e os cinco mil euros. Uma das situações mais comuns detectadas, por exemplo, foi a apresentação da mesma candidatura, para o mesmo terreno, por diferentes titulares e/ou a diferentes medidas.
Além disso, houve também quem declarasse danos em construções que já se encontravam abandonadas ou em ruínas antes da ocorrência dos incêndios e que registrasse danos superiores aos realmente sofridos."

Chatos, neste caso, não por ser maçador, que não é nada, mas por ser excessivo na crítica.


domingo, março 11, 2018

Côco é bom, mas, bem...



Na lojinha de nepaleses onde o comprei, garantiram-me que era mesmo muito fácil abrir este coco, a delicada senhora nepalesa e o reformado veterano português da Guiné que costuma estar lá, sentado na cadeira de alto espaldar reservada aos clientes que queiram conversar. Era dar-lhe com uma grande faca, como esta que já ia para o lixo. Com uma machadinha, que não tenho. Bater com ele numa esquina, etc. Já estraguei várias coisas, já quase espatifei vários azulejos, já quebrei várias esquinas, mas o côco continua assim 🙂 Oh!
- Era só apanhar uma pedra do chão e bater-lhe com ela. Quando estávamos na Guiné - diz o veterano.
- Bater-lhe com a pedra, pois, mas... em cima de quê?
- No chão.
- No chão de quê?



Depois de fazer um golpe na mão, de praticamente ter escaqueirado vários azulejos, de ter estragado a pintura de várias esquinas da casa e de ter amolgado mesmo o alumínio da banca, eis o côco, partido e aberto.
Ficou caríssimo!!!
Mas como é que se come isto? À dentada?

quinta-feira, março 08, 2018

Dia da Mulher e Natália Correia



No dia internacional da mulher, recordo pessoalmente Natália Correia, que conheci com esta aparência, já no fim dos seus dias. Casada 4 vezes com homens (o 4º marido julgava ser o terceiro), era vulgar dizerem que era lésbica, que não gostava de homens, porque considerava as mulheres superiores aos homens. 

Ciao, Natália!

"Acho que a missão da mulher é assombrar, espantar. Se a mulher não espanta... De resto, não é só a mulher, todos os seres humanos têm que deslumbrar os seus semelhantes para serem um acontecimento. Temos que ser um acontecimento uns para os outros. Então a pessoa tem que fazer o possível para deslumbrar o seu semelhante, para que a vida seja um motivo de deslumbramento. Se chama a isso sedução, cumpri aquilo que me era forçoso fazer. 

Natália Correia, in Entrevista '(1983)' "

Dia Internacional da Mulher: recordar e esquecer



No dia Internacional da Mulher, 8 de março, recordar as que nos precederam na luta pelos direitos, como estas duas senhoras que reclamavam o direito ao voto, esquecer que houve um tempo em que as mulheres nem se queixavam, ou em que erra necessário queixarem-se de pequenas coisas como esta.

Ou de pequenas coisas como terem o direito de não serem vítimas de violência, doméstica ou outra. 

Quando esquecermos porque nos parece impossível ter havido tempos tão atrasados...

quarta-feira, março 07, 2018

O que é que se passa em Itália?



Não sei. Mas este artigo de opinião do Jornal Público esclarece alguma coisa, parecendo compreender Itália, que adoro.

Vejam AQUI

Itália: museu ou laboratório?

Citando:


"Olvida-se, porém, que a Itália não é só museu, é outrossim laboratório. Foi experimento bem cedo na emergência das propriedades do Estado moderno nas suas múltiplas “repúblicas” (e aí está o Príncipe de Maquiavel para o atestar). Mas também e seguramente na difusão do nacionalismo e na aspiração da unificação: quem se esqueceu do papel de Mazzini? Foi assim com o advento das ideias fascistas e de Mussolini no início do século XX. Assim foi com o lugar único e irrepetível do Partido Comunista italiano nos quarenta anos do pós-guerra. E nem a lógica de actuação das Brigadas Vermelhas e dos seus antagonistas deixou de estar com o ar do tempo. Pensando no fenómeno Trump, basta evocar o triângulo “empresa-comunicação-política” armado por Berlusconi.

Que fique claro: na inovação política, a Itália não pede meças a ninguém. A condescendência dos congéneres europeus não tem sentido algum: poucos países dispõem de um ambiente cultural e académico tão rico e informado, com um debate tão completo e complexo. É algo que não transparece para a esfera pública e se ignora fartamente, mas atesta a sentença de Galileu: eppur se muove. Não pode, por isso, espantar que, para o bem e para o mal, a Itália tome a dianteira em algumas experiências."

sexta-feira, março 02, 2018

Pobres dos pobres

Eu sempre o soube e sempre o disse, mas a sociedade portuguesa anda a dormir: as pessoas carenciadas, seja económica, psicológica ou socialmente, não têm qualquer poder de reivindicação para exigirem os seus direitos. A honestidade é mais consistente quando se tem medo das consequências.

Descobre-se agora tanta desonestidade nas organizações de "caridade", encoberta até agora pela massa acrítica do povo português
Caridade, sobretudo, para os chefes das organizações... que são os mais beneficiados.
E ficamos muito tristes ao lermos, nas notícias, os nomes, aparentemente ingénuos das organizações: o Sonho, a Joaninha os Pirilampos...

Ver aqui, por exemplo

Não é só a gestão da 'O Sonho' que está sob suspeita. Também as IPSS 'Os “Pirilampos' e 'A Joaninha' estão a ser investigadas


Recordando outra vez Guerra Junqueiro e a romântica miséria


OS POBREZINHOS

Pobres de pobres são pobrezinhos,
Almas sem lares, aves sem ninho...

Passam em bandos, em alcateias,
Pelas herdades, pelas aldeias.

É em Novembro, rugem procelas...
Deus nos acuda, nos livre delas!

Vêm por desertos, por estevais,
Mantas aos ombros, grandes bornais.

Como farrapos, coisas sombrias,
Trapos levados nas ventanias...

Filhos de Cristo, filhos de Adão,
Buscam no mundo côdeas de pão!

Há-os ceguinhos, em treva densa,
D’olhos fechados desde nascença

Há-os com f’ridas esburacadas,
Roxas de lírios, já gangrenadas.

Uns de voz rouca, grandes bordões,
Quem sabe lá se serão ladrões!...

Outros humildes, riso magoado,
Lembram Jesus que ande disfarçado...

Enjeitadinhos, rotos, sem pão,
Tremem maleitas d’olhos no chão...

Campos e vinhas!... hortas com flores!...
Ai, que ditosos os lavradores!

Olha, fumegam tectos e lares...
Fumo tão lindo!... branco nos ares!...

Batem às portas, erguem-se as mães,
Choram meninos, ladram os cães...

Rezam e cantam, levam a esmola,
Vinho no bucho, pão na sacola.

Fruto da horta, caldo ou toucinho,
Dão sempre os pobres a um pobrezinho.

Um que tem chagas, velho coitado,
Quer ligaduras ou mel-rosado.

Outro, promessa feita a Maria,
Deitam-lhe azeite na almotolia.

Pelos alpendres, pelos currais,
Dormem deitados como animais.

Em caravanas, em alcateias,
Vão por herdades, vão por aldeias...

Sabem cantigas, oraçõezinhas,
Contos d’estrelas, rei e rainhas....

Choram cantando, penam rezando,
Ai, só a morte sabe até quando!

Mas no outro mundo Deus lhes prepara
Leito o mais alvo, ceia a mais rara...

Os pés doridos lhos lavarão
Santos e santas, com devoção!

Para lavá-los perfumaria
Em gomil d’ouro, d’ouro a bacia,

E embalsamados, transfigurados,
Túnicas brancas, como em noivados,

Viverão sempre na eterna luz
Pobres benditos, amem, Jesus!...


In "Os Simples"

Guerra Junqueiro
1850 – 1923

Oh, Como era bela, a miséria!







Hoje em dia, já não há jumentinhas, muito menos moleirinhas. Tanto que, o corretor ortográfico nem considera que existam essas duas palavras.
Felizmente, nos países europeus nossos conhecidos, já nem existe miséria, no verdadeiro sentido da palavra. Não há velhinhas muito velhas a arrastarem-se pelas estradas e caminhos da terra. O que nos leva a estarmo-nos nas tintas para os outros continentes.

A não ser quando visitamos países remotos: que giras aquelas aldeias de palha sobre rios e lagos, com um gentinha a comer peixes quando os há... ou no cume das serras, casas tão pequeninas e tão giras!

Que giro!


A Moleirinha 


Pela estrada plana, toc, toc, toc, 
Guia o jumentinho uma velhinha errante 
Como vão ligeiros, ambos a reboque, 
Antes que anoiteça, toc, toc, toc 
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!... 

Toc, toc, a velha vai para o moinho, 
Tem oitenta anos, bem bonito rol!... 
E contudo alegre como um passarinho, 
Toc, toc, e fresca como o branco linho, 
De manhã nas relvas a corar ao sol. 

Vai sem cabeçada, em liberdade franca, 
O jerico ruço duma linda cor; 
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca, 
Tange-o, toc, toc, moleirinha branca 
Com o galho verde duma giesta em flor. 

Vendo esta velhita, encarquilhada e benta, 
Toc, toc, toc, que recordação! 
Minha avó ceguinha se me representa... 
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta, 
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!... 

Toc, toc, toc, lindo burriquito, 
Para as minhas filhas quem mo dera a mim! 
Nada mais gracioso, nada mais bonito! 
Quando a virgem pura foi para o Egipto, 
Com certeza ia num burrico assim. 

Toc, toc, é tarde, moleirinha santa! 
Nascem as estrelas, vivas, em cardume... 
Toc, toc, toc, e quando o galo canta, 
Logo a moleirinha, toc, se levanta, 
Pra vestir os netos, pra acender o lume... 

Toc, toc, toc, como se espaneja, 
Lindo o jumentinho pela estrada chã! 
Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo seja, 
Dá-me até vontade de o levar à igreja, 
Baptizar-lhe a alma, prà fazer cristã! 

Toc, toc, toc, e a moleirinha antiga, 
Toda, toda branca, vai numa frescata... 
Foi enfarinhada, sorridente amiga, 
Pela mó da azenha com farinha triga, 
Pelos anjos loiros com luar de prata! 

Toc, toc, como o burriquito avança! 
Que prazer d'outrora para os olhos meus! 
Minha avó contou-me quando fui criança, 
Que era assim tal qual a jumentinha mansa 
Que adorou nas palhas o menino Deus... 

Toc, toc, é noite... ouvem-se ao longe os sinos, 
Moleirinha branca, branca de luar!... 
Toc, toc, e os astros abrem diamantinos, 
Como estremunhados querubins divinos, 
Os olhitos meigos para a ver passar... 

Toc, toc, e vendo sideral tesoiro, 
Entre os milhões d'astros o luar sem véu, 
O burrico pensa: Quanto milho loiro! 
Quem será que mói estas farinhas d'oiro 
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!


Guerra Junqueiro
 (1850 - 1923) 
(Do livro de leitura da 4ª classe de 1951)


Este vídeo tem alguma graça...