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domingo, novembro 06, 2011

"Retalhos da Vida de" uma Setôra I

Uma amiga minha é professora, como vocês sabem, e conta-me às vezes algumas histórias, incluindo esta, de quando trabalhou no Algarve. Vou iniciar a série "Retalhos da Vida de" uma Setôra, que inclui episódios já narrados, neste blogue, mas com link para eles.. 

Eu tinha uma turma do ensino secundário, com opção de Desporto. Quase todos os alunos eram jogadores da Torralta, ganhavam bem, viviam em grupo, às 6 da manhã já andavam a correr e a saltar, às 8 e meia estavam na minha aula cheios de speed, enquanto eu morria de sono da noitada da véspera...
A Torralta obrigava-os a estudar, mas não a ter resultados. Podiam chumbar todos os anos, que tudo bem.

Havia duas raparigas na turma, muito aplicadas e sossegadas, que não tinham nada a ver com os outros e um moço pouco atlético, mas filho de uma advogada e política local, o pior de todos e que me ameaçava com a mãe e com as leis da mãe. As raparigas estavam à frente e eu tentava dar aulas para elas as duas, enquanto os outros se riam, se divertiam, etc...

Tudo corria horrendamente mal, até que eu tive uma queda de tensão e de glicémia, o que me acontece muito. Fiquei pálida, com os olhos descentrados, sentei-me.
- O que é que a setôra tem?
Pela primeira vez, ficaram todos calados a olhar para mim. Disse-lhes que não era grave. Mas que eu poderia desmaiar. 
- Bem, se eu desmaiar, não se assustem, estas duas meninas (as tais) ficam aqui, uma de cada lado da minha cadeira, para não me deixarem cair ao chão. Alguém que me vá buscar um café com muito açúcar. E deixem-me em paz, não chateiem. Daí a pouco, fico bem.

Saíram quase todos, as doces mocinhas ficaram ao meu lado, simpáticas e atentas. Não tardou muito, regressaram todos os rapazes. Cada um deles trazia um café quase compacto de tantas carradas de açúcar que lhe tinham deitado. Colocavam o café em cima da mesa e sentavam-se no seu lugar, a olhar para mim, muito atentos, com uma expressão muito preocupada. Como não aguentei aquela atenção inusitada, pedi-lhes que me levassem para a pastelaria mais próxima, onde todos me chamavam a "doutora do Cimbalino". Cimbalino era o termo que se usava no Norte do país (Portugal) para designar o café expresso, a máquina tinha a marca italiana La Cimbali. E ali fiquei até à aula seguinte, que fui dar. Nunca faltei a uma aula sem um forte motivo.

Um motivo muito forte, nessa época, foi que me sentia sozinha, desadaptada e esquisita. No Carnaval, meti um atestado quinta e sexta feira, para o ir passar ao Porto. Ou talvez mesmo à minha terra, não me lembro bem. Creio que já contei neste blogue a aventura do atestado, passado por um médico que nunca cheguei a ver e pela sua simpática esposa. Chamado Liberto Espinha. Deve estar neste blogue, mas não está indexado, como quase todos os primeiros posts.

Cenas dos próximos capítulos: "Os aluno miam..."

terça-feira, abril 20, 2010

A Vera Intelijumência

Uma professora de português que conheço muito bem... contou-me esta história, a mim, Nadinha. E falou assim.
Tive, há uns anos, uma turma péssima de 10º ano. Muitos alunos tinham notas a português entre dois e cinco valores e quase todos tinham estas notas a matemática. No meio disto tudo, havia a Vera, uma aluna que, quando todos tinham negativa e ela tinha 17, tentava tirar 18 ou 19, tendo acabado o 12º com vintes.

No fim do ano, alguns dos piores alunos resolveram assistir às aulas de apoio que eu podia dar, gratuitamente, se tivesse "fregueses" e, a partir daí, portaram-se muito pior nas aulas, dizendo que, como iam ao apoio, já não precisavam de se esforçar mais.
Um dia, fizeram-me queixa da Vera:
- Ela tem a mania de imitar uma mula nas aulas e os professores nem desconfiam dela e ralham connosco. É claro que nós não fazemos queixa...
Perguntei-lhes várias vezes por que razão não faziam queixa e eles deram sempre boas razões, bondosas e muito solidárias, sem aparentemente se darem conta de que, ao contarem-me a mim, estavam a fazer queixa...
- Mas eu nunca ouvi esse ruído da mula. - Respondi, tentando disfarçar a vontade de rir.
- Ela nas suas aulas não imita uma mula porque gosta muito de si e está sempre a falar de si e a dizer isso.
- Mas o que é isso de imitar a mula?
- Zurra.
- Ah! Zurra?! Mas isso não é imitar um burro? - Perguntei.
- Sim, também pode ser...
- Eu já reparei que ela fica muito aborrecida quando vocês dizem asneiras ou exprimem ideias parvas, racistas, por exemplo. Não será nessa altura que ela "imita a mula"?
- Sim, talvez...
- E vocês não percebem que ela vos está a chamar burros?
- Ah! Pois é! Pode ser... Havemos de reparar quando é que ela faz isso... - iam dizendo eles entre si, muito consternados.

Eu tinha muita pena desta rapariga, caída no meio daquela cambada de ignorantes e parvos, muito enfadada, mas ela não se deixava influenciar nada por ninguém, nunca. E divertia-se à sua maneira. Um dia, no fim do ano, uma colega pediu-lhe que lhe fizesse um trabalho para me apresentar, a ver se não reprovava.
O trabalho estava invulgarmente bem redigido, mas aparecia nele várias vezes a palavra vera, com o sentido de verdadeira, autêntica, etc... a amiga também não reparou nesta assinatura... e eu não podia afirmar que fosse uma assinatura, nem tinha provas de que o trabalho não tinha sido feito por ela... de facto, o único defeito do texto era a repetição excessiva desta palavra.

Vou pedir à Vera que leia isto, a ver se é vero, pois nunca lhe contei esta "não-queixa" que os colegas me fizeram e também tive o cuidado de não a contar aos outros professores da rapariga, a não ser depois de as aulas acabarem.

Há quem chame a isto, e vem a propósito o termo: intelijumência (palavra aglutinada e derivada de jumento).
Pensando melhor, as mulas não zurram, acho eu.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Cunhas?!

Cunhas?!
Que grande novidade o haver cunhas em Portugal, ou mesmo serem elas quase o essencial do sistema português!!!!!!!!!!!
Vivi uns anos no Algarve. Conheci lá uma senhora extremamente simpática. À boa maneira portuguesa, convivia com ela e ela e eu com todo o mundo no café que frequentávamos. Como diz José Gil, os portugueses não convivem a não ser em famíla ou indo a sítios onde encontram os outros "por acaso". Encontrávamo-nos todos por acaso no café onde íamos todos todos os dias.
A senhora dizia que tinha sido rica e que tinha dado muitas coisas aos "amigos" (mais uma vez se dá razão a José Gil, livro: " Portugal Hoje, o Medo de Existir" já referido num destes blogues). Quando ficou pobre, entre aspas, ninguém lhe deu nada, dizia ela e acrescentava o exemplo: tinha dado uma cadeira linda e cara, uma antiguidade, a uma "amiga". Quando ficou pobre pediu-lha de volta mas a amiga recusou-se a devolvê-la.

Contava outra coisa, confirmada por várias pessoas com quem eu convivia nessa época e que me despertavam credibilidade. Era esta pérola:

Um dia num café, uma professora dessa pequena cidade do Algarve estava com os azeites e disse:
- Oh quem me dera ter um emprego porreiro, andar de terra em terra, viajar, não ter que aturar alunos.
A dita senhora, que tinha uma irmã a trabalhar no Ministério da Educação e que oferecia cunhas a todos os professores, com a mesma prodigalidade com que ofereceu a cadeira antiga à amiga:
- Se quiser alguma coisa, é só dizer-me, que eu peço à minha irmã e ela faz-me tudo o que eu lhe peço!
Dizia eu, a dita senhora, ao ouvir a professora aborrecida e frustrada, logo telefonou à irmã, que imediatamente criou um cargo assim: viajar de um lado para o outro, cirandar sobretudo pelo Algarve e ir às vezes a Lisboa, cargo este a ser desempenhado por uma professora algarvia da cidade de X.

Adivinhem o resto! Não, pensando bem, não conseguem, não têm imaginação para tanto, pois o resto é assim:

A rapariga, que tinha dito aquilo num momento de fraqueza e de fantasia, realmente desejava aquele emprego, mas não o queria, preferia uma coisa mais cómoda, ficar sempre no mesmo sítio... e portanto recusou.
Foi-me dito por várias pessoas que a dita senhora andava pelos cafés (recordar o que foi dito sobre José Gil) a pedir aos professores que encontrava que ficassem com aquele emprego, porque a irmã tinha-o criado de propósito para alguém daquela terra, alguém jovem, professor, ou professora de preferência e agora não sabia o que fazer a semelhante cargo, visto que ninguém o queria!

sexta-feira, julho 21, 2006

Shiatsu III

- Ó filha, eu acho uma seca estarmos aqui a empecer e a falar dessa coisa…
- Ó filho, a gente está à espera das raparigas das Amoreiras…
- Bem, nem queiras saber, o Mem e a mulher andam por aí a dizer, eu nem digo.
-Ele só me aleijou porque era o fogo amigo.
- Mas ele agora parece que é o ministro da Educação…?
- Quem? O Mem?
- Não, a mulher.
- Porra!!!?