sexta-feira, setembro 13, 2013

Só se vão salvar 144 000 viventes



(Imagens: o Inferno de Dante, por Botticelli)


Fala-se muito, de momento, do novo livro de Dan Brown, intitulado Inferno. E também do Inferno.
Parece que o Inferno "que conhecemos" se baseia na efabulação que dele fez de Dante, na sua obra poética e narrativa A Divina Comédia e nas imagens artísticas visuais que se lhe seguiram, baseadas também, quase todas, na Divina Comédia.


Hoje, tendo apanhado um táxi para tratar de um assunto urgente que afinal não era nada urgente, começo a levar uma lição bíblica em grande estilo. O taxista falava bem e sabia de cor e sem falhas inúmeras passagens bíblicas, o que sempre me encanta.


Perguntei-lhe o que achavam as Testemunhas de Jeová do Inferno. A resposta custou-me muitos Euros e muitos minutos, pois o homem foi conduzindo a passo de caracol, na intenção desenvolver a conversa.

- Platão, um filósofo grego, sabe a menina, inventou essa teoria de que a alma é imortal e o Diabo encarregou-se de a divulgar.
- Então a alma não é imortal? - pergunto eu.
- É claro que não! A Bíblia refere-se aos jumentos como almas viventes e aos homens também como almas viventes.
- Ah, desculpe, eu daí a pouco tinha de sair, estou com pressa... mas... em resumo: então o Inferno não existe?
- É óbvio que não. Quem morre vai para debaixo da terra e desaparece.
- E então ninguém vai para o céu? - pergunto eu, abismada com estas declarações.
- Sim, para além de Deus que é imortal, também se salvam 144 000 homens.
- Ah!
- Mas a menina apareça lá, nas sessões de culto da nossa Igreja!
Quando me ia explicar onde eram realizadas as sessões de culto para eu aparecer lá, tentei não responder o que me ia pela minha pobre alma vivente (igual à dos jumentos):
- Não, não vale a pena ir, senhor, os 144 000 lugares já devem estar todos preenchidos há bué!

quarta-feira, setembro 11, 2013

Francisco e os Hereges





Uma minha amiga hiper católica concorda comigo: os católicos não ligam a este Papa ou não gostam dele, os não católicos adoram-no. Ele diz da Igreja Católica o que nós sempre dissemos e que tanto os irritava. Ou mesmo pior. Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar do lobby gay.
Denuncia a hipocrisia e o materialismo que fez tanta gente sair da igreja: materialismo já há muito cá fora. Essa mesma amiga justifica, dizendo:

- Mas estamos numa época de materialismo.
Sim, e de corrupção e de fingimento e de hipocrisia. Mas a religião deveria fazer a diferença.

Entretanto, o Papa continua com gestos simbólicos, ou espontâneos e não menos simbólicos por isso, acaba de afirmar que os conventos católicos não devem servir para ganhar dinheiro e sim para abrigar os refugiados.

A direita portuguesa, classista, racista, devota de missa diária, como pode gostar disto? Estará a tempo de mudar? Será capaz de o fazer?

O Papa mandou fazer uma vigília pela paz, o que é muito discutível - qual paz? A nossa? . Efeito ou coincidência, acaba de surgir a possibilidade de a Síria não ser atacada, se entregar as armas químicas à ONU. Talvez seja um bom caminho. Terá o Papa contribuído para ele? De que modo?

Entretanto, pedem-lhe que não canonize o Papa João Paulo II. Por não ter denunciado os casos que este Papa e o Papa emérito denunciaram. Comparado com Francisco, João Paulo seria tudo, menos santo!

VER AQUI


quinta-feira, setembro 05, 2013

Perguntem-me se gostei de Istambul











- Perguntem-me se gostei de Istambul
- Ó Nadinha, gostaste de Istambul?
- Gostei.

( Até já combinei voltar  lá com quatro amigas). Aceitam-se mais.

Mas convenhamos que nem tudo me agradou. Digamos que: só me agradou quase tudo.

(E quanto às imagens: por favor, não me peçam para usar sandálias que não sejam desportivas (gosto da marca Columbia). Há umas muito giras, com 10 cm de altura, mas não são boas para caminhar muitos kilómetros sem parar... e estas calças demasiado largas também ajudam, ajustadas com um cinto. Dá para alargar e estreitar o cinto...

Não ficam bem? Oh, esqueci-me de me candidatar a um concurso de beleza! Fica para a próxima.


Istambul - Modernidade





Para os turcos, a modernidade significa ocidentalização, já desde o tempo dos últimos paxás. As principais diferenças notam-se no vestuário e, claro, no ato de beber álcool. A religião muçulmana, embora não seja renegada, representa o passado, com todas as suas prescrições. O presente e o futuro consistem, não em mudar de religião nem em ser ateu, mas em não cumprir as regras, sendo, talvez, de forma simples e prática, muçulmano não praticante.

Vemos nas imagens :

Foto 1 - Um bar moderno, passando na televisão uma diva turca, cantando uma música agradável e triste, um pouco parecida com o fado... nesse bar disponibilizar-me-iam um computador com Internet, mas as minhas passwords eram todas rejeitadas, porque têm uma letra parecida com o i, mas sem acento. Separado e em destaque, vê-se o nosso i, mas eu não vi, no primeiro dia. Nem no segundo... ainda bem que levei um computador com teclado português.

Fotos 2 e 3 - Publicidade a uma marca de cerveja local (detalhe). Ocupava toda uma parede do restaurantezinho simpático onde fui jantar algumas vezes umas saladitas simples... e, claro, com uma cervejinha. Isto estabelecia logo uma grande cumplicidade com os frequentadores, todos homens... Não tenho nenhuma fixação por homens que só vi poucas vezes, mas as mulheres muçulmanas, mesmo as inúmeras não praticantes, não andam muito por aí, nem se metem com estranhos.

Vemos na imagem do anúncio (visão parcial, foto de telemóvel) uma gente muito moderna no estar e no vestir, rapazes e raparigas juntos a conviver à ocidental... a beber cerveja. 

Claro, os restaurantes distinguem-se desta maneira: aqui não se vendem bebidas alcoólicas, ou melhor: Proibidas as bebidas alcoólicas! E os outros. O vinho é caríssimo, embora a Turquia o produza, a cerveja é acessível e boa, exceto nos muitos restaurantes em que nos respondem:

- Aqui são proibidas as bebidas alcoólicas. Somos muçulmanos.

Não faço questão de beber álcool, passo bem sem isso, mas, na primeira e única vez que me aconteceu, já depois de ter escolhido o prato, levantei-me e respondi, antes de sair:

- Eu não.

Existe um cartaz que significa exatamente que é proibido beber álcool. Nos restaurantes que o exibem, só se vêem muçulmanos.

quarta-feira, setembro 04, 2013

Parque Taxim (ainda)







À beira Bósforo. se as praias em Portugal fossem assim, eu também ia muito para a praia.
Enfim, talvez um nadinha menos vestida...
Estas senhoras estão à sombra, enquanto as meninas andam de reduzidíssimos biquinis, na praia.
Orhan Pamuk, no seu livro sobre Istambul, já aqui referido, menciona frequentemente os pic-nicks familiares no Parque Taxim. É muito bonito. Muito acolhedor.
Ainda bem que os manifestantes da Praça Taxim ganharam e o parque não vai ser transformado em nenhum empreendimento de luxo!


(Portuguesa em Portugal - não tão muito vestida como as turcas no parque Taxim)

Parque Taxim






No primeiro dia, como contei, fui parar ao Parque Taxim, o pomo da discórdia da primavera turca, pois o presidente, também muito criticado por ser demasiado muçulmano, o que, para os turcos, significa o contrário de ser ocidentalizado, como muitos pretendem ser, queria transformar isto num empreendimento de luxo... o espaço é imenso, à beira Bósforo. Um problema que existe, ao nível do ordenamento do território, é haver uma fortaleza imensa a toda a volta da parte antiga e ocidental da cidade, circundando mar e a praia. Como monumento, não pode ser "abatida".

A história nunca foi o meu forte. Se algum visitante quiser acrescentar pormenores, que o faça.

Enfim, é muito engraçado visitar um local sem sabermos o que estamos a ver. Eu pensava que isto era o OTTO Park, porque essa designação estava escrita em cartazes por toda a parte, mas otto park quer dizer só "parque de estacionamento". Por gostar de descobrir assim uma terra, não me informo antes de lá ir. É agora que vou ler e estou a ler livros que falam da Turquia e da sua história, que é a história da Europa. A nossa. No primeiro post digo logo que fui parar a um sítio qualquer, sem saber onde. Era este.


Istambul Maravilhosos Mercados










O Mercado das Especiarias de Eminonu. Comprei deste açafrão indiano a 50 liras turcas o kilo (é isso que quer dizer o letreiro).

Do lado de fora do mercado coberto, encontramos de tudo um pouco: colheres de pau, tachos e bules...
É o comércio que dá graça a qualquer terra.

Em baixo, vemos o Grand Bazar. Muito perto dele, na saída 2, Gate 2, podemos ainda encontrar um sítio onde se faz bem o Banho Turco. Os preços começam nos 20 euros. Sim, Euros. A moeda é a  Lira Turca, mas existem preços em euros, em locais como este. 
Fica aqui o link para esse local.
Alguns hotéis também fazem este Banho turco.



Istambul, a cidade do outro lado




Saímos de Istambul enriquecidos, não pelo muito que aprendemos, mas por nos apercebermos do abismo da nossa ignorância em relação à parte oriental do mundo.

Enriquecidos de curiosidade pelo outro, que é o reverso dos livros de história. Ou de geografia, ou do que for.

Porque as pedras só se tornam humanas se virmos nela a inscrição, não só do humano, mas também do divino. Como neste mosteiro da Capadócia.

Istambul já foi Bizâncio e já foi Constantinopla, cidades quase míticas. Com uma história que é a nossa história. Istambul significa, etimologicamente, "a cidade que fica do outro lado". Do outro lado do Bósforo. 
A cidade que fica do outro lado, também para nós ocidentais, do outro lado do oriente, é a cidade do passado. 
Mas o passado talvez se transforme em futuro e talvez seja do Oriente que nos chegue a renovação.

Ponte e torre de Galata








Um dos locais mais vividos de Istambul é esta ponte de Galata, que tem restaurantes sobre o rio e muitos pescadores por cima, mesmo de noite.
Fica no porto de Eminem, também muito vivido e concorrido, com restaurantes especiais. Não para turista ver, mas com comidas típicas, como umas sanduíches de peixe que não cheguei a provar, devoradas com grande sofreguidão pelos autóctones.
Tudo isto fica também perto do fantástico mercado de especiarias, com o mesmo nome do porto.

Ainda Istambul




Estes palácios, alguns deles abandonados, testemunham o antigo esplendor do Império Otomano. Os paxás viviam em grandes mansões de madeira na cidade, mas, após a implantação da república, foram frequentes os incêndios dessas casas (fogo posto). Fizeram então, ou já tinham, estes palácios ao longo do Estreito de Bósforo, para onde se mudaram. Há vários parecidos, este no Corno de Ouro, uma parte estreita e especial do Bósforo.


Casas de madeira




segunda-feira, setembro 02, 2013

Finalmente! Que coragem!

Já aqui tinha referido uma anterior notícia, da última tentativa que falhou. Se fosse em Portugal, esta senhora estaria há vários anos na reforma antecipada. Cansada da vida.

Mulher de 64 anos nada de Cuba à Florida sem protecção contra tubarões

À quinta tentativa, Diana Nyad conseguiu mesmo atravessar a nado as 103 milhas (cerca de 166 quilómetros) que estão entre Havana, Cuba, e Key West, no estado norte-americano da Florida. E fê-lo como nunca ninguém o tinha feito: sem a ajuda de uma jaula que a protegesse de tubarões. Mas esse não é o único facto impressionante: Diana tem 64 anos.

E no Expresso:


A nadadora de 64 anos, que acalentava o sonho da travessia há vários anos, partiu de Havana no início de sábado - gritando "coragem!" enquanto entrava na água - e chegou esta tarde à praia de Key West, sendo recebida por dezenas de pessoas, algumas das quais a nadarem na sua companhia para a acompanharem na sua aproximação à costa norte-americana.
Apesar de ter saído da água em pé, sem assistência, Nyad não demorou muito a cair nos braços de uma assistente, já que a longa travessia de 180 km foi muito dura para a nadadora nova-iorquina, de acordo com os médicos que a acompanharam em embarcações de apoio.

terça-feira, agosto 20, 2013

Capadócia: aldeias subterrâneas





Os gregos, que como já foi referido, viviam na Capadócia desde Alexandre Magno, com muitos vindos posteriormente, foram perseguidos em várias épocas, por serem gregos e por serem cristãos. O Império Otomano, propriamente turco, não fazia perseguições religiosas e, bem ao contrário, acolheu de braços abertos os judeus fugidos da península ibérica, como está fortemente documentado. Embora, também na Turquia, vivessem em ghetos.

Para fugirem às perseguições, os gregos, que viviam comunitariamente em aldeias agrícolas, construíram estes subterrâneos. Ficavam aqui até terminar a perseguição, ou até se sentirem seguros para regressarem a casa. 
Entretanto, iam fazendo o que tinham a  fazer, como, por exemplo, vinho. Estes subterrâneos continham vários lagares e vários espaços para conservação do agradável líquido.
A pedra é a mesma que permite escavar as chaminés das fadas. Estas têm 3 camadas, mas a parte principal é em turfa.

É difícil tirar fotos com tanta escuridão, isto foi o que se pôde arranjar.

Capadócia: O Castelo







Este é o mais alto "complexo urbanístico" constituído por casas escavadas nos rochedos de pedra macia, chamados "chaminés das fadas". Chama-se Castelo.

Viviam aqui muitas pessoas, todas gregas. Embora habitassem a Capadócia e outras partes da Turquia desde os tempos da invasão de Alexandre Magno, os gregos mantiveram a sua língua, a sua religião e a sua cultura até aos dias de hoje.

Mas um acordo bilateral de 1924 obrigou estes Gregos a regressarem à Grécia e os Turcos que habitavam em regiões da Grécia a regressarem à Turquia, (embora ainda existam muitos gregos em Istambul, segundo diz Pamuk no livro citado). O que deixou as casas desabitadas. Atualmente é proibido morar nelas, por ser considerado perigoso. Ainda recentemente morreu um turista alemão que subiu ao topo e no mosteiro, uma turista italiana. Agora é proibido ir onde foi a italiana, mas ainda é permitido subir a este Castelo.

Na última foto, vê-se uma árvore carregada de objetos chamados "Olho Turco", contra o mau olhado e outra carregada de cântaros, em frente ao Castelo. Vi muitas árvores decoradas como esta.

Vou interromper este "Diário de Bordo", a continuar mais tarde. Ver o postt do mosteiro, a que acrescentei várias fotos e informações.