quarta-feira, agosto 22, 2012

Índia: Taj Mahal Parte II







Fotos: lado direito, frente, lado esquerdo, etc

O Taj Mahal é sempre igual, visto dos quatro lados, com a única diferença das quatro entourages. Um dos lados é voltado para um pequeno rio (que também banha Nova Delhi). O rei quis que tudo fosse simétrico, ficando como única exceção o seu próprio túmulo, que quebra a simetria. O da Mum Taj Mahal  (nome que deu à amada terceira esposa, significando a jóia ou a coroa do palácio) fica exatamente no centro da construção, o seu próprio túmulo fica um pouco à esquerda e é muito maior, por ser de homem e por serem muçulmanos.

Mas é preciso ver que este rei morreu no cativeiro, em prisão domiciliária, refém de um dos seus inúmeros filhos, aquele que conquistou o poder. tal como ele mesmo tinha assassinado dois irmãos e deixado em prisão o seu pai. Quase somos levados a dizer: ainda bem... Cala-te, boca!
Do lado esquerdo do mausoléu, mandou construir uma mesquita em pedra vermelha, do lado direito mandou construir outro edifício igual ou exatamente simétrico, mas que não podia ser considerado uma mesquita, dado que o Mirabe não estava voltado para Meca e sim para o lado oposto. Usavam-na como habitação temporária. Como se fosse um hotel. Só existe para prolongar a simetria e, portanto, a grande harmonia do conjunto.

(Os muçulmanos limitam-se a decorar as paredes com desenhos simétricos e frases escritas do Alcorão, sendo proibidas representações de seres humanos ou de animais). Quando entramos num mausoléu ou numa mesquita, estamos à espera de encontrar algo que não existe lá. Só paredes, incluindo o Mirabe. Neste caso, existem também os túmulos, mas noutros casos são apenas réplicas, pois os verdadeiros estão ocultos.



Mesquita, do lado esquerdo e o seu duplo, do lado direito, na última foto.

O conjunto foi construído no Sec XVII, durante o Império Mogol, ou seja, com imperadores descendentes de Gengis Khan . Em português antigo, esse império era designado por Grão Mogol.

Índia: Taj Mahal - Parte I





Taj Mahal, Uma lágrima na face do tempo, para parafrasear o grande poeta indiano Tagore (Ravindranat Tagore). No poema que está na terceira foto.

Ou desvanecendo-se na distância.

A segunda foto foi tirada a partir do Forte Vermelho, local onde residiu e mais tarde foi aprisionado e depois morreu, o  imperador Mogol que mandou construir este mausoléu, Shah Jahan, em homenagem à sua querida terceira esposa, a quem chamava (Mum)taz Mahal ("A jóia do palácio").

Das janelas do forte, da parte branca que mandou fazer em mármore, vê-se o Taj Mahal, mudando com as colorações da aurora, da tarde, do crepúsculo, com a presença ou ausência de nuvens, até quase desaparecer em branco, no branco incerto da manhã.

Aparentemente, Shah Jahan teria três esposas e 300 concubinas, o que torna mais espantosa esta manifestação de amor e de saudade.

segunda-feira, agosto 20, 2012

Ramadan (continuação)








Ao sabor da viagem, umas fotografias ficam melhores e outras piores.

Estas são ainda do festival do santo, que este ano coincidiu com o fim do Ramadan. Depois posso dizer qual é o santo, pois tomei nota.

A última imagem mostra uma das janelas com fitinhas. Muitas fitinhas.

Na segunda, as mulheres estão a rir-se à nossa custa e a gozar entre si, como fazem as mulheres de todo o mundo.

Uma caraterística desta religião (muçulmana) na Índia é não haver separação entre homens e mulheres dentro do templo.

Ramadan








Nos últimos dias do Ramadão, quando os muçulmanos já podem comer à vontade e à farta, tivemos a sorte (no entender dos indianos com quem falamos, ou a pouca sorte, no entender de alguns) de ter ido visitar uma mesquita da Cidade Fantasma, perto de Agra.

A cidade foi construída por um rei, tal como a mesquita, para homenagear um santo. O rei só tinha meninas. O santo fez com que tivesse meninos.

A cidade foi rapidamente abandonada porque não tinha água. O culto do santo manteve-se, contudo. Até aos dias de hoje.

As pessoas amarram fitinhas como pedido para terem um filho rapaz, creio que alguns já se contentam com uma rapariga, porque as vi lá. Se a graça for concedida, oferecem lenços, que colocam sobre o túmulo e deitam pétalas de rosas vermelhas por cima do lenço. Vi a mãe a pôr o pano e uma menina pequenina a deitar as flores. Os lenços são quase tantos como as fitinhas, o que significa que resulta.
Os muçulmanos dormem serenamente no templo. Eu era incapaz de dormir numa igreja católica, mas ali, não sei...


A minha cama

O que terá a minha cama de tão maravilhoso que me parece mil vezes melhor do que todas as outras do mundo, incluindo as dos hotéis de 5 estrelas, por exemplo, o Sheraton?
Estou a pensar vendê-la por uma fortuna e comprar uma nova e mais cara. E com um colchão daqueles caríssimos.

sábado, agosto 18, 2012

India



Comida que vendem nas ruas



Fica tambem estacuriosidade, ainda em Delhi. Ja tinha lido sobre isto.E um objecto nao explicado, uma coluna de ferro que, segundo dizem, nunca oxidou, em seculos. Fica nas ruinas de uma mesquita que foi construida com os destrocos de trinta e tal templos, destruidos de proposito para a construir

sexta-feira, agosto 17, 2012

India







Este e o palacio dos Marajas de Samode, perto de Jaipur, agora transformado em hotel. Fica no meio de uma aldeia girissima, muito autentica e e bom para descansar.
As pessoas, sobretudo inglesas, vem de Delhi numa viagem tao complicada como a que fizemos ontem, uma especie de corrida maluca numa auto estrada minuscula, a meias com vacas sagradas, cabras e burros (amanha fazemos outra e depois de amanha uma ainda pior...) wish me luck!

Vao num autocarro direto para esse hotel, ou entao em transportes publicos e ficam la todo o tempo.
E um sitio maravilhoso com um palacio de contos de fadas. Uma aldeia girissima com pequenos porcos que parecem javalis a passear nas ruas, carrinhos com altifalantes para casamentos, depois mostro, estou com dificuldades logisticas na Internet.
Beijinhos. Nem tudo sao rosas, mas as rosas existem.

quinta-feira, agosto 16, 2012

India










O dia de hoje foi dedicado a viagem Delhi – Jaipur. São apenas 250 Km, pela auto-estrada. Tempo estimado para a sua duração: 7 ou 8 horas. Tanto como de Londres a Delhi de avião. O guia insiste que a culpa é dos camionistas, que se julgam os reis da estrada, mas na verdade, há outros motivos, como se pode ver pelas fotos.


Pessoas que atravessam a pé, de forma caótica e sobretudo fugindo a frente dos veículos, minúsculas viaturas carregadas de gente, autocarros com pessoas empoleiradas em cima (não consegui fotografar, mas ainda vou fazer mais duas viagens como esta).

E, é claro, muitíssimas vacas sagradas por toda a parte, que nao podem ser incomodadas se quiserem atravessar a estrada ou deitar-se na berma. Ou onde quiserem. Para além das vacas há também os burros, as cabras, que circulam à vontade.

E carroças puxadas por camelos.

É um espetáculo alucinante. Adorei. Mas não me apetecia nada repetir.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Índia



Um dos aspetos mais bonitos da Índia é os animais não terem medo das pessoas. Quase que posam para a fotografia. Há muitos esquilinhos, alguns brancos, todos muito pequeninos.





Hoje foi o dia Nacional da Índia, 15 de Agosto. Está tudo fechado e é proibido beber ou servir bebidas alcoólicas.

É um dia muito importante, pois a Índia é independente há pouco tempo. Disem que se pode comparar ao nosso Natal. Em todo o lado havia muitos indianos a gozar o feriado.

Vemos aqui o local onde foi cremado Mahatma Gandhi, transformado em jardim. Aliás, o que há mais aqui são jardins. Dentro da cidade estamos sempre a ver grandes áreas com árvores tropicais, as mais variadas.

O que mais me impressiona na Índia é que não há nada a fingir. É tudo autêntico.
Vê-se também um mausoléu que serviu de modelo ao Taj  Mahal.

V

Índia



Hoje fui ver outras coisas de Delhi, pronuncia-se Dili e nunca dizem nova. Os habitantes chamam-se Dilidis. Nome bom para gato. Anda cá, Dilidi.



Hoje não me chatearam nada para entrar nos templos, só tive de vestir esta vestimenta para entrar na maior mesquita da Índia. Que me fica a matar, como se vê pela gravura junta. Tive sorte: algumas cheiravam muito  mal. Os homens que andassem de calções tinham de vestir uma espécie de saia.

Muitos rapazes me pediram para tirar fotografias com eles, no telemóvel. Pedi a alguns que tirassem também com a minha máquina. O guia diz que os indianos apreciam muito a pele branca: “vocês são os nossos modelos”.



Mas é uma religião muçulmana temperada pelo espírito indiano.

Como estamos no Ramadan, muitos muçulmanos dormem no chão, dentro da mesquita.


terça-feira, agosto 14, 2012

Sicks Puros



Vestem-se de branco, nunca na vida cortaram um pelo da cabeça, da barba ou outro, usam uma faquinha ritual a tiracolo, que não utilizam nunca, mas simboliza uma espada, são altruistas, etc...

Depois conto mais

Nadinha perigosa


Preparada para entrar no templo: descalça, pés  lavados na fonte de água lustral à entrada, despojada de tudo exceto da carteira do dinheiro, passaporte e máquina fotográfica, pano amarrado na cabeça, emprestado pelo próprio templo e já usado nesse dia por várias pessoas…


Não se paga nada, mas são um nadinha picuinhas. Depoiis de me revistarem, como fazem atoda a gente,
Depois de me revistarem, como fazem com toda a gente, aliás, mulheres com excesso de zelo que procuram pistas de forma criativa, concluíram que eu levava algumas coisas perigisíssimas: um repelente de insetos em spray, uma agenda e dois cadernos molesquines vermelhos, um grande e um pequeno. Que perigo!

A agenda também é a vermelhada... seria a côr? Tive de entregar todos os meus pertences a uma criatura, para não fazer esperar mais o guia e as outras pessoas guiadas por ele... e ainda nos tiraram uma fotografia de arquivo,a  mim, a ele e Àminha carteira. ficámso os dois a rir coma ar de gozo.

Depois conto mais sobre este segundo templo, onde só tive de amarrar o pano, descalçar-me deixar tudo no autocarro.

Índia




Viajando ao contrário do sol, partimos de Londres no dia seguinte ao final dos jogos Olímpicos.

Segue no nosso avião o comité olímpico da índia, de regresso a casa, mas só uma atleta terá uma guarde de honra militar e uma chegada apoteótica. Ainda não sei porquê… era uma que tinha cara de poucos amigos…

É noite cerrada em Lisboa e em Londres. Amanhece em Nova Delhi. Preparámo-nos para desembarcar e para viver um dos dias mais longos e mais espantosos das nossas vidas.

sábado, agosto 11, 2012

Surpresa no blogue: esperem!

Para os apreciadores deste blogue, haverá uma surpresa a partir do dia 14 de Agosto, o mais tardar. 
Uma grande surpresa.
Ciao amori!

quinta-feira, agosto 09, 2012

quarta-feira, agosto 08, 2012

Bloomsday? E por que não o dia do Dessassossego?

Sabem o que é o Bloomsday?


É um dia feriado na Irlanda, para comemorar o dia narrado no romance Ulisses, de James Joyce. A obra refere a "odisseia" de Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de jinho de 1904, pelas ruas de Dublin, fazendo apenas coisas vulgares. É um livro imenso e chatíssimo, que pouca gente consegue ler até ao fim (a Nadinha nunca conseguiu, apesar de ser uma leitora compulsiva que até lê cartas, cartazes, listas de compras, ementas, etc).

Aparentemente, os poucos que conseguem ler até ao fim, adoram. 
No dia 16 de Junho na Irlanda e noutros países, celebra-se este romance, por exemplo, comendo o que comeu o Bloom, fazendo o que fizeram as personagens, o que é obra, dado que não fizeram nada de anormal.


Parece claro que, sendo a Irlanda um pequeno país muito nacionalista e orgulhoso, valoriza o pouco que tem.

E se nós fizéssemos o mesmo, em vez de embandeirarmos em arco porque tivemos uma medalha de prata nos Olímpicos que foi quase de ouro? E que é uma vergonha por ser tão pouco. Mesmo que fosse uma única vitória em ouro. 


O dia do Desasossego, o dia dos Maias, o dia do Amor (de Perdição), o dia da Blimunda, o dia... não digo mais por serem demais os livros bons. O dia do tio Luís (de Camões), o dia da Menina e Moça, o dia do tio Gil, em que se comia cabrito como no Auto da Índia, ("a metade dum cabritinho")...



O primeiro, dia do Desassossego, talvez seja o mais viável, dado que a Casa Fernando Pessoa já o tem, juntamente com várias ideias ligadas ao desassossego, propostas pela sua atual e ótima Directora, Inês Pedrosa. E que a palavra é muito expressiva, sendo que tudo e mais alguma coisa pode ser feito neste dia...



Poderia começar pela Câmara de Lisboa, tornava-se feriado em todo  o país, depois no Brasil... até já temos o precedente de o nosso dia nacional ser o de Camões, um poeta...


O dia do tio Pêro: da "Carta do Achamento do Brasil", dia que tinha pano para mangas. Na verdade, tinha pano para um fato. Facto? Fato? As pessoas poderiam fantasiar-se de Índios e de Descobridores, poderiam fazer muitas coisas que são narradas... nadar, andar de barco, sei lá... comer o que deram a comer aos índios no nau capitaina... até podia ser um dia de nudismo.

Vou enviar esta proposta à Casa Fernando Pessoa. Aos políticos não dou ideias. Roubavam-mas e ainda me acusavam de plágio. E tinham logo equivalência a escritores.

segunda-feira, agosto 06, 2012

Como era antigamente? Como será no futuro?






Das últimas vezes que pesquisei no Google, procurei temas tão variados como: como abrir as conchas das ostras, tomar ou não medicamentos para a malária, quando se  viaja, o que são as lesmas do mar (lindíssimas), como colorir o cabelo com henna, fotografias antigas e máquinas fotográficas última geração, etc.


Quando algumas pessoas que conhecemos, profissionalmente ativas, começaram a trabalhar, ainda nem se usavam fotocópias, que já existiam mas não tinham um preço aceitável, ainda não havia computadores pessoais (um computador ocupava, nessa época uma enorme sala e muitas pessoas, (com empregos que deixaram de existir e existiram pouco tempo), muito menos havia telemóveis... E tudo isto há relativamente pouco tempo.

Mas todas estas limitações  já estão esquecidas. é fácil adaptarmo-nos ao melhor.

Porque é que outros aspetos da vida e da tecnologia não evoluíram quase nada?

Por exemplo, não deixou de haver agressividade e até mesmo violência entre pessoas que se estimam, os automóveis não mudaram muito, não ficaram muito mais baratos, muito mais rápidos, não voam... as casas não são muito mais baratas (pelo contrário), nem mil vezes melhores... a ideia é esperar que tudo isto venha a melhorar muito. Não melhoraram muito porque o seu melhoramento iria contra os interesses instalados. Quem quer casas e automóveis muito baratos e muitíssimo bons? Como escravizar criaturas, se tudo lhes é acessível por pouco que ganhem? 

(Nas imagens acima, vemos uma ficção: em 1900 julgavam, talvez com razão, que voar seria a nossa maneira mais comum de viajar, no ano 2000. Ou então viajava-se em comboios-navios que continuavam na terra a viagem iniciada no mar.)

sábado, agosto 04, 2012

Vidas: O Diogo


Sinto às vezes, ao passar numa parte menos frequentada das Amoreiras, uma certa nostalgia, não um sentimento de tristeza pessoal, mais, talvez, uma sensação de pura compaixão. 
Foi lá que a minha grande amiga Vitória me contou os factos que vou narrar, poucos meses antes de morrer, subitamente. Ela teria, no máximo, uns 60 anos... hoje em dia é considerado cedo, portanto.
Encontrámo-nos por acaso nas Amoreiras, vi que estava desanimada (não era pessoa de mostrar o que sentia)  e fomos, por escolha dela, àquele café a que eu nunca tinha ido, nem voltei.

Essa mulher teve sempre uma grande paixão por uma primo da mesma idade, O Diogo. Pela parte dele, militar de carreira e muito conservador, marialva, era difícil de entender o que sentiria, mas nunca casou e voltava para ela, de vez em quando. Nunca tiveram filhos... por causa dessa inconstante relação e dos vários abortos, frutos também dessa inconstante relação e da imprevidência dos dois.

E então ela contou-me, com uma tristeza que tentava disfarçar, sem necessidade de a exprimir nem muito menos de a dissimular, pois eu poderia imaginar o que sentia, visto que éramos amigas.

O Diogo era muito "forreta". Poupava de tal maneira, que nem comprava medicamentos analgésicos para a mãe, que lhos pedia e implorava, muito menos para ele mesmo. Juntou muito dinheiro. Depois de passar à reserva, decidiu ir viver para a aldeia onde tinha nascido. Tinha uma casa com um grande quintal nas traseiras, pomar e horta. Quase não comprava nada, consumia o que cultivava. Não se dava muito com os vizinhos, vinha raramente a Lisboa, a minha amiga estava encarregada de lhe tratar das questões logísticas da casa na capital.

A certa altura, deixou de ter contacto com o Diogo. Telefonou, mas não conseguiu falar com ele... também, não era pessoa de se preocupar muito... nada dramática... esperou para ver o que acontecia.

Veio mais tarde a ser informada: encontraram o corpo do Diogo no seu quintal, morto há cerca de um mês, parcialmente comido por cães. O quintal estava murado a toda a volta, o que explica que tenha caído e não tenha sido encontrado. Os cães ficaram malditos para sempre, pois numa aldeia, até os animais têm reputação, vivos ou mortos.


A Vitória foi ao funeral. Como o Diogo não se deu ao trabalho de fazer testamento, os únicos herdeiros eram uns parentes e respetivos filhos. Com quem não se dava. No funeral, como é natural, estavam felicíssimos, pois iam herdar o dinheiro poupado com grande sacrifício, numa vida pouco vivida, sem alegria nem consolo. Com muita dor, não mitigada por analségicos, por serem caros. Afirmavam:

- Já morreu tarde. Eu mal podia esperar para ganhar aquele dinheiro todo.
- Foi pena o tipo não ter morrido há 5 anos, quando eu precisava tanto de dinheiro... mas agora também, faz cá um jeitaço!

Vi a tristeza e o desânimo invadirem o rosto e o olhar da minha amiga, enquanto me narrava estas e outras frases que tinha ouvido no funeral do seu amante de toda a vida, usando o discurso direto, saborendo sem  prazer um café que foi arrefecendo. Um café adocicado, mole, morno de tanto esperar e insípido. Como a sua mesma existência .

Poucos meses depois, a nossa mulher-a-dias comum ligou-me para o telemóvel, estava eu a trabalhar. Informou-me de que a minha amiga tinha morrido. Subitamente, durante a noite. Sozinha em casa.

Hoje, dia 4 de Agosto, faria anos, mas já não faz. Há quantos anos já não faz anos? 3,4,5?

Que importa o calendário? No seu último aniversário telefonou-me para casa, mas eu estava algures no estrangeiro, talvez no Brasil, nas Canárias, ou no mar. 

Nunca fixei datas, raramente me lembro de um aniversário...

(Os nomes são fictícios, de resto, é tudo verdade. Talvez mostre um pouco o que é a sociedade portuguesa contemporânea, o materialismo, o culto dop dinheiro, o modo de transmissão da riqueza, etc.)