terça-feira, fevereiro 20, 2007

Dádivas

Impressionou-me muitíssimo, no filme O Grande Silêncio, o depoimento de um frade cego que agradecia muito a Deus a cegueira, por achar que era boa para a sua alma.
Dizia também que nós não precisamos de nos preocupar com nada, pois Deus dá-nos tudo aquilo de que precisarmos.
No dia seguinte, tomei um comprimido que me obriga a não me sentar nem deitar nem comer durante meia-hora. Como é aborrecido, fui a pé até às Amoreiras. Ao chegar, constatei que já podia tomar o pequeno-almoço e também que o café onde costumava tomá-lo tinha fechado.
Nesse preciso instante, uma rapariga dirigiu-se a mim para me dar um iogurte e uma colher de plástico. Comi-o com grande apetite, pensando nas palavras do frade, que, de qualquer modo me andavam na ideia.
Pouco depois vi um pedinte daqueles antigos, sem conhecimentos de marketing e sem falar inglês, de chapéu na mão e “Deus acrescente o que lhe sobra” na boca.
Será que a rapariga também lhe deu o iogurte e a colher? Pareceu-me que não… ele não é um potencial consumidor…

A realidade tem esta mania de nos cair em cima quando menos se espera…

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