Tanta celeuma, tanta polémica, tudo por causa dum livrinho aparentemente sem grandes ambições e até mesmo cómico?
Mais uma vez, depois de ter feito o mesmo em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", Saramago vai à Bíblia importar histórias magníficas e conta-as à sua maneira, ganhando muito dinheiro com essas histórias que lhe não pertencem, enquanto procura ridicularizá-las.
Gostei do livro, ri-me muito, mas não me parece que seja para levar a sério.
Caim, depois de matar o irmão Abel, como toda a gente sabe, viaja no tempo e assiste aos grandes episódios da Bíblia em que o Deus do Antigo Testamento mata ou manda matar milhares de pessoas ou mesmo todas (no caso do Dilúvio), sem que se veja um motivo para tal, se interpretarmos a Bíblia literalmente.
O interesse do romance é sobretudo o humor de Sramago, que só se lhe conhece dos livros, parecendo não o ter na vida "real" e a magnificiência dos episódios bíblicos "tomados de empréstimo", como este senhor costuma fazer.
Notar que o livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi publicado , mais ou menos em simultâneo com o livro dum escritor americano designado "O Evangelho Segundo o Filho" e numa época em que muito se fala muito dos Evangelhos apócrifos: "O Evangelho Segundo São Tomé", etc.
Fez-me lembrar aqueles filmes de Mel Brooks em que, usando hilariantes anacronismos, o cineasta conta a sua versão da História da Humanidade. Confesso que não me lembro do título do ou dos filmes. Se alguém se lembrar...
É caso para pensar se não será uma atitude de procura de fé por parte do autor, ainda o veremos dizer como Bocage: "Rasga meus versos [livros] /crê na Eternidade".
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