quarta-feira, março 21, 2012

A Longa vida de Mariana Ucria


A propósito do post anterior, em que se vê que em Marrocos, hoje mesmo, as jovens violadas são obrigadas a casar com os violadores, como castigo para eles, ocorreu-me um livro de que gosto muito, da escritora italiana Dacia Maraini, o primeiro romance que li em italiano, sem entender muitas coisas. Mas é engraçado não entender tudo, dá um certo mistério ao ato de ler e ao enredo.

O livro narra a longa vida de uma duquesa siciliana do Sec. XVIII, também obrigada a casar com um tio que a violara em criança. É surda-muda, pode supôr-se que o seu handicap foi provocado pelo trauma, visto que não teria podido falar sobre o assunto.
Comunica por escrito com quem souber ler, nessa época já muita gente, mas as mensagens são muito curtas e rápidas, mesmo em momentos fulcrais e em informações decisivas da sua vida, como quando a mãe a informa de que vai casar com o tio, sem qualquer preâmbulo.
Este é para mim o aspeto mais apaixonante do livro, o tratar as possibilidades e as limitações da escrita, o que o torna também muito moderno, pois passa-se algo de semelhante com as nossas atuais mensagens de SMS e de Chat.



A escritora, aristrocrata siciliana, que viveu no Japão em criança, durante a 2ª Guerra Mundial e foi casada com o truculento escritor Alberto Moravia, tem outros livros muito bonitos, mas só este traduzido para português de Portugal, por ser a sua obra-prima, até agora.


La Lunga vita di Marianna Ucria, Editora Rizzoli

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