A cadela de um amigo meu foi atropelada. Até agora, já gastou 800 Euros e ainda não sabe quanto custará a cirurgia.
Vi a radiografia dos ossos partidos e fora do sítio da pata. Há umas décadas, sem radiografia, os médicos puxavam pela perna ou pelo braço do doente humano e punham os ossos no sítio. Agora é necessária uma cirurgia para a cadela, tão cara que o dono não sabe se pode pagar. Disseram-lhe, enfim, deram-lhe a entender com muita clareza:
“- Ou tens dinheiro para pagar, ou vais-te embora. “
Fiz-lhe ver que as colónias de gatos (gosto mais de gatos e por isso estou mais a par) têm veterinários que fazem castração das gatas gratuitamente. Esses nunca dirão:
“- Ou tens dinheiro para pagar, ou vais-te embora.’
Sim, há sítios mais baratos e que nunca dirão tal coisa. Toda a gente que conheço fica horrorizada perante esta frase, coitadinhos dos cães e dos gatos… o porco, o bacalhau, as galinhas também são animais, mas não são bonitos nem queridinhos…
Nos Estafos Unidos, o que se nota bem, se prestarmos atenção, nas séries que decorrem em hospitais ou clínicas, quando lhes aparece alguém com cancro, dizem-lhe:
“- Ou tens dinheiro para pagar, ou tens um seguro de saúde que pague, ou vais-te embora.”
Na série com o título poético Virgin River, uma mulher com Lúpus não quer ir ao médico, por saber o que a espera, mas o marido insiste. Então, médico explica ao marido: o tratamento do Lúpus custa 36 mil euros por ano. O casal não poupa nem um cêntimo por mês, portanto, a senhora não poderá tratar-se. Sim, pode: naquele lugar idílico, vão fazer uma festa cujos lucros revertem para o tratamento. Fica tudo ótimo, na série.
Aparentemente, os americanos acham normal, que alguma pessoa não seja tratada porque não tem nem dinheiro nem seguro para se tratar, como acham normal darem biliões de dólares dos seus impostos para provocarem e manterem guerras em solo alheio.
Guerras em lugares em que ninguém tem seguro de saúde e muito menos dinheiro, em que ninguém acha estranho que lhe digam, quando está a morrer:
“- Ou tens dinheiro para pagar, ou vais-te embora.”
Sabem-me dizer em que mundo vivemos? Em que século?
- Por favor, em que século estamos? Em que planeta? Please?!
(Em Portugal também era assim no século XIX e depois, se lermos com atenção o livro de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro.)
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