Até aqui, a classe média, média-baixa, média-média e outros médias, sabia e entendia que os políticos eram corruptos e que andavam a vender o país em parcelas económicas aos amigos e a eles próprios, através de testas de ferro, mas, como as classes média, média-média e média-assim-assim passavam bons fins de semana a viajar, iam de férias para o estrangeiro, comiam bem, que se lixassem as questões abstratas, como essas das políticas. Ou culturais ou outras matérias do abstracionismo.
Barriguinha cheia e bronzeada, portanto, tudo bem.
Agora, embora ainda não se fale no assunto, muitas dessas pessoas estão sem emprego e sem casa. Para além da vergonha de já não serem "ricos", nem terem já automóveis de luxo, o que terão feito às mobílias e outras posses, ao voltarem para casa da mãe, quando houver mãe?
Podemos acrescentar o pormenor inacreditável: ao perderem a casa, o banco vende a propriedade ao desbarato em leilões feitos à pressa, pouco concorridos, e o lucro da venda não chega para pagar o montante emprestado. Então, a pessoa que ficou desalojada e sem a propriedade que andou a pagar durante vários anos, continua a pagar a dívida.
Os bancos não perdem nada, o capital não perde nada e o capital é, frequentemente no nosso país, Portugal, constituído por antigos ou recentes corruptos. Num caso e no outro, pessoas ligadas ao poder (Salazar, "democracia", Sócrates, etc.).
Vai continuar tudo assim? Talvez não.
Há indícios de uma nova moral. Os jornais voltam a levantar suspeitas sobre os governos de Sócrates, que parecem agora ser menos ignoradas do que antes, fala-se muito dos privilégios das PPP, versus a perda de direitos "adquiridos" do cidadão, que deveria ser o centro da própria Democracia e que o é cada vez menos...
E há uma notícia muito engraçada sobre a situação espanhola, em muitos aspetos semelhante à portuguesa: