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sexta-feira, setembro 05, 2014

Em tempo de figos...



Foto 1: figos. Prato marca SPAL com poema de "Ode Marítima", de Fernando Pessoa




Foto 2: Figueira e nogueira com dois gaios. Existe noutro post deste blogue.



"Em tempo de figos, não há amigos" - ditado popular.
Começou o tempo dos figos. 
Nas esquinas das ruas de Campo de Ourique, aparecem, por esta altura, homens ou mulheres a vender figos de cor verde, pesando-os numa balança rudimentar, pois existem aqui muitas figueiras dessas.


Como vejo da minha janela uma carregadinha deles, aquela onde vi os gaios, fico com vontade de os provar. Peço meio quilo. Quando acho que já tem demais, digo, mas a senhora continua a encher o saco e responde:

- Depois conversamos.


Esta generosidade com os figos nem sempre existiu e bem ao contrário, como insinua o ditado popular já citado. Dado que os figos se podem secar e guardar todo o ano, constituíam uma das formas de matar a fome, em tempos de fomes que já lá vão. 


Daí estes outros ditados, do mesmo género:



Tinha um figo para dar ao meu amigo, mas vi-o, comi-o.
Uns comem os figos, a outros rebenta-lhes a boca.
Figo caído, para o senhorio; figo quedo, para mim.

E já agora, mais estes, de tipo diferente:
O figo, para ser bom, deve ter pescoço de enforcado, roupa de pobre e olho de viúva.
Ano de Figo temporão, ano de pão. (Deve ser este ano)

Acrescento aqui a palavra "Sicofanta"(de syko = figo), que tem uma origem grega interessante: como o figo era muito importante para a alimentação da Ática, era proibido vendê-los para outras terras. Sicofanta era o que denunciava os que vendiam figos. Ou o que denunciava os que roubavam  figos das figueiras sagradas. 

Eram grandes as penas para os sicofantas que dessem falsas informações, mas isso não os demovia, pois o ato em si também dava grande lucro. Daí que a palavra também possa significar pessoa caluniadora.

Enfim, é um termo erudito para significar delator, ou, usando termos menos próprios, "chibos" ou "bufos" :) Não gosta destes últimos? Então diga: sicofanta. 
Já que nunca disse...

Sobre a figueira: muitas vezes referida na Bíblia, desde a primeira vez, quando Adão e Eva, envergonhados da sua nudez, a ocultaram com as suas folhas, foi considerada árvore sagrada pelos antigos romanos, algumas eram também sagradas para os  gregos e ainda hoje é a árvore sagrada para as religiões de inspiração budista, já que foi debaixo de uma delas que o Buda obteve  iluminação, após vários dias de espera e de meditação.



Buda em meditação à sombra da figueira sagrada

quarta-feira, julho 18, 2007

As maçãs também são melhores quentes

Recentemente escrevi aqui um post em que dizia que as cerejas são melhores quentes, molhadas da chuva e em cima da árvore.
Vocês se calhar nunca mais pensaram nisso, mas eu confesso que fiquei a pensar e que cheguei à seguinte conclusão:


As maçãs são melhores quentes (e molhadas da chuva em cima das árvores)
Os pêssegos são melhores quentes (e molhados da chuva em cima das árvores)
As ameixas são melhores quentes (e molhadas da chuva em cima das árvores)


E também são melhores verdes! Quem é que tem paciência para esperar que amadureçam?


Eu peço desculpa às minhas amigas brasileiras (em número crescente) mas não me posso pronunciar sobre certos temas, como estes:


Não sei se as bananas e os abacaxis são melhores quentes e verdes, pois nunca provei.


De resto, aqui (à Europa???) só chegaram há séculos as frutas muito boas no que diz respeito ao sabor. Agora estão a chegar as que são boas noutros aspectos, como o kiwi, as papaias, não sei mais o quê.
Confesso que sou muito conservadora neste aspecto.