Hoje, em Lisboa, o dia Um de Janeiro nasceu moribundo e assim mesmo se extinguiu.
"Negro como um tição", sem "pinga de sol", chovia continuamente e havia uma névoa inusual nesta terra.
Gosto de dias assim, sobretudo porque aqui são raros.
Não havia nada aberto, nem mesmo os chineses que vendem terra, para eu plantar esta plantinha selvagem (só uma) que trouxe e que está provisoriamente num vaso emprestado.
Nada mais me restou, a não ser ir ver o filme Austrália.
É um dos melhores filmes que vi na vida, dentro do estilo cinema americano, ou seja, de acção, de romance, de suspense e com uma estrutura narrativa própria do romance do Sec. XIX e dos actuais romances, que, à americana, se escrevem para vender. Embora o filme seja australiano, ou pelo menos é-o o seu realizador.
Curiosamente, a actriz principal pareceu-me demasiado magra, o que me teria agradado muito quando eu própria era demasiado magra, mas que agora me pareceu inverosímil. Tão fraca, tão pálida, onde foi buscar tanta força, pergunto, sendo verdade que eu também tinha uma saúde de ferro, mas força física, nem vê-la.
Penso que o cinema, se quer ser uma arte, deve evoluir e não copiar o que vende bem. Penso que não devemos imitar o cimema americano, nem confundir arte com entretenimento.
O problema actual é entreter milhões de pessoas que não são capazes de ler um livro, nem de se sentarem à lareira a conversar com os filhos e netos, nem de inventarem um modo de se sentirem bem sem se aturdirem. O Know how existe, mas não se transmite de geração em geração: os avós ou bisavós não viam televisão nem eram mais infelizes por isso; talvez sofressem menos de tédio. Mas não podem transmitir essa capacidade, sob pena de serem considerados arcaicos.
Mas, dentro do estilo americano, este é dos melhores filmes que já vi.
Também fala do saber que se transmite de geração em geração e que é considerado ignorância. É um filme épico, romanesco, idealista, de acção e muito belo. Só não percebi se a personagem principal existiu mesmo, ou se é inventada.