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sexta-feira, julho 27, 2007

"O Império à Deriva"

Tenho lido e relido algumas coisas e deixo aqui algumas sugestões para férias.
"O Império à Deriva" de Patrick Wilcken. Ver entrevista


Não é um romance histórico, para variar, é mesmo história real, mas contada de modo aprazível. Alguns episódios são tão incríveis que nem podiam ser inventados, como este: à chegada ao Brasil, os que lá viviam esperariam ver uma corte europeia em todo o seu esplendor, mas o que viram foi bem diverso: a nossa rainha e muitas nobres da corte chegaram lá de cabeça rapada porque tinha havido uma praga de piolhos no barco em que seguiam.
Para além disso, muitos nobres (homens e mulheres) tinham fugido com a roupa que levavam no corpo e, como a viagem foi péssima, horrível, chegaram lá imundos e esfarrapados (e carecas). Viram-se mesmo na necessidade de pedir roupa e perucas emprestadas ao que já lá viviam. Enfim, o primeiro impacto não foi famoso e parece até que os brasileiros ficaram sempre com uma impressão horrenda dessa gente. Como o autor não é português nem brasileiro, a perspectiva é interessante e fiável. Acha, além disso, que foi um momento único e irrepetido da história do mundo, explicando porquê.

Ando a ler também, à mistura com outros, "O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo" de Luís Rosa. Isto segue mais ou menos a moda do romance histórico, mas as partes que se referem à realidade histórica são muito interessantes. O autor não resiste (sabe-se lá porquê) a tentar demonstrar que os portugueses são todos mais ou menos tarados sexuais, desde os reis e até aos bispos, passando pelo povo. Isto corresponde em parte à moda do romance histórico, que seduz desta maneira, mas este torna-se chato, porque parece uma tese sobre o assunto. Também corresponde à mentalidade comum e à ideia de que os portugueses foram por esse mundo fora a fazer filhos, embora não tivessem essa intenção, nem fosse essa a ideia; eu creio que era essa a ideia, precisamente, e acredito na castidade, não só motivada pela religião, mas mesmo por razões várias.
De qualquer modo, o terramoto de Lisboa foi algo de realmente grandioso, sobretudo porque se estava no verdadeiro início da sociedade da comunicação, com os jornais. (Estou a falar a sério). Foi falado em todo o mundo e aparece nas obras de autores russos, filósofos franceses, etc. E todos os lisboetas sabem de cor a data: 1 de Novembro de 1755.

Estou também a reler um livro que me agrada por razões puramente literárias, "O Menino de Areia" de Tahar Ben Jelloun e que encontrei num alfarrabista.
Narra a história, inteiramente fictícia e às vezes falada de modo poético, de uma mulher árabe muçulmana, que o pai decidiu, logo desde o nascimento, que seria um homem. Como já tinha sete filhas e era uma humilhação para ele não conseguir ter um rapaz, além de se perder a herança, que, segundo "O Alcorão" se transmite por via masculina, resolveu espalhar aos quatro ventos que tinha um filho, obrigando-a a viver uma existência falsa, mas que não lhe desagrada, uma vez que a coloca acima de todas as outras mulheres, incluindo as irmãs, a mãe e a esposa.