quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Miséria poética

Navegando imaginariamente, enquanto janto, comendo e bebendo em frente às minhas janelas e olhando para o Monsanto, imagino e sonho que singro num navio no Mediterrâneo Oriental. Ou ao largo da Sicília.
As montanhas que vejo, (o Monsanto), ora são os montes gregos do Parnaso, ora as rivas escarpadas de certas regiões italianas, cujas cidades e vilarejos trepam a pique pelas encostas, alcandoradas nos penedos e ribanceiras, quais impacientes cabras monteses.


E ocorrem-me músicas e canções italianas: Torna a Surriento *... filmes italianos, telenovelas brasileiras em que entram pobres italianos, I Malavoglia **, magnífico retrato da miséria dos pescadores italianos. 


É uma miséria poética. Bella. 


Como hoje em dia tudo se vende, ou nada se vende, temos uma miséria vendável, literária e bela. Das regiões pobres de Itália. E a miséria comum, feia, escura e medonha. Nojenta e suja... Invendável, portanto! Como a nossa. E como todas as outras.



* No vídeo por Pavarotti, canção sobre a emigração italiana, de Nápoles, letra em dialecto napolitano. Ver letra em Escrevedoiros Clicar


**  Romance de Giuseppe Verga, autor também do libretto da ópera Cavaleria Rusticana... * (Trad. Cavalaria rústica / ou cavalheirismo rústico)


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