Este é mais um dos contos populares que ouvi na região de Entre-Douro e Minho, ou Douro Litoral.
Este foi contado pelo meu avô – no meu tempo chamou-lhe bicho da gripe, noutro tempo anterior chamou-lhe deflucho, mas creio que se refere ao vírus da gripe. Não conheço outro conto tradicional que se assemelhe a este.
É assim:
Uma vez, o bicho da gripe ia da aldeia para a cidade e encontrou uma aranha que vinha da cidade para a aldeia.
- Ó aranha, tu para ondes vais?
- Vou viver para a aldeia.
- E porquê?
- Porque na cidade andam sempre a limpar as casas, todos os dias me escangalham a teia e eu tenho que fazer outra nova.
Ao menos, na aldeia, só limpam a casa uma vez por ano, na Quaresma, e eu posso ficar com a minha teia o ano todo, uma teia grande, enorme…
E tu, bicho da gripe, para onde vais tu?
- Eu cá, vou-me mudar de vez para a cidade.
- E porquê, bicho da gripe (deflucho)?
- Eu, quando dou em alguma pessoa, cá na aldeia, ela mete-se à chuva, ao vento, a trabalhar como uma negra, trata-me mal… mata-me!
- Então e na cidade?
- Na cidade é que eu estou bem: metem-me na cama, no quentinho, muito agasalhadino, dão-me leite e mel, chazinhos, lá é que eu estou bem!
Moral da história: as pessoas da cidade são mais doentes do que as do campo porque tratam bem as doenças: os vírus, as bactérias, os bichos da gripe, os defluchos… mas tratam mal as aranhas.
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