Fala-se muito do livro e do filme "Comer, orar, amar", mas eu tenho ouvido mais vezes falar do sonho português (portuguese dream): comer, dormir, ver televisão.
Mais exactamente, tenho ouvido proclamar aos quatro ventos (não são sete ventos?) que os "ladrões e os assassinos" estão todos "lá dentro" a comer, dormir e ver televisão, sem precisarem de trabalhar para isso.
Por seu lado, os que estão cá fora e que são normais, para poderem comer, dormir e ver televisão, têm de trabalhar. E há aqueles que também estão cá fora, mas não podem comer, dormir e ver televisão porque não trabalham. Só podem dormir, que é grátis e para isso basta ter sono.
E depois há aqueles que estão cá fora e que recebem subsídio de desemprego e rendimento mínimo, nalguns casos os dois juntos, apesar de serem proprietários de prédios arrendados.
- E diz ela - diz ele - para que é que eu hei-de esfalfar-me a trabalhar, se posso receber o mesmo ou mais sem fazer nada?
(Não sei se perceberam que nunca é referida a ideia de trabalhar para aquecer, ou seja, trabalhar por gosto, para nos realizarmos, para exercermos os nossos dons, etc...)
E realmente, pessoas que conheci e que pareciam hiper-fanáticas do trabalho, de repente reformaram-se e fazem questão de dizer que se sentem felicíssimas. A fazer o quê? Ora, isso é fácil:
A comer, a dormir e a ver televisão.
Comer, orar e amar? Só se for sem trabalhar. E a ver televisão. Orar a ver televisão, amar a ver televisão.
E diz ele: - a culpa é do Grande Ladrão que Lá Está.
- Quem será o Grande Ladrão que Lá Está? - digo eu - A não ser que, por uma vez, eu tenha a mesma opinião que todo o mundo, o Grande Ladrão que Lá Está então deve ser... cala-te boca, que ele é muito capaz de lá permanecer... depois de ter dado de comer, de dormir e de ver televisão a tanta gente...
P.S: Li esse o livro já há bastante tempo e fiz comentários neste blogue sobre ele.
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