As televisões acabam de descobrir a pólvora: que há atestados médicos falsos.
Na verdade, estes atestados são considerados, na função pública, não como uma fraude, mas como mais uma burocracia chatíssima. Vou contar o que contou à Nadinha uma professora sua amiga. Escrevo como se fosse ela a escrever, na primeira pessoa.
- Um dia, cheguei atrasada, cinco minutos, a um exame que não se realizou por falta de alunos. Esta situação repetia-se todos os anos e o meu papel era estar numa sala à espera que os alunos me colocassem dúvidas sobre o teste, que tinha sido feito por mim. Ia muito a tempo, mesmo que o exame se tivesse realizado, mas não se realizou, e marcaram-me falta.
- Fui ter com as criaturas que me marcaram falta e expliquei-lhes a situação. Responderam:
- Desculpa, mas agora já tens falta. Mete um atestado médico.
Perplexa, respondi:
- Vocês estão a ver-me aqui, de perfeita saúde, pronta a trabalhar se houvesse trabalho a fazer e não há e dizem-me que meta um atestado médico a dizer que estou doente e impossibilitada de trabalhar? Não será melhor tirarem-me a falta?!
- Tu já tens falta. Vai falar com a Presidente da Escola! (ou lá como é que se chamava na altura, esse cargo).
- Fui falar com a criatura, a qual me respondeu:
- Não te preocupes. Tu já tens falta, claro. Mas mete um atestado médico.
O defeito está, obviamente, nas leis que só aceitam doenças como justificação para faltar e que aceitam um atestado médico contra qualquer outra evidência de saúde.
Quantas vezes ouvi eu declarações como esta e também ameaças de meter atestados médicos se houvesse alguma contrariedade.
- Os médicos limitavam-se a repor a normalidade e o bom senso, onde isto nunca existiu. Mil exemplos poderia dar , todos eles caricatos de uma forma ou de outra - acrescentou a professora, muito amiga da Nadinha.
- Ah, e o que aconteceu depois - perguntou a Nadinha.
- Recusei-me a justificar a falta e a meter atestado. Anos mais tarde, tiraram-ma. Até lá, esperaram que eu cedesse e já aceitavam só um requerimento, que me recusei a apresentar.
- O defeito, aliás, está logo no próprio conceito de falta, que começa entre os alunos, em crianças:
- Quantas faltas tens?
- Cinco!
- Só?!!!
Tudo isto pressupõe que podemos faltar ao trabalho ou às aulas sem nenhum motivo, a não ser ficar em casa a ver televisão. Este motivo não se distingue de outros, muito válidos, mas que não envolvem doenças.
E ai de quem discordar deste status quo.
E ai de quem discordar deste status quo.
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