Esta época de contínua mudança traz-nos sinais muito positivos. Que podem sempre ser vistos ao contrário, como negativos, mas existem maneiras mais modernas e mais antiquadas de ver as coisas.
É o caso desta notícia que me parece um sinal dos tempos, entre muitos outros.
Uma atleta, Diana Nyad, vai tentar percorrer a nado 165 quilómetros em 60 horas, desde Cuba até à Flórida. Se atingir a meta, superará o recorde mundial de nado em oceano, sem jaula, conquistado pela própria em 1979.
Terá apoio de várias pessoas e equipamentos, o que é caríssimo, ainda nem angariou todos os fundos necessários, mas fá-lo-á. Não podemos comparar esta situação com a de alguém que conta só com a cara e com a coragem.
Então, o que é que me extasiou nesta notícia? É que a senhora terá nessa altura 61 anos. Tentou antes, mas não deu, preparou-se bem e cá vai ela.
Também me encanta o acto de nadar, a que me tenho dedicado em exclusivo em termos de treino desportivo (ainda só em piscina aquecida), e que ela expõe como sendo assim:
“Nadar é a última forma de privação sensorial. És deixada sozinha com os teus pensamentos de um modo muito severo".
Talvez possa ser mesmo considerada uma forma de ascetismo, digo eu. Para aguentar a monotonia, canta mentalmente as músicas de que gosta e diz:
“Fisicamente, estou mais forte do que antes, embora fosse mais rápida quando tinha vinte e tal anos. Hoje sinto-me forte, poderosa e com sabedoria para lidar com as horas de resistência”- afirma.
É certo que já outros tentaram a mesma distância, mas dentro de jaulas, para os pretegerem dos tubarões. As jaulas são puxadas por barcos, o que facilita muito o esforço do nadador, claro.
Diana Nyad tentará fazer a viagem em 60 horas sem parar, são 164 Kilómetros, sem jaulas, e logo se verá. Se for comida por um tubarão, morrerá em glória e a tentar dar o máximo.
Aparentemente, o percurso não tem simbolismo político, apenas se considera a distância.
Se, na realidade, tiver dimensão política, então deve ser anarquista.
Gosto. Gosto Muito.
(Escrito em setembro de 2013: desta vez teve de desistir por causa de uma dor persistente numa perna, causada pelas medusas e finalmente conseguiu, aos 64 anos, sem gaiola de tubarões)