quarta-feira, julho 13, 2011

Viajar versus Fazer Turismo



Há umas décadas, os portugueses eram todos pobres, incluindo os ricos, que eram quase todos ricos pobres. Ou pobres ricos.
Depois, deixaram de ser pobres e começaram a viver como ricos, imitando o jet set internacional e tornando-se chiquérrimos...

Em termos de viagens, temos agora duas maneiras portuguesas de viajar: em direção às favelas de todo o mundo, como emigrantes, em direção aos hotéis de luxo de todo o mundo, conduzidos por guias turísticos que os desprezam: 
"Não sabem falar língua nenhuma, nem são capazes de ir a lado nenhum sozinhos, sempre grudados nos guias" - Dizia-me, há uns anos, uma guia turística grega, na Grécia, tentando impingir-me uma senhora que não a largava...


Toda a gente diz, em Portugal, a começar pelos agentes de viagens, que para Cabo Verde e outros países como este só se pode ficar em hotéis de 4 ou 5 estrelas, de preferência 5 e, mesmo assim, não se pode comer isto, nem beber aquilo, nem fazer isto, nem dizer aquilo: tudo coisas que não se podem fazer.

Como se vê na imagem, só os pobres dos alemães e os pobres dos ingleses é que se aventuram em casas de hóspedes como esta, que nem tem informação em português. A dormida custa 10 ou 15 euros e também servem as refeições. Tudo coisas que os portugueses não podem comer...
É a diferença entre viajar e fazer turismo.
O que se poupa, dá à vontade para fazer outra viagem. Estar confortável em casa é para quando se está em casa. Em viagem é para ver o que há cá fora. O corpo exausto de caminhar,  a mente exausta de mil sensações, adormecem rapidamente em qualquer sítio.
Mas não se tem mil sensações a viajar em pullmans de luxo. De qualquer forma, aqui também não os há...
LOL
 Algo que talvez surpreenda, é que se encontram aqui em toda a parte casas de banho a brilhar de limpeza, mesmo quando as torneiras não deitam água, que é escassa.
estou no Aparthotel Avenida, 3 estrelas, bastante satisfeita. Os noruegueses estão na Residencial Jenny, também satisfeitos e estiveram no minúsculo e único hotel de Ponta do Sol.
A casa de hóspedes da foto é também em Ponta do Sol, para onde as pessoas vão fazer caminhadas pelas montanhas.

terça-feira, julho 12, 2011

Ribeira Grande, Ilha de Santo Antão








Esta terra, Ribeira Grande, capital da Ilha de Santo Antão, não tem mesmo nada de interessante, a não ser, talvez, a sua desolação completa, rodeada de rochedos escarpados e secos.


(Escrito mais tarde, em 5  de Setembro de 2013: um amigo do Facebook, natural desta terra, protesta contra este comentário. É apenas uma impressão de viagem, aceitam-se outras opiniões, por exemplo, como comentários.)

Ilha de Santo Antão









Ainda mal tinha desembarcado do navio Mar D' Canal, da companhia Armas (pormenores para o Luís Miguel e o João), apareceu logo um rapaz com um Toyota vazio a propor levar-me à Ribeira Grande, a capital, por 4 000 escudos, 40 Euros. Achei caro, o Toyota pode demorar horas a encher, tem 15 lugares, mas podem sempre ir mais e todas as crianças que couberem ao colo. Além disso, queria ver a cidade portuária de Porto Novo.
Rapidamente descobri que não havia nada para ver. Foi então que apareceu o Sr. Vitorino, com um Toyota cheio, propondo a mesma viagem por 350 escudos ou até à terra dele, Ponta do Sol, por 400 (preço regulamentar).  Com a vantagem de ir à frente e ele mostrar as coisas bonitas.
Fui a Ponta do Sol, aldeiazinha de pescadores muito bonita, com mais estruturas turísticas do que a capital, que me surpreendeu imenso, pois nunca vi uma terra assim. Fotos noutro post.

Quando queria regressar da Ribeira Grande, para onde fui noutro Toyota por 50 escudos (50 cêntimos), os condutores de Toyota massacraram-e com toda a espécie de propostas. Telefonei ao Vitorino, como todos lhe chamam, que me veio logo buscar. Levou-me a casa dele, apresentou-me o filho, fomos buscar uns noruegueses ao pequeno hotel da terra, uma família de cabo-verdianos a casa deles, mais uns recados, "uns papele", uma fruta a casa duma senhora que chegou de Portugal e nunca mais saíamos de Ponta do Sol e muito menos de Ribeira Grande, mas já havia grande festa no Toyota, com comes e bebes.

Pediu-me que pusesse aqui o número de telefone dele, para os portugueses que forem a Santo Antão. De facto, nós, portugueses, temos muito pouca partilha de informações de viagem, pois quase só se viaja em agências, com guias turísticos a tratar de tudo...

Vitorino (Santo Antão), 9895260

(Foto acima)
Faz tudo o que pode a toda a gente e mostra as coisas bonitas pelo caminho, dizendo os nomes. Fala um português acrioulado, falar devagar ao telefone.

segunda-feira, julho 11, 2011

Mindelo





Centro do Mindelo e arquitectura colonial do Sec. XIX, de influência portuguesa e inglesa.
A Rua de Lisboa tem, na verdade outro nome, qualquer coisa como: Rua dos Heróis da Libertação. Ironicamente ou não, todos lhe chamam Rua de Lisboa.
Mas não é só aqui que se nota ser a libertação não demasiado importante para esta gente. Tratam os portugueses como conterrâneos, chamam a Portugal "nossa terra" e são fãs do Benfica, como se vê no vestuário da menina da foto no post "Baía das Gatas".

No interior / exterior do café Lisboa: a senhora faz as despesas da conversa, sem fazer as despesas do café. Como falam em crioulo, pouco entendo, a não ser isto:
- Que mais quer? Tem casa, tem catchupa...
- Andam a gozar o crioulo!

Ah, a propósito, a partir de agora, podem tratar-me por Senhora Branca. Em vez de Nadinha. É como me chamam aqui.

domingo, julho 10, 2011

Baía das Gatas







É um sítio muito bonito, mas a praia não me parece grande coisa. Lugar indicado para nadar e mergulhar, mas a água, morna e parada, dá pelo joelho ou pela cintura, no máximo.
Boa para chapinhar.

Esperva encontrar equipamentos  para mergulho, mas aqui não há nada disso.
Há muitas casas em construção, irá tornar-se turístico. Como seria bom comprar aquele terreno, mesmo em cima do mar e construir lá uma casa!
Se quiserem, é só ligar para aquele número.

Cantam enquanto choram





Mindelo não é parecido com nenhum outro lugar que conheça.


Dizem que Cabo Verde, em vez de europeizar a influência africana, africanizou a influência europeia. Daí a sua originalidade.

Mas a maior originalidade é a música, que até se ouve nos funerias, em que as pessoas choram a cantar.

E cantam bem. Mas depois falo disso. Aí, com tempo.

Tem algumas estruturas turísticas, mas ainda poucas. Felizmente.

(Foto 1: escultura de William Sweetlove, à venda em galeria de arte.)

sábado, julho 09, 2011

Salamansa







Salamansa é assim.
A praia de águas mornas é extensa e deserta, é uma zona piscatória.
Mas não estou sozinha. Aquelas duas meninas incitam-me a ir para a água e brincam comigo. As mães esperam ao longe.

Há muito para construir. Muitíssimo, mesmo.
O condutor e dono do Toyota que me trouxe, ex-emigrante na Holanda e de origem afro-holandesa, vai abrir amanhã o primeiro barzinho na praia, uma estrutura simples, de estacas. É assim que se começa...

Legenda da primeira fotografia: excursão de crianças, aparentemente para ocupar os tempos livres, pois estão de férias. Na terceira foto: crianças de Salamansa.

Para Salamansa






Se alguém quer deslocar-se a locais fora da cidade do Mindelo, vai de Toyota, transporte que se chama assim porque se realiza em carrinhas Toyota. As pessoas entram e saem, têm de caber todas e a carga tem de caber em cima, se houver tejadilho, ou dentro, mas eu tenho o direito de ir à frente, ocupando dois lugares.
Os outros comentam, a rir, falando um crioulo que não entendo, mas o tom parece mais brejeiro do que agressivo. O preço é 100 Escudos, mais ou menos um Euro, para todos.
Pelo caminho, uma paisagem lunar, pontuada apenas pelos fios eléctricos, que levam a luz à terra para onde vamos.

Mindelo, Ilha de São Vicente: Comércio





Em todo o lado o comércio embeleza a vida das pessoas e a paisagem. Aqui, faz-se em grande parte nas ruas, pela fresca do entardecer (última foto),ou à sombra, no calor tropical.

sexta-feira, julho 08, 2011