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sábado, janeiro 06, 2024

Mindelo, os peixes, os pescadores e os gatos












Mindelo. E onde há peixe, há gato feliz!
Nos comentários surgiu um diferendo sobre aquele peixe, que é atum vermelho, o melhor, mas em vias de extinção.

Mindelo, Café Lisboa

 


Quando aqui estive, este café era pequenino e as mulheres ficavam debruçadas à janela do lado de fora a conversar com quem estava dentro. (Está no blogue, na viagem a São Vivente.)

Mas agora é um restaurante chique, até serve lagosta por 25 euros. E até tem Internet, que estou a usar.
As pessoas continuam a ser simpaticíssimas! O barco tem um shuttle que custa 15 euros do porto ao centro da cidade. Uns brasileiros perguntaram a um autóctone quanto custaria um táxi: dois euros, duzentos escudos de cá. Quanto tempo demora? Cinco minutos. E a pé? Também cinco minutos. Lol. Teve razão, dez minutos, talvez, também me parecia que era pertíssimo..

Porto Grande, Mindelo







 

Porto Grande, um porto que tem este rochedo no meio, cidade do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde.
Acho que vocês vão gostar de ler o que escrevi em tempo no blogue, creio que antes de haver Facebook e que alguns de vocês já leram. Partilho aqui, antes deste post.
Também vou por alguns destes no blogue, para poderem ser vistos ou lidos em qualquer altura. O blogue tem um sítio de pesquisa, basta escrever o que queremos.

Mindelo

 



3 / 12 / 2023

Gosto muito do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde. Em tempos passei aqui uma semana em que não preguei olho, porque em Cabo Verde existe o costume de tocar música toda a santa noite. E com muitos decibéis… foi uma viagem muito engraçada que partilhei no meu blogue Terra e Mundo, pois ainda não havia Facebook. Quem leu, gostou muito e vocês também podem ver, pois o blogue ainda existe. A ilha não tem muito que ver, fui a uma praia maravilhosa, nessa altura, onde umas mulheres me perguntaram se eu ia comprar bebés. Fiquei tão chocada, que nem me quero lembrar. Fiquei com a impressão de que existia um comércio com oferta e procura. Para começar, nem gosto de bebés… uma das vantagens deste cruzeiro é que as crianças estão na escola. Há só umas duas ou três… talvez do ensino doméstico.

Alguns de vocês já leram estes posts, alguns são meus amigos virtuais (outros reais) dessa época.

Link para este blogue

quarta-feira, dezembro 27, 2023

Adeus Ilha de Santiago

 




Bye bye Praia! So long! Eu aqui quase só falo inglês, tirando com duas brasileiras e uns portugueses… mas agora estou a faltar a um jantar dos que viajam sozinhos (muitos) para ver e vos fazer ver toda esta beleza!!!
E hoje tive o prazer de falar português com os cabo-verdianos, que logo desatam a falar em crioulo uns com os outros.





Estátuas de portugueses





Aqui ainda não pegou a moda de destruir as estátuas, pelo contrário, os guias locais mostram com grande orgulho, para espanto dos americanos, estas que dizem “A cidade da Praia reconhecida” (a dois governadores portugueses, um deles Serpa Pinto).
“Nem toda a gente é contra os colonos. E nós fomos colonizados por vários povos” - explicam eles.
Estátua de Diogo Gomes, descobridor da ilha de Santiago no séc. XV.
O nome cabo Verde foi dado em 1444 pelo navegador português Dinis Dias a um cabo agora pertencente ao Senegal, devido à vegetação luxuriante que cobre o promontório, em contraste com a aridez das terras do interior. Depois passou a designar as ilhas, tendo sido decidido recentemente na ONU que o nome não será traduzido, chamando-se Cabo Verde em todas as línguas.

Cidade da Praia










A cidade da Praia, ilha de Santiago e capital de Cabo Verde é linda e para já só conheço a parte nova.
Paisagens, mercados, ruas… abundância: de beleza e de frutos da terra.

terça-feira, dezembro 26, 2023

Ao longe ainda Cabo Verde








2 / 12 / 2023

Assim que o sol se levanta, avista-se a ilha de Santiago, cidade da Praia, capital de Cabo Verde, nosso próximo e imediato destino.
Bom dia!
“Logo que o sol se levanta
Vai Vilante ver seu gado
Mas não vê sol levantado
Quem vê primeiro a Vilante”
Camões










 

segunda-feira, julho 18, 2011

"Nha Cretcheu" e Literatura de Cabo Verde


Ouvi e li por toda a parte em cabo Verde esta expressão "Nha Cretcheu". Procuro na net e descubro o seu significado:

Literalmente, cretcheu quer dizer quero-te muito (cre-tcheu). Logo, nha cretcheu é meu amor, e por aí fora. Pode significar meu namorado, minha namorada, meu amor, etc...
"Nha Terra Nha Cretcheu", será algo como minha terra querida, amada, ou "minha terra, amo-te muito", ou assim...


Quando vou  a uma terra, gosto de ler obras literárias que lá foram produzidas, ou por autores dessa terra, ou por outros.
Regressada do Mindelo, continuo a ler um livro que refere constantemente esta cidade, embora a localize entre o início e meados do Sec. XX, período que abrange a revolução salazarista de 28 de Maio de 1923, sobre a qual parece ter boa opinião. É Oh! mar de túrbidas vagas  de Teixeira de Sousa.

Falando de literatura de Cabo Verde, refiro os autores que encontrei, enquanto consultava a biblioteca do instituto Camões, no Mindelo. 
Salientarei este escritor, Teixeira de Sousa, até pelos temas escolhidos, que me agradam muitíssimo: mares, navios, navegações. É um autor simpático, que não faz sofrer as suas personagens para além do necessário para inventar uma história romanesca. Nesse aspecto, faz lembrar Júlio Dinis: não há grandes conflitos, nem problemas que não se resolvam totalmente. Além disso, fala das navegações com muito conhecimento de causa.

O seu romance Oh! mar de túrbidas vagas é um retrato heróico dos marinheiros que nessa época faziam a travessia entre Cabo Verde e a América do Norte em barcos à vela, carregando produtos e passageiros, que assim emigravam, numa viagem turbulenta e  incerta.
Tem outros livros sobre navegações, que espero encontrar em Portugal, pois de momento interesso-me por narrações de vidas simples, como se fossem arquétipos de vidas, casas, barcos, etc.
Mas de repente, dou-me conta de que não se trata de escritor caboverdeano e sim português, ressuscitando uma questão de que nós, portugueses, nunca ouvimos falar, mas que é muito polémica no Brasil e nessas terras. 
É o seguinte: o autor nasceu em Cabo Verde, que era Portugal nessa época. Após a independência, vem para Portugal viver em Oeiras, onde morre. 
Assim, podemos considerar portugueses os escritores e artistas das colónias portuguesas até à sua independência, o que as deixa sem literatura nem arte.

Neste caso particular, sendo aparentemente Salazarista, este escritor seria completamente ignorado em Portugal após a revolução de 74, como aconteceu com outros.

Um outro autor,  presente neste livro como personagem aludida, dificilmente seria considerado português. Trata-se do poeta popular 

Eugénio Tavares, que escreveu em crioulo muitos dos seus poemas. É dele o verso que dá título ao romance ("Oh! mar de túrbidas vagas" ou "ondas", da sua Canção ao Mar, vídeo abaixo) e de muitas letras de mornas caboverdeanas. Mornas parece derivar da palavra inglesa mourn, significando luto, tristeza, etc. 

Despertou-me muita curiosidade Baltasar Lopes e o seu livro Chiquinho, que, segundo me disseram lá, não existe à venda porque os herdeiros não permitem a publicação das suas obras. Tentarei encontrá-lo num alfarrabista, pois também poderá ser considerado, ou ter sido considerado escritor português.


Germano Almeida: já tinha lido o livro O Testamento do Senhor Nepumoceno da Silva Araújo, mas parece-me que o comprei no Brasil. É um livro muito original, que me ficou na memória, tratando sobretudo de convenções sociais, hipocrisia social, atitudes consideradas correctas, etc. O autor vive em Cabo Verde, na actualidade.




De Orlanda Amarílis, Ilhéu dos Pássaros, agradou-me pelo título e pelo que li, folheando e me pareceu interessante. O mesmo para 

Dina Salústio, com o livro A Louca de Serrano.

Amor na Ilha e outras Paragens, de Camila Mont-Rond, que comprei e li, tem alguma graça e alguma cor local, com referência, por exemplo, à época da Independência e sequentes atitudes dos jovens, mas as vírgulas estão todas fora do sítio e não existe fio condutor da narrativa que é autobiográfica, com episódios desgarrados sobre a família. É como se fosse um livro de contos disfarçado de romance. Trata-se, contudo, de um primeiro livro.


Esta autora tem a particularidade engraçada de ter nascido num navio em viagem de Cabo Verde para Lisboa. Consta da sua certidão de nascimento a latitude a longitude do navio nesse momento.




Morabeza







Posted by Picasa
Alguns fizeram comentários, no blogue e no Facebook, dizendo que tinham saudades do Mindelo, o que me surpreendeu a princípio, pois não são de cá.
Compreendo agora que qualquer um que conheça esta terra e estas gentes poderá vir a ter saudades.
É uma gente simpática, calma e delicada.
É a Morabeza: vejo, na nota do livro que ando a ler, o seu significado. Substantivo correspondente ao adjectivo morabi, que significa amável, amorável, hospitaleiro, simpático (em crioulo).

Se entramos numa loja e ficamos à espera que nos atendam, eles também ficam à espera que digamos alguma coisa, por tempo indefinido.
O que não dá é para pedir informações a qualquer um, até porque muitos não falam português, embora os jovens já tenham tantos estudos como os jovens portugueses. Pergunto a uma menina do café, mostrando-lhe um mapa, se é possível ir ao Ilhéu dos Pássaros.
- Podes.
- Como é que se vai?
- De táxi.
- De táxi? Mas é uma ilha. No mar!
- Vais de táxi até ali - apontando no mapa - e depois sobes.
Fiquei na mesma, o que aconteceu muitas vezes. Afinal, para ir à dita ilha, era preciso pedir autorização à capitania do porto, era muito complicado.

(Na segunda foto, são todas do Mindelo, vê-se uma réplica da nossa Torre de Belém. Um mamarracho. A última é do Palácio do Governo).

sábado, julho 16, 2011

Com o coração cheio de alegria

Ao aterrar em Lisboa, doíam-me os ouvidos. E estava a ler, com interesse, uma obra literária passada em Cabo Verde, com gente simples, no início do século passado. Chama-se Oh mar de túrbidas vagas, o autor é  Teixeira de Sousa. Ao meu lado, seguiam duas senhoras, mãe e filha. Deslocavam-se a Lisboa para uma consulta da mãe, que teve um AVC, mas já passou, paga por filhos emigrantes na América, em França e na Holanda.

Apeteceu-me mostrar-lhes a terra. Quando vejo Lisboa, os ouvidos doem-me menos ao aterrar, calculo que doam muito mais aos estrangeiros, sobretudo àqueles que ainda não conhecem esta nossa cidade.

- Vejam! Isto é Lisboa! Tão a ver???

A simpática senhora de idade e a filha estavam de mãos dadas e olhos cerrados, agarradíssimas, a tremer  e a morrer de medo, como quem diz que, se o avião caísse, iam assim as duas para algures, grudadinhas uma na outra.

- Graças a Deus que aterrámos aqui nesta terra, com saúde e com o coração cheio de alegria! - Exclama a senhora mais velha, assim que se sentiu em segurança.

-Ah! Pois! Claro!


Ao reflectir sobre estas palavras, constato que também eu tenho o coração cheio de alegria.

sexta-feira, julho 15, 2011

Literatura de Cabo Verde



Não seria razoável eu ir a Cabo Verde pela segunda vez, onde conheci um português casado com uma caboverdiana, vivendo ambos na Holanda... e a ela também...

Não seria normal em mim ir lá, apresentar um ponto de vista crítico daqui e de lá, sem falar da literatura caboverdeana.

Cenas dos próximos capítulos: o pouco que sei e o muito que gostaria de saber sobre este nebuloso assunto, nebuloso em todos os países da terra.

Mosquitos, ou lá o que é




O pior defeito que vejo em Cabo Verde é, sempre que cá venho, ficar picada que nem um crivo por insectos invisíveis.
São tão atrasados que em vez de serem repelidos pelos repelentes de insectos, parecem ser atraído por eles.
- Ó mosquitos burros! Isto é re-pe-len-te! Percebem?
Não.
Descobri recentemente o que muita gente sabe: alguns insectos ainda são do tempo dos dinossauros.

Também estou um nadinha farta de comer inhame, mandioca, batata doce, banana verde, ou, em alternativa, fast-food. Cachupa, as melhores que comi foram em Lisboa. Aqui é raro encontrar-se, embora a metáfora para "pão", em Cabo Verde, seja catchupa. É o que comem ao pequeno almoço. Mas não nos restaurantes.
Enfim, vou hoje embora e apetece-me ir.

Mas já começo a ter saudades do Mindelo e desta gente boa.
(N.B.: Na ilha de São Vicente não há grandes problemas com insectos. Na de Santo Antão, sim.)

quinta-feira, julho 14, 2011

Areias




Da última vez que vim a Cabo Verde, parti o nariz na praia, o que foi óptimo, pois estava a precisar de ser operada a uma fractura que fiz aos sete meses de idade. Ou que me fizeram.
O Dr. Diogo pôs-me um nariz novo, mais funcional e mais bonito...

O meu pouco amor à praia foi ainda dissuadido por estas areias que me pareceram imundas, nojentas e cheias de gasóleo. Afinal, era apenas areia preta, misturada com branca, em camadas distintas. Uma camada de areia grossa e outra camada de areia fina. E a água tão morna, tão macia que até parece doce...
Descubro isto no último dia. De facto, o rapaz da agência de viagens disse-me que eu tinha direito a algumas informações, mas que ninguém quer, não vale a pena, todos dizem...
- Diga-me só...
- Não, para lhe dar informações temos de combinar um dia, uma hora... e você tem de estar no hotel, à minha espera.
- Então esqueça.

Os europeus nunca estão preparados para este descarada preguiça dos agentes de viagens, que só vi aqui e no Brasil.

San Pêde (São Pedro)





Alguém espera que o transporte privativo para um Resor de Luxo, O Foya Branca, em são Pedro, seja aquela carroça enferrujada e sem marcas nenhumas?
Perdi-a várias vezes, não só por ser assim, mas também porque nem sempre aparece quando era suposto.
Os transportes, aqui, são o fim. Também há táxis, mas não me apetece ir sozinha com uma criatura, pois os homens aqui são muito atiradiços... 

Acabei por ir de Toyota (também chamado Hiace)(Ver posts anteriores), um dos mais mixurucas que vi. Pelo caminho gozaram muito com o meu português que lhes parecia excessivo e pomposo, mas ensinaram-me crioulo:
- Tant' é?
- Bô Cré?
- Tant' Bô Cré?
Tradução: Quanto é? Você, o que quer?
Digo você, mas em português todos se tratam e nos tratam por tu. Bô é mais parecido com você, não acham?


Bem , a minha querida amiga Clara, linguista, que esteve por estes dias num congresso sobre crioulos, diz ela que por coincidência, talvez nos possa esclarecer.
Mas receio não entendermos a explicação, demasiado erudita. E a Claríssima não se enturmou ainda bem com a net, nunca conseguiu fazer aqui nenhum comment. LOL!


Foi a minha maior amiga na Universidade do Porto, era a melhor aluna do nosso curso. Eu era uma criatura com problemas existenciais, orfã recente de pai e mãe. Ela, só de mãe.