Só ontem fui ver a peça de teatro Sonata umaOutono, baseada no filme homónimo de Ingmar Bergman. Como a actriz principal era a Fernanda Lapa, uma das minhas actrizes preferidas, eu já sabia que ia gostar muito, mesmo se a encenadora não fosse também a Fernanda Lapa. E isto é para não referir que as primeiras exibições, incluindo a estreia, nunca são as melhores.
É claro que gostei da peça. É sobre uma mulher, pianista, que descura o papel de mãe e de esposa para se dedicar à arte para a qual é dotada.
É sobre a arte, essa tirana que não permite que alguém possa conformar-se à rotina, ao dia-a-dia convencional e a uma vidinha boa.
É sobre a condição feminina, sobre a mulher que não pode amar incondicional e imoderadamente.
É sobre a arte, essa maravilhosa tirana que não deixa repousar aqueles que a amam, condenando-os à inquietação, à solidão, à tristeza, talvez à culpa, mas também à insubmissão, à felicidade buscada sem trégua, mesmo à custa do desejo de viver, à ressurreição.
É sobre a beleza, essa maravilhosa tirana que não permite que alguns a amem moderadamente.
É sobre a arte, essa que não pode nem deve ser partilhada, não pode ser dividida, não pode ser amada moderadamente por aqueles que são escolhidos para a servir.
É sobre as mulheres, que só devem amar de forma moderada e doméstica.
2 comentários:
Que belo texto!!!
Bj.
Onbrigada, acho que fiquei inspirada pela peça.
BJS
Enviar um comentário