- Ó filho, chega-me a cadeira de rodas e os óculos de ver ao perto e os de ver ao longe e o aparelho de ouvir, porque eu tenho de ir trabalhar... ah, e a dentadura postiça, já me esquecia...
- Mas a avó já não pode...
- Ai eu não posso? E quem é que te sustenta a ti e á tua mulher e aos teus filhos? Tu já arranjaste emprego?
- Eu, não.
- E a tua mulher?
- Bem, ela trabalha na caixa do Pingo Doce...
- Pois, pois... mas ela não tirou um curso de Direito com média de 19?
- Tirar, tirou, mas não arranja emprego... até anda a fazer o doutoramento, mas...
- Então e tu não arranjaste um emprego como electricista?
- Arranjar arranjei, mas com as parcerias público-privadas... enfim... fui despedido.
- Mas e eu não te disse que te metesses na política, que arranjavas logo um emprego bom?
- Dizer disse, mamã, mas eu matriculei-me no MRPP.
- És atrasado mental? Eu não te disse que fosses para o PS, que arranjavas logo emprego na Parque Escolar e na Parpublica?
- Dizer disse...
- Chega-me as pastilhas do colesterol. E a lancheira com a sopa, que elas lá na cantina do meu emprego só me dão alheiras de Mirandela guisadas e farinheira de Setúbal com favas e bola de carne e de presunto de Lamego. E fazem-me tão mal ao meu fígado! E ao meu castrol!
- Credo, avozinha! Porque é que só lhe dão essas comidas?
- Porque é a campanha: Comer o que é Nosso!
- Comer o que é Nosso!? Que lata! Tudo o que é nosso faz mal ao castrol. E engorda!
- Pois. Então e o teu filho, não tinha arranjado um emprego na Comunicação Social? Que acabou o curso com média de 20 valores? Deve ganhar bem...
- Não, ele só arranjou um posto como figurante nos casamentos de Santo António...
- Porquê?
- Bem, ele até é muito bom, a chefa até diz que o vai propor para a substituir quando se reformar... mas a chefa só se pode reformar quando tiver 69 anos, por causa da Merkel.
- Quantos anos faltam?
- Vinte!
- Mas o rapaz não tem SIDA?
- Ter, tem.
- Então, nunca vai viver até a chefa se reformar...
- Pois, mas está a recibos verdes...
- Ah! Vá que não vá!
- Pois, mas não ganha nada!
- Também, porque é que ele se foi casar com aquele rapaz que tinha SIDA? E eu que tanto queria um neto!
- Vai ter duas netinhas. A irmã dele e a esposa dela estão ambas grávidas.
- De quem?
- Era para ser deles os dois como dadores, mas como têm SIDA, são de dadores anónimos. Mas, prontos! Vai ter duas netinhas. Ou até mais! Netos é que não, que elas não querem. E votam todos no PS, por causa do casamento gay, claros. Prontos.
- Claro, vou ter uma carrada de bisnetas. Nenhum rapaz. E viveis todos à minha custa! E ainda me dizes que não vá trabalhar!
- Mas a mamã não pode...
- Já viste os outros que trabalham comigo? São todos muito mais velhos do que eu... muita sorte tendes vós, por eu ser contínua numa escola básica... e por ser candidata do PS à Junta da Freguesia.
Cenas dos próximos capítulos: 11º Referendo sobre o Aborto
(Clicando no link abaixo, encontrar-se-á outros textos com este título genérico. Aparecem todos a seguir a este.)
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