segunda-feira, abril 01, 2013

Vermelho, encarnado, na França, em Espanha

Tenho visto na net estas dúvidas, que penso poder esclarecer, ou pelo menos, contribuir para o seu esclarecimento.

Vermelho ou encarnado? - a questão aqui é de conotação: vermelho evoca o comunismo. Encarnado evita essa conotação. Mas a carne nem sempre é vermelha,  há-a cor-de-rosa, branca...

Em França, em Espanha, ou na França, na Espanha? - A regra seria na, sendo o país de género feminino, mas existe a diferença que, geográfica e culturamente, são os países mais próximos de Portugal. Daí existir a variante em França, em Espanha. E Marrocos, geograficamente, razão pela qual não se diz aqui, no Marrocos.

Na verdade, a principal razão destas variantes diz respeito ao nível social do falante. Designa-se este fenómeno por variante diastrática.

Assim, sendo a alta burguesia portuguesa de Portugal inteiramente avessa às ideias comunistas ou mesmo socialistas, só diz encarnado. 

Os alunos daquela professora que é amiga da Nadinha respeitam muito a setôra, exceto quando ela diz "vermelho". Aí, como são, ou julgam ser, originários de classes elevadas, caem-lhe todos em cima: 
- "A palavra vermelho não existe. É encarnado que se diz!"
A própria Nadinha ouviu um pai ensinar ao filho:
- Vermelhos são os comunistas. Vermelho é um apalavra que não existe. É encarnado que se diz.
(Pois, algumas pessoas pensam e afirmam que certas palavras não existem, como por exemplo, os palavrões)

Quanto à diferença: em França ou na França: Como já foi dito, tem a ver com proximidade geográfica e cultural com Portugal, mas essa diferença é tanto menor quanto maior é o nível socio-económico-cultural: sendo assim, utiliza-se em, em vez de na. Até mesmo para dizer: em Itália, em Inglaterra, claro que também se diz em França, em Espanha, em Marrocos, mas não em Alemanha: lá está a diferença: distância cultural, que tem relação com a história recente deste país - diz-se: na Alemanha.


Ou seja, se um português diz vermelho, na França, na Espanha, não está cometer um erro, mas, em certos meios, pode ser considerado parolo *. O que é muito pior do que ser ignorante! :)
Ou seja, um tipo de nível social considerado elevado pode ser ignorante, pouco inteligente, pouco instruído, mas, nessas famílias, isso é muito menos grave do que ser culto, inteligente, instruído, mas pertencente a um nível social "inferior". É assim neste pequeno país à beira mar plantado e à beira da bancarrota.

À beira da bancarrota, por estas e por outras. 

O que se passa no Brasil? Não sei, aguardo comments, mas creio que nada disto faz qualquer sentido no português do Brasil ou no português de outros países de expressão portuguesa, nem  me parece que o português europeu sirva de norma para estes casos. As diferenças, nestes casos, designam-se por variantes diatópicas.

Gostaria de ver aqui comentários, sobretudo sobre este último ponto.


* Parolo = caipira. A palavra desta variante diastrática, em Portugal, é possidónio. Talvez nem por acaso, um dos mais conhecidos autores portugueses contemporâneos chama-se, precisamente: Possidónio Cachapa. Nome verdadeiro, que não substituiu por pseudónimo.

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