Quando vim morar para Lisboa, há bués, pode custar a crer, mas a baixa da cidade, ou seja, o centro de Lisboa era intransitável à noite, perigosíssimo.
Quase só havia prédios degradados, habitados por velhinhos e as ruas estavam infestadas de ladrões, de carteiristas, de traficantes.
Antes de vir viver para cá e de passagem, estando eu instalada no Hotel do Chiado, no Chiado, fui a uma farmácia aberta à noite para comprar algo, creio que gotas para os ouvidos. O farmacêutico informou-me que eu estava a arriscar muito, aquele zona era péssima, corria sérios riscos... seria o Rossio, ou o Martim Moniz ou algo assim.
Como nunca fui medrosa, ou já não era nessa época, considerei um exagero, tal aviso.
A certa altura, andei à procura de casa para morar e encontrei uma que me pareceu razoável, na Avenida da Liberdade. Era uma casa mobilada e partilhada, com espaços comuns. Como há agora para estudantes estrangeiros, mas não era o caso.
A senhora que ma mostrou incidiu muito na informação de que os colchões tinham proteção de plástico.
Como eu vivia noutro planeta, e apesar de a senhora me parecer um pouco grosseira, disse-lhe que não via vantagem nenhuma em tal coisa. Proteção de plástico?! para quê? Respondeu:
- Você é uma menina muito ingénua e muito bem educada, não é pessoa para viver aqui, mantenha-se a milhas da Avenida da Liberdade, é o conselho que lhe dou. Isto não é para si.
Alguns anos depois, a Avenida da Liberdade era uma das zonas mais caras e mais chiques de Lisboa.
Neste momento, Lisboa ainda se encontra com casas degradadas, prédios inteiros devolutos, como se vê nas fotos que tirei, caminhando dois ou três minutos numa zona central.
Especulação imobiliária? Gentrificação?
Outra fase.
(CONTINUA)
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