Depenem-se, tirem-se-lhe as vísceras, chamusquem-se e ponham-se a cozer em água e sal e um pouco de toucinho; retirem-se do caldo quando já meio cozidos, para se aproveitarem para guisar, e deite-se no caldo alguns bagos de arroz.
in 100 maneiras de cozinhar sôpas, Rosa Maria, Porto: Livraria Civilização, 1988. - 32 pp.
Notar o pormenor: 100 receitas em 32 páginas.
Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
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domingo, janeiro 18, 2009
segunda-feira, dezembro 01, 2008
A Pedrês: O Estado da Nação
A galinha pedrês, ao passear no monte, encontrou o ninheiro dos ovos das duas galinhas pretas.
Como estava choca (chocada? ver no dicionário), a pedrês decidiu chocar (ver dic.) os ovos das pretas.
Os outros animais da quinta protestaram:
- Ó pedrês! Esses ovos não são teus!
- Ai não? Então, tirem-me daqui!
- Dá pelo menos dois ovos às galinhas pretas, porque eles são todos delas!
(Filhas, neste contexto, as galinhas pretas opõem-se, como toda a gente sabe, às galinhas totalmente brancas, que são de aviário).
- Eu não cedo! Os ovos são meus!
Oito meses depois, estava a pedrês refastelada em cima dos ovos, voltaram à carga os outros animais da quinta.
- Ó pedrês, olha que nós agora estamos todos em perigo por tua causa.
- Ai sim? Não me pusessem aqui! Isto agora é meu! O ninheiro, o poleiro, o galo e os franganotes! Vocês não são coerentes? Eu sou. Vocês alguma vez pensaram que eu tinha bom feitio? Uma galinha choca é a coisa mais pequena e mais agressiva que existe. E a que melhor defende o seu território!
Foi grande o embaraço na quinta. Como correr com a pedrês?
Cenas dos próximos capítulos: não cai a pedrês, caem os pedreses. E os pedreiras.
Outra hipótese
Cenas dos próximos capítulos: ou a pedrês cai, ou cai a capoeira. Não perca!
Como estava choca (chocada? ver no dicionário), a pedrês decidiu chocar (ver dic.) os ovos das pretas.
Os outros animais da quinta protestaram:
- Ó pedrês! Esses ovos não são teus!
- Ai não? Então, tirem-me daqui!
- Dá pelo menos dois ovos às galinhas pretas, porque eles são todos delas!
(Filhas, neste contexto, as galinhas pretas opõem-se, como toda a gente sabe, às galinhas totalmente brancas, que são de aviário).
- Eu não cedo! Os ovos são meus!
Oito meses depois, estava a pedrês refastelada em cima dos ovos, voltaram à carga os outros animais da quinta.
- Ó pedrês, olha que nós agora estamos todos em perigo por tua causa.
- Ai sim? Não me pusessem aqui! Isto agora é meu! O ninheiro, o poleiro, o galo e os franganotes! Vocês não são coerentes? Eu sou. Vocês alguma vez pensaram que eu tinha bom feitio? Uma galinha choca é a coisa mais pequena e mais agressiva que existe. E a que melhor defende o seu território!
Foi grande o embaraço na quinta. Como correr com a pedrês?
Cenas dos próximos capítulos: não cai a pedrês, caem os pedreses. E os pedreiras.
Outra hipótese
Cenas dos próximos capítulos: ou a pedrês cai, ou cai a capoeira. Não perca!
sexta-feira, agosto 03, 2007
A senhora, se calhar...
A senhora, se calhar, nunca andou à porrada e se calhar até pensa que tem medo de andar à porrada.
Mas eu já andei muito à porrada. E a senhora, se andar à porrada é muito capaz de não ter medo nenhum.
Isso a senhora só sabe depois de andar à perrada. Ele dá cá uns nervos que a gente, a gente vai tudo à nossa frente.
Eu fui criada no Casal e a gente no Casal aprende muita coisa. Mas agora o Casal já não existe. Foi abaixo! Agora são só as casas modernas...
- Sabe a senhora? Isto são lutas de rua. Estas pessoas aprendem estas coisas nas lutas de rua. Começam logo quando são crianças, imagine!
- Eu já há muitos anos que não ando à porrada, mas... (sorriso extasiado)
- Confesse que tem saudades!
- Eu confesso que tenho saudades!
- Sabe, esta gente é assim. são as lutas de rua... aprendem tudo nas lutas de rua...
- Algumas mulheres são lixadas!
- Eu já andei à perrada com cinco!
- É verdade , é... é muito capaz de ser verdade!
- Eu andei à perrada com aquela gorda, chamavam-lhe a rainha do Casal. Toda a gente tinha medo dela. Foi ela e mais quatro!
Eu fui-me a ela e a mais quatro. E esfarrapei-a toda. Até lhe pus as ________ [os seios] à mostra. E depois o meu vizinho disse-me assim:
- Olha que tu és lixada! Esfarrapastes a Rainha do Casal toda. E até lhe pusestes as ________ à mostra e tudo!
- Não, sabe a senhora, algumas mulheres à perrada são lixadas! Piores do que nós, os homens. A senhora nunca andou à perrada, pois não? É que isso nota-se. Vê-se logo.
- Eu, o meu marido deu-me tanta porrada! Que eu tinha medo dele, eu tinha medo, terror, respeito, entende a senhora?
E um dia, logo pela manhã, o meu marido disse-me assim:- Olha que eu dou-te um murro! Ainda estava eu deitada na cama e ele disse-me assim: Olha que eu dou-te um murro! Ouvistes?
E eu, que já estava farta de apanhar perrada, eu disse-lhe assim:
- Então anda cá dar-me o murro!
E ele veio para mim e eu dei-lhe tanta porrada, tanta, tanta, tanta, que ele queria sair pela janela, por aquela janela ali, vê a senhora, que é onde eu moro, que é para onde eu fui morar quando saí do Casal.
Imagine a Senhora que ele até teve que ir Morgue.
- Morgue? Morreu?!
- Não, o que ela quer dizer é que o marido teve que ir ao Instituto de Medicina Legal para analisar os ferimentos. É assim que se faz, quando há agressão física, entende?
- Entende a Senhora, ele fez queixa de mim à guarda e queria-me meter na cadeia. Mas eu não fui.
- Ele há mulheres que são lixadas!
- Por exemplo, eu que lutei no boxe, eu digo-lhe a si: - Ele há mulheres que são lixadas! Por exemplo, alguns homens, se virem três, um contra três, acobardam-se. Mas algumas mulheres não, se virem três mulheres não se acobardam!
- São lixadas!
- E eu fui sozinha contra cinco, que era a rainha do Casal, mais a mãe e as duas irmãs e mais a filha! E não tive medo, saiba a senhora. Deu-me uns nervos!!!!!
- Então e depois, o seu marido nunca mais lhe bateu?
- Ele às vezes batia-me, que os homens quando têm amantes batem nas mulheres. Quer-se dezer, alguns têm amantes e batem nas mulheres. Que alguns têm amantes e não batem nas mulheres. É conforme a maneira de ser. Está a ver a senhora?
- Pois, eu, por exemplo, como fui do boxe, eu se der um murro num, mato um. Eu sou muito calmo. Quando há algum problema eu sou o mais calmo. Olhe aqui. Apalpe aqui a senhora este músculo: vê? Isto é pedra. Se me derem aqui um murro não dói nada. Ora dê-me aqui um murro! A sério! Dê! Com força! Com mais força! Eu aguento, não dói nada! Mas há mulheres que são lixadas!
- Que eu agora, sabe a senhora, com este marido, este marido que eu tenho agora, eu às vezes dou-lhe perrada!
- Ai sim?! Você a ele?
- Pois. São os nervos. E ele só me diz assim: ele agarra-me e diz-me assim:
- Está queta! És meluca!?
- Há mulheres que são lexadas!
- Eu uma vez peguei numa faca assim deste tamanho e fui para ele... E ele dizia:
- Está queta!! És meluca!?
Que é muito perigoso, sabe a Senhora? É um perigo, pegar a gente assim numa faca deste tamanho, mas a gente...´São os nervos...
- Há algumas mulheres que são lexadas! Saiba a Senhora!
- Ora ponha aqui a mão na minha barriga! eu nem tenho barriga, vê? Dê-me um murro aqui na minha barriga! Com força! Com mais força! Eu, como sou do boxe, eu a mim não me dói nada!
- Está a ver a senhora?
(Este diálogo passou-se num café, não longe do extinto Casal Ventoso, referido como "Casal".
São intervenientes no diálogo: a Nadinha, que quase não fala porque é uma pessoa discreta e observadora, uma senhora que gosta de andar à porrada, o senhor dono do café e um senhor que foi pugilista e que até ganhou medalhas de pugilismo. Tentar adivinhar de quem são as falas.)
Mas eu já andei muito à porrada. E a senhora, se andar à porrada é muito capaz de não ter medo nenhum.
Isso a senhora só sabe depois de andar à perrada. Ele dá cá uns nervos que a gente, a gente vai tudo à nossa frente.
Eu fui criada no Casal e a gente no Casal aprende muita coisa. Mas agora o Casal já não existe. Foi abaixo! Agora são só as casas modernas...
- Sabe a senhora? Isto são lutas de rua. Estas pessoas aprendem estas coisas nas lutas de rua. Começam logo quando são crianças, imagine!
- Eu já há muitos anos que não ando à porrada, mas... (sorriso extasiado)
- Confesse que tem saudades!
- Eu confesso que tenho saudades!
- Sabe, esta gente é assim. são as lutas de rua... aprendem tudo nas lutas de rua...
- Algumas mulheres são lixadas!
- Eu já andei à perrada com cinco!
- É verdade , é... é muito capaz de ser verdade!
- Eu andei à perrada com aquela gorda, chamavam-lhe a rainha do Casal. Toda a gente tinha medo dela. Foi ela e mais quatro!
Eu fui-me a ela e a mais quatro. E esfarrapei-a toda. Até lhe pus as ________ [os seios] à mostra. E depois o meu vizinho disse-me assim:
- Olha que tu és lixada! Esfarrapastes a Rainha do Casal toda. E até lhe pusestes as ________ à mostra e tudo!
- Não, sabe a senhora, algumas mulheres à perrada são lixadas! Piores do que nós, os homens. A senhora nunca andou à perrada, pois não? É que isso nota-se. Vê-se logo.
- Eu, o meu marido deu-me tanta porrada! Que eu tinha medo dele, eu tinha medo, terror, respeito, entende a senhora?
E um dia, logo pela manhã, o meu marido disse-me assim:- Olha que eu dou-te um murro! Ainda estava eu deitada na cama e ele disse-me assim: Olha que eu dou-te um murro! Ouvistes?
E eu, que já estava farta de apanhar perrada, eu disse-lhe assim:
- Então anda cá dar-me o murro!
E ele veio para mim e eu dei-lhe tanta porrada, tanta, tanta, tanta, que ele queria sair pela janela, por aquela janela ali, vê a senhora, que é onde eu moro, que é para onde eu fui morar quando saí do Casal.
Imagine a Senhora que ele até teve que ir Morgue.
- Morgue? Morreu?!
- Não, o que ela quer dizer é que o marido teve que ir ao Instituto de Medicina Legal para analisar os ferimentos. É assim que se faz, quando há agressão física, entende?
- Entende a Senhora, ele fez queixa de mim à guarda e queria-me meter na cadeia. Mas eu não fui.
- Ele há mulheres que são lixadas!
- Por exemplo, eu que lutei no boxe, eu digo-lhe a si: - Ele há mulheres que são lixadas! Por exemplo, alguns homens, se virem três, um contra três, acobardam-se. Mas algumas mulheres não, se virem três mulheres não se acobardam!
- São lixadas!
- E eu fui sozinha contra cinco, que era a rainha do Casal, mais a mãe e as duas irmãs e mais a filha! E não tive medo, saiba a senhora. Deu-me uns nervos!!!!!
- Então e depois, o seu marido nunca mais lhe bateu?
- Ele às vezes batia-me, que os homens quando têm amantes batem nas mulheres. Quer-se dezer, alguns têm amantes e batem nas mulheres. Que alguns têm amantes e não batem nas mulheres. É conforme a maneira de ser. Está a ver a senhora?
- Pois, eu, por exemplo, como fui do boxe, eu se der um murro num, mato um. Eu sou muito calmo. Quando há algum problema eu sou o mais calmo. Olhe aqui. Apalpe aqui a senhora este músculo: vê? Isto é pedra. Se me derem aqui um murro não dói nada. Ora dê-me aqui um murro! A sério! Dê! Com força! Com mais força! Eu aguento, não dói nada! Mas há mulheres que são lixadas!
- Que eu agora, sabe a senhora, com este marido, este marido que eu tenho agora, eu às vezes dou-lhe perrada!
- Ai sim?! Você a ele?
- Pois. São os nervos. E ele só me diz assim: ele agarra-me e diz-me assim:
- Está queta! És meluca!?
- Há mulheres que são lexadas!
- Eu uma vez peguei numa faca assim deste tamanho e fui para ele... E ele dizia:
- Está queta!! És meluca!?
Que é muito perigoso, sabe a Senhora? É um perigo, pegar a gente assim numa faca deste tamanho, mas a gente...´São os nervos...
- Há algumas mulheres que são lexadas! Saiba a Senhora!
- Ora ponha aqui a mão na minha barriga! eu nem tenho barriga, vê? Dê-me um murro aqui na minha barriga! Com força! Com mais força! Eu, como sou do boxe, eu a mim não me dói nada!
- Está a ver a senhora?
(Este diálogo passou-se num café, não longe do extinto Casal Ventoso, referido como "Casal".
São intervenientes no diálogo: a Nadinha, que quase não fala porque é uma pessoa discreta e observadora, uma senhora que gosta de andar à porrada, o senhor dono do café e um senhor que foi pugilista e que até ganhou medalhas de pugilismo. Tentar adivinhar de quem são as falas.)
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