Quando falamos de privacidade das redes sociais, falamos de intimidade, claro.
A intimidade que os escritores e sobretudo os poetas, sempre expuseram "urbi et orbi".
A intimidade que tanto procuramos esconder e tanto revelamos sem querer.
A intimidade dos outros, que tanto nos faz aprender com eles e com todos e com tudo.
A intimidade, que pode ser tão inventada, tão fingida, como o fingimento poético.
Vejamos uma frase de Clarice Linspector, que trata o assunto de forma magistral, antes de existir o Facebook.
“A minha intimidade? Ela é a máquina de escrever. Sinto um gosto bom na boca quando penso.Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.Depois de certo tempo, cada um é responsável pela cara que tem.E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão.É uma infâmia nascer para morrer, não se sabe quando nem onde.Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.Na arte, a inspiração tem um toque de magia, porque é uma coisa absoluta, inexplicável. Não creio que venha de fora pra dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que emerge do mais profundo ‘eu’ da pessoa, do inconsciente individual, coletivo e cósmico.Não é saudade… Eu tenho agora minha infância mais do que quando ela decorria.Não me posso resumir, porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. E não me somo.O fato de ter nascido me estraga a saúde.O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo.”
— Clarice Lispector.