Fui ao supermercado do Corte Inglês, muito prosaicamente comprar uma mão-cheia de camarões prontos a comer, seguindo o conselho que me foi dado em tempos por uma amiga sensata.
Tinha eu ido a esse Centro Comercial para experimentar umas sandálias MBT. Já ouviram falar no calçado MBT? Se não ouviram, vejam na net. Custam entre 200 e 300 Euros, mas mandadas vir da net só custam 88.
Estava distraidamente à espera de ser atendida, quando vejo um homem, aparentemente estrangeiro, a olhar, profundamente comovido, para uma sapateira, habitante de um dos aquários que para ali estavam, sendo todos eles muito superpovoados.
O homem dava toques no vidro, como quem faz festas a um gatinho e, ilusão decerto, parecia-me ver a sapateira a corresponder a estas festinhas, ou com o olhar, granítico e cascudo, ou mexendo, talvez, uma patinha.
Fiquei um pouco a observar discretamente. Apeteceu-me perguntar ao senhor (seria espanhol? Há muitos espanhóis no Corte Inglês) se gostava daquela sapateira e se estava a comunicar com ela.
Mas não me pareceu possível: o senhor estava quase em estado de choque, tão emocionado como se estivesse a despedir-se de um condenado à morte. E condenado a ser comido.
Preferi afastar-me a imaginar e a recordar. Sim, quando uma vez estive quase a comprar uma lagosta para a deitar ao mar, na praia da Rocha. Porque ela andava a ensaiar um bailado macabro por cima do móvel onde estava o aquário de que tinha conseguido escapar. Na sala onde só nos encontrávamos nós as duas. Mas não me pareceu que ela comunicasse comigo. Nem em tinha dinheiro, nessa época, para a comer e muito menos para a libertar numa praia cheia de gente. Não estava de férias no Algarve, estava a trabalhar no Algarve.
E o homem? Coitado, será que comprou a sapateira para a deitar ao mar? Não me pareceu, antes parecia dar-lhe afecto, ânimo e coragem para enfrentar o destino...
Fez-me lembrar aquela psicóloga que falava com os animais, de que vos falei em tempos. VER AQUI.
Ele há gente!!!