Há vários blogues portugueses a denunciarem os erros históricos cometidos no vídeo que a Câmara de Cascais fez, para enviar aos Finlandeses. E vai fazer mais. *
A acreditar nesses blogues, quase nada, nesse vídeo, corresponde à verdade.
O que me saltou à vista, numa primeira visualização, foi a ideia peregrina de que Portugal aboliu a escravatura 100 anos antes dos Estados Unidos. De facto, é usual dizer-se que Portugal foi o 1º país a abolir a escravatura. Tenho discutido este assunto, que a princípio me despertou muita perplexidade. É um dos muitos mitos em que se baseia o orgulho português e quase que a própria identidade portuguesa.
O Marquês de Pombal aboliu a escravatura em 1761, mas só no papel. Aboliu-a em Portugal Continental e na Índia Portuguesa, quero dizer, nas colónias portuguesas na Índia, deixando bem claro ser muito importante que não faltassem escravos no Brasil.
Portugal tem uma das histórias mais vergonhosas do mundo no que diz respeito à escravatura e precisa duma mentira deste calibre para se branquear. É esta a origem dos mitos, quase todos inventados por Salazar e apaniguados.
A escravatura só foi abolida no Brasil muito depois da independência do Brasil, mais exactamente em 1888. Em território português, ela existiu na prática, ainda durante o Salazarismo e até ao 25 de Abril.
Não há muitos portugueses que saibam estes factos: quando, nas colónias africanas portuguesas, um "criado" negro não queria continuar a trabalhar para o português branco (eram ambos considerados portugueses, mas...), muitas vezes porque era espancado por ele, fugia.
Depois de fugir, era procurado e normalmente apanhado por uma polícia especial só para negros, constituída por negros e mulatos. Era espancado pela polícia por ter fugido e logo entregue ao antigo patrão.
Isto não é escravatura?
O romance "Equador" de Miguel Sousa Tavares explica bem, baseado numa investigação histórica, como a escravatura persistiu no Sec. XIX, com alguns disfarces legais, pouco disfarçados e nada legais.
Para não dizer que os portugueses se destacaram pela negativa no tráfico negreiro, até mesmo quando ele era proibido nos mares.
Quando se estudava, durante o Estado Novo, décadas de 60 e 70, aprendia-se que, entre as nossas muitas colónias, tínhamos Goa, Damão e Diu. Já não tínhamos. Era mentira.
Pobre da Terra Imunda que precise destas mentiras demasiado descaradas para se orgulhar de si mesma. Há-de haver motivos mais válidos.
Portugal pode orgulhar-se do que fez bem, não precisa de se orgulhar do que fez mal.
* N.B.: O vídeo está neste blogue, é o penúltimo post antes deste (Maio de 2011).
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