quinta-feira, julho 14, 2011

Areias




Da última vez que vim a Cabo Verde, parti o nariz na praia, o que foi óptimo, pois estava a precisar de ser operada a uma fractura que fiz aos sete meses de idade. Ou que me fizeram.
O Dr. Diogo pôs-me um nariz novo, mais funcional e mais bonito...

O meu pouco amor à praia foi ainda dissuadido por estas areias que me pareceram imundas, nojentas e cheias de gasóleo. Afinal, era apenas areia preta, misturada com branca, em camadas distintas. Uma camada de areia grossa e outra camada de areia fina. E a água tão morna, tão macia que até parece doce...
Descubro isto no último dia. De facto, o rapaz da agência de viagens disse-me que eu tinha direito a algumas informações, mas que ninguém quer, não vale a pena, todos dizem...
- Diga-me só...
- Não, para lhe dar informações temos de combinar um dia, uma hora... e você tem de estar no hotel, à minha espera.
- Então esqueça.

Os europeus nunca estão preparados para este descarada preguiça dos agentes de viagens, que só vi aqui e no Brasil.

San Pêde (São Pedro)





Alguém espera que o transporte privativo para um Resor de Luxo, O Foya Branca, em são Pedro, seja aquela carroça enferrujada e sem marcas nenhumas?
Perdi-a várias vezes, não só por ser assim, mas também porque nem sempre aparece quando era suposto.
Os transportes, aqui, são o fim. Também há táxis, mas não me apetece ir sozinha com uma criatura, pois os homens aqui são muito atiradiços... 

Acabei por ir de Toyota (também chamado Hiace)(Ver posts anteriores), um dos mais mixurucas que vi. Pelo caminho gozaram muito com o meu português que lhes parecia excessivo e pomposo, mas ensinaram-me crioulo:
- Tant' é?
- Bô Cré?
- Tant' Bô Cré?
Tradução: Quanto é? Você, o que quer?
Digo você, mas em português todos se tratam e nos tratam por tu. Bô é mais parecido com você, não acham?


Bem , a minha querida amiga Clara, linguista, que esteve por estes dias num congresso sobre crioulos, diz ela que por coincidência, talvez nos possa esclarecer.
Mas receio não entendermos a explicação, demasiado erudita. E a Claríssima não se enturmou ainda bem com a net, nunca conseguiu fazer aqui nenhum comment. LOL!


Foi a minha maior amiga na Universidade do Porto, era a melhor aluna do nosso curso. Eu era uma criatura com problemas existenciais, orfã recente de pai e mãe. Ela, só de mãe.

Gentes




Estas vendedoras, que aqui se chamam rabidantes, costumam estar sentadas, mas, quando vem a fiscalização, põem-se de pé, com as mercadorias à cabeça.
Incluindo os ovos.

quarta-feira, julho 13, 2011

Jardins


Reparar no jardinzinho. Numa terra que é muito seca...

Viajar versus Fazer Turismo



Há umas décadas, os portugueses eram todos pobres, incluindo os ricos, que eram quase todos ricos pobres. Ou pobres ricos.
Depois, deixaram de ser pobres e começaram a viver como ricos, imitando o jet set internacional e tornando-se chiquérrimos...

Em termos de viagens, temos agora duas maneiras portuguesas de viajar: em direção às favelas de todo o mundo, como emigrantes, em direção aos hotéis de luxo de todo o mundo, conduzidos por guias turísticos que os desprezam: 
"Não sabem falar língua nenhuma, nem são capazes de ir a lado nenhum sozinhos, sempre grudados nos guias" - Dizia-me, há uns anos, uma guia turística grega, na Grécia, tentando impingir-me uma senhora que não a largava...


Toda a gente diz, em Portugal, a começar pelos agentes de viagens, que para Cabo Verde e outros países como este só se pode ficar em hotéis de 4 ou 5 estrelas, de preferência 5 e, mesmo assim, não se pode comer isto, nem beber aquilo, nem fazer isto, nem dizer aquilo: tudo coisas que não se podem fazer.

Como se vê na imagem, só os pobres dos alemães e os pobres dos ingleses é que se aventuram em casas de hóspedes como esta, que nem tem informação em português. A dormida custa 10 ou 15 euros e também servem as refeições. Tudo coisas que os portugueses não podem comer...
É a diferença entre viajar e fazer turismo.
O que se poupa, dá à vontade para fazer outra viagem. Estar confortável em casa é para quando se está em casa. Em viagem é para ver o que há cá fora. O corpo exausto de caminhar,  a mente exausta de mil sensações, adormecem rapidamente em qualquer sítio.
Mas não se tem mil sensações a viajar em pullmans de luxo. De qualquer forma, aqui também não os há...
LOL
 Algo que talvez surpreenda, é que se encontram aqui em toda a parte casas de banho a brilhar de limpeza, mesmo quando as torneiras não deitam água, que é escassa.
estou no Aparthotel Avenida, 3 estrelas, bastante satisfeita. Os noruegueses estão na Residencial Jenny, também satisfeitos e estiveram no minúsculo e único hotel de Ponta do Sol.
A casa de hóspedes da foto é também em Ponta do Sol, para onde as pessoas vão fazer caminhadas pelas montanhas.

terça-feira, julho 12, 2011

Ribeira Grande, Ilha de Santo Antão








Esta terra, Ribeira Grande, capital da Ilha de Santo Antão, não tem mesmo nada de interessante, a não ser, talvez, a sua desolação completa, rodeada de rochedos escarpados e secos.


(Escrito mais tarde, em 5  de Setembro de 2013: um amigo do Facebook, natural desta terra, protesta contra este comentário. É apenas uma impressão de viagem, aceitam-se outras opiniões, por exemplo, como comentários.)

Ilha de Santo Antão









Ainda mal tinha desembarcado do navio Mar D' Canal, da companhia Armas (pormenores para o Luís Miguel e o João), apareceu logo um rapaz com um Toyota vazio a propor levar-me à Ribeira Grande, a capital, por 4 000 escudos, 40 Euros. Achei caro, o Toyota pode demorar horas a encher, tem 15 lugares, mas podem sempre ir mais e todas as crianças que couberem ao colo. Além disso, queria ver a cidade portuária de Porto Novo.
Rapidamente descobri que não havia nada para ver. Foi então que apareceu o Sr. Vitorino, com um Toyota cheio, propondo a mesma viagem por 350 escudos ou até à terra dele, Ponta do Sol, por 400 (preço regulamentar).  Com a vantagem de ir à frente e ele mostrar as coisas bonitas.
Fui a Ponta do Sol, aldeiazinha de pescadores muito bonita, com mais estruturas turísticas do que a capital, que me surpreendeu imenso, pois nunca vi uma terra assim. Fotos noutro post.

Quando queria regressar da Ribeira Grande, para onde fui noutro Toyota por 50 escudos (50 cêntimos), os condutores de Toyota massacraram-e com toda a espécie de propostas. Telefonei ao Vitorino, como todos lhe chamam, que me veio logo buscar. Levou-me a casa dele, apresentou-me o filho, fomos buscar uns noruegueses ao pequeno hotel da terra, uma família de cabo-verdianos a casa deles, mais uns recados, "uns papele", uma fruta a casa duma senhora que chegou de Portugal e nunca mais saíamos de Ponta do Sol e muito menos de Ribeira Grande, mas já havia grande festa no Toyota, com comes e bebes.

Pediu-me que pusesse aqui o número de telefone dele, para os portugueses que forem a Santo Antão. De facto, nós, portugueses, temos muito pouca partilha de informações de viagem, pois quase só se viaja em agências, com guias turísticos a tratar de tudo...

Vitorino (Santo Antão), 9895260

(Foto acima)
Faz tudo o que pode a toda a gente e mostra as coisas bonitas pelo caminho, dizendo os nomes. Fala um português acrioulado, falar devagar ao telefone.

segunda-feira, julho 11, 2011

Mindelo





Centro do Mindelo e arquitectura colonial do Sec. XIX, de influência portuguesa e inglesa.
A Rua de Lisboa tem, na verdade outro nome, qualquer coisa como: Rua dos Heróis da Libertação. Ironicamente ou não, todos lhe chamam Rua de Lisboa.
Mas não é só aqui que se nota ser a libertação não demasiado importante para esta gente. Tratam os portugueses como conterrâneos, chamam a Portugal "nossa terra" e são fãs do Benfica, como se vê no vestuário da menina da foto no post "Baía das Gatas".

No interior / exterior do café Lisboa: a senhora faz as despesas da conversa, sem fazer as despesas do café. Como falam em crioulo, pouco entendo, a não ser isto:
- Que mais quer? Tem casa, tem catchupa...
- Andam a gozar o crioulo!

Ah, a propósito, a partir de agora, podem tratar-me por Senhora Branca. Em vez de Nadinha. É como me chamam aqui.

domingo, julho 10, 2011

Baía das Gatas







É um sítio muito bonito, mas a praia não me parece grande coisa. Lugar indicado para nadar e mergulhar, mas a água, morna e parada, dá pelo joelho ou pela cintura, no máximo.
Boa para chapinhar.

Esperva encontrar equipamentos  para mergulho, mas aqui não há nada disso.
Há muitas casas em construção, irá tornar-se turístico. Como seria bom comprar aquele terreno, mesmo em cima do mar e construir lá uma casa!
Se quiserem, é só ligar para aquele número.

Cantam enquanto choram





Mindelo não é parecido com nenhum outro lugar que conheça.


Dizem que Cabo Verde, em vez de europeizar a influência africana, africanizou a influência europeia. Daí a sua originalidade.

Mas a maior originalidade é a música, que até se ouve nos funerias, em que as pessoas choram a cantar.

E cantam bem. Mas depois falo disso. Aí, com tempo.

Tem algumas estruturas turísticas, mas ainda poucas. Felizmente.

(Foto 1: escultura de William Sweetlove, à venda em galeria de arte.)

sábado, julho 09, 2011

Salamansa







Salamansa é assim.
A praia de águas mornas é extensa e deserta, é uma zona piscatória.
Mas não estou sozinha. Aquelas duas meninas incitam-me a ir para a água e brincam comigo. As mães esperam ao longe.

Há muito para construir. Muitíssimo, mesmo.
O condutor e dono do Toyota que me trouxe, ex-emigrante na Holanda e de origem afro-holandesa, vai abrir amanhã o primeiro barzinho na praia, uma estrutura simples, de estacas. É assim que se começa...

Legenda da primeira fotografia: excursão de crianças, aparentemente para ocupar os tempos livres, pois estão de férias. Na terceira foto: crianças de Salamansa.