quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O Reverendo Referendo

Existe, na obra Os Maias, um gato chamado Reverendo Bonifácio. Aparece só no princípio e já é velho. Há uns anos saiu no exame do 12º ano esse texto. Inúmeros alunos pensaram que o gato era um bispo e chamaram-lhe Referendo Bonifácio. Isto quer dizer alguma coisa, ou talvez várias...
Vem isto a propósito.
Pela 1ª vez desde que me lembro (não falo dos tempos do Camilo Castelo Branco), trava-se na sociedade portuguesa um debate em que uma das partes não faz figura de idiota e a outra de culta e arrogante - a sabedoria contra a ignorância.
Da outra vez, os argumentos do não eram ridículos, agora sáo de longe os melhores. Ganharam o debate. Creio que vão ganhar o referendo. E os do sim subiram de nível, também.
tudo estaria no melhor dos mundos possíveis , não fosse o carácter completamente obsoleto e descabido, ou seja, demagógico do referido reverendo referendo e a hipocrisia que manifesta. De facto, vivemos, em Portugal, uma época de endeusamento das crianças. Mas só de algumas.
Sempre que vejo alguém com um bebé, coloco logo um sorriso idiota, para imitar os que me rodeiam. se eu fosse simp´ática, além disso dar-lhe-ia muitos beijinhos, cheirava-o, lambia-o, dizia que perdia a cabeça sempre que vejo um, como vejo muita gente fazer à minha volta. E que sempre me pareceu esquisitíssimo.
um dia, num café, peguei numa ciganinha muito suja ao colo, para lhe dar metade4 do meu bolo. Disseram-me logo: "Cuidado, que a menina deve ter piolhos!", ao que respondi: "A meu ver, tu tens defeitos piores." mal a coloquei no chão, o empregado correu com a menina pela porta fora, muito agressivamente. Fiquei a saber que uma ciganinha imunda não é uma criança como as outras nem merece sorrisos idiotas e declarações de afecto. Mesmo que ande sozinha, a pedir.

Enfim, não posso votar. Não posso votar não por coerência, não consigo votar sim. Já me custou muito da outra vez e chega. O Graça Moura vota branco, eu abstenho-me, pois votar é concordar com o referendo.

Outro pormenor muito curioso: embora eu fale diariamente com pessoas que me são próximas em termos ideológicos, nunca ninguém se refere ao referendo. Nem mesmo as pessoas que lêem estes meus blogues. Também quer dizer alguma coisa, não quer?

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Estupor

Estupor, s. m. entorpecimento das faculdades intelectuais; assombro; pasmo; in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora ...

domingo, fevereiro 04, 2007

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Mar e Marinheiros: Passatempo

Todos nós usamos tantas expressões idiomáticas e tantos provérbios relacionados com o mar, como se fôssemos experimentados e velhos marinheiros. Não somos, mas herdámos dos que foram estas frases todas.


Vamos fazer aqui uma lista. Espero a vossa colaboração.


Há mais marés que marinheiros.
Foi tudo por água abaixo. (Tem como referência os naufrágios, mas aplica-se a tudo)
Quem foi ao mar, perdeu o lugar.
Há mar e mar, há ir e voltar.
Estou em maré de sorte... (ou o contrário)


etc. hoje não estou inspirada, mas pode ser que vocês estejam


E mais:


Quem vai ao mar avia-se em terra (contribuição da anónima Inteb).


E Mais:
Nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Pela boca morre o peixe
Filho de peixe sabe nadar
Tudo o que vem à rede é peixe (ou o contrário).
Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
Pássaros do mar em terra, sinal de vendaval.
Quanto maior é a nau, maior a tormenta
Quem nada não se afoga.
Vermelho para a serra, chuva na terra; vermelho para o mar, calor de rachar.
Nem tudo é um mar de rosas
Mais vale andar no mar alto, que nas bocas do mundo- (será provérbio?)
Arco-íris contra a serra, chuva na terra; arco-íris contra o mar, tira os bois e põe-te a lavrar ...
Mais pessoas se afogam no copo do que no mar - (será provérbio?)
Se o mar fosse de vinho, todo o mundo seria marinheiro (será provérbio?)
Gaivotas em terrra, tempestade no mar.
Marinheiro de água doce.
Lançar a âncora.
Águas mansas não fazem bons marinheiros.

terça-feira, janeiro 23, 2007

O Bicho da Gripe ou O Deflucho: Conto Popular

Este é mais um dos contos populares que ouvi na região de Entre-Douro e Minho, ou Douro Litoral.
Este foi contado pelo meu avô – no meu tempo chamou-lhe bicho da gripe, noutro tempo anterior chamou-lhe deflucho, mas creio que se refere ao vírus da gripe. Não conheço outro conto tradicional que se assemelhe a este.
É assim:


Uma vez, o bicho da gripe ia da aldeia para a cidade e encontrou uma aranha que vinha da cidade para a aldeia.
- Ó aranha, tu para ondes vais?
- Vou viver para a aldeia.
- E porquê?
- Porque na cidade andam sempre a limpar as casas, todos os dias me escangalham a teia e eu tenho que fazer outra nova.
Ao menos, na aldeia, só limpam a casa uma vez por ano, na Quaresma, e eu posso ficar com a minha teia o ano todo, uma teia grande, enorme…
E tu, bicho da gripe, para onde vais tu?
- Eu cá, vou-me mudar de vez para a cidade.
- E porquê, bicho da gripe (deflucho)?
- Eu, quando dou em alguma pessoa, cá na aldeia, ela mete-se à chuva, ao vento, a trabalhar como uma negra, trata-me mal… mata-me!
- Então e na cidade?
- Na cidade é que eu estou bem: metem-me na cama, no quentinho, muito agasalhadino, dão-me leite e mel, chazinhos, lá é que eu estou bem!


Moral da história: as pessoas da cidade são mais doentes do que as do campo porque tratam bem as doenças: os vírus, as bactérias, os bichos da gripe, os defluchos… mas tratam mal as aranhas.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Hits

Constato com surpresa que os sítios mais visitados deste blog são: o dos gatos malteses, o do conto popular o ancinho e, mais estranho ainda, o da fotografia de umas flores, que tirei no Verão, perto da Avenida de Roma.

Sendo assim, aqui vai mais um conto popular. Nunca me teria passado pela cabeça escrevê-los antes de ter um blogue, não um qualquer, mas este.

Duas cabras: activismo online III

Filhas:

Em vez de andarmos por aí a dar os trocados da carteira a uns rapazitos que até falam Inglês e entendem de marketing, mais vale juntarmos os trocados de vários dias e oferecermos uma ou duas cabras a uma família do Ruanda.
Já vi que vocês se estão a rir, achando que estou a gozar, mas eu nem sou de fazer isso… é a sério!

Conhecem aquela história, de que, em vez de dar um peixe, mais vale dar uma cana de pesca e um curso intensivo de como pescar? Bem, isso só não dá certo quando apanhamos com a cana na cabeça e ficamos sem os peixes, sem a carteira, etc… o que não é o caso.
Por pouco dinheiro, dá-se duas cabras a uma família do Ruanda, e há quem a ensine a rentabilizá-las: elas dão leite, queijo, mais cabras, etc… também lhes podem chamar um figo, mas isso já não é problema nosso. Custam cerca de 50 Euros, cada uma.
Se não acreditam em mim, cliquem aqui: cabra diz-se goat em inglês.

domingo, janeiro 21, 2007

Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)

Rias

O caminhar pela areia sem caminho,
indo ao sabor dos recortes e marinhas.

Ao sul ou norte de um país marítimo,
era um tempo passageiro esse
do caminhar pela areia sem caminho.

Baixa se estendia a água.
Deitada no chão, a sombra era bebida
por essa água pouca, areia ávida.



Fiama Hasse Pais Brandão

(1938-2007)

quinta-feira, janeiro 18, 2007

O que quer dizer ESTAFERMO


Figura em madeira do jogo equestre da Corrida ao Estafermo.
Figura giratória, representando um mouro, que segura numa mão um escudo e noutra um chicote.

Era utilizado na "Corrida ao Estafermo", jogo em que o cavaleiro tinha que tocar o escudo, fazer girar a figura e fugir, sem ser atingido pelo chicote.


Como ninguém se candidatou ao meu concurso Estafermo e Estupor: Novo Concurso, talvez porque os prémios não eram aliciantes, aqui vai a definição de Estafermo.
Confesso que só conheço este, do Museu dos Coches e aposto que muita gente vai ficar banzada, pois não percebeu o que eu queria dizer.

Ver Museu dos Coches

terça-feira, janeiro 16, 2007

Activismo Online

Não tenho paciência para reler os meus blogs de uma ponta à outra (creio que há quem o faça - não sei quem), mas parece-me que nunca aqui falei disto: Activismo Online.

Há um site, The Hunger Site, que faz o seguinte: Se clicarmos na página de um dos patrocinadores, este paga uma taça de arroz a pessoas com fome. Só podemos clicar uma vez por dia. Para quem não entende inglês, diz assim: "Click here". Depois escolhe-se uma página publicitária.

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segunda-feira, janeiro 15, 2007

E Para a Jubi

 
 
 
Legendas:
1- De costas voltadas para o Brasil, achado em 1500
2- Achámos Cantão em 1514 e o Japão em 1541
3- Cada qual procura a sua esquininha do mundo: Japoneses à procura do Japão
Sem Número: Quem Diria que a gente achou tanta coisa?
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Oh, como o mundo é vasto e vário! Ou melhor, só a terra

 
 


Praça do Império, Belém, Lisboa, 1 de Janeiro de 2007
Estão aqui assinalados os achamentos portugueses com as respectivas datas. Posted by Picasa

domingo, janeiro 14, 2007

Espaço de Debate???

Falando com uma amiga que vem muito a este blog, ela dizia, concordando com José Gil, que, em Portugal, o único espaço de debate público é a televisão.
Lembrei-lhe a blogosfera,mas ela existe só há 2 ou 3 anos, por cá. Talvez por isso José Gil não se refira a ela (em "Portugal Hoje: o medo de existir").
Depois pensei melhor: a blogosfera portuguesa não se limita, praticamente, a exprimir as opiniões vulgares e evidentes dos opinion makers?
Morro a rir quando ouço ou leio que todo o mundo tem pena do Sadham e o considera uma vítima do desrespeito dos direitos humanos! Que quer dizer isto, concidadãos?
O Sadam é que é uma vítima? Coitadinho!

LOL

Bem, nada como votar no pior português de sempre, com um texto de morrer a rir sobre o José Saramago.
Rir é bom.

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Votei no tio Sebastião.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Novo Blog

Descobri um novo blog. Já o coloquei nos favoritos. É sobre a vida de uma rapariga que vive no Irão.

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

Assunto inevitável: o referendo do aborto - ele mesmo um aborto

Um blog de que gosto muito, coloca a pergunta: o que é que mudou desde o último referendo sobre o aborto. Considero a pergunta muito interessante e vou tentar responder.

Penso que esta questão deveria ter ficado resolvida na época do 25 de Abril, como muitas o foram. Há 8 anos votei sim, pois, tendo eu ideias feministas, nunca poderia votar não. Não me abstive, apenas porque uma amiga (que fez vários abortos, que nunca usou outro método contraceptivo, aliás) me convenceu a votar.

Nessa ocasião ganhou a abstenção e o não.
O que mudou desde então? Pouco, o que me leva a supor que o resultado deve ser o mesmo. A questão, que me parecia extemporânia nessa época, parece-me agora deslocada e até mesmo abstrusa.

O que mudou nesse aspecto desde o 25 de Abril?
Tudo. A mim, parece-me que vivo noutro tempo e noutro planeta. Passo a dizer algumas diferenças.

O problema da SIDA fez com que as relações de amor livre mudassem para sempre, considerando o amor como sexo, o que também mudou desde esse tempo.
A Internet e a vida moderna fizeram com que as relações entre as pessoas excluíssem a intimidade e até mesmo a proximidade física, desmaterializando o contacto.
Há uma nova tendência para a castidade, nomeadamente entre os jovens, que também são mais religiosos. Há o assumir da homossexualidade, o que torna o aborto impossível nesses casos, tal como as relações amorosas entre esse tipo de pessoa e o sexo oposto deixam de ser esporádicas e inconstantes.
Há uma grande informação, o uso de preservativos por causa da SIDA, um planeamento familiar que não existia no passado, cuidados extremos pré e pós-natais.
Em Portugal e na Europa, o problema demográfico é hoje o decréscimo da população. Há mesmo, ao nível sócio-afectivo, enfim, um endeusar das crianças... e só é pena que a nossa burocracia cause tantos entraves à adopção de meninas chinesas ou indianas -- uma vergonha.
E o que é que se passa ao nível político?
O governo tem-nos retirado vários direitos adquiridos e importantes, com o argumento de que custam muito dinheiro. O mesmo governo dispõe-se a gastar milhões de Euros com a liberalização do aborto. Porquê? Porque, aparentemente, esta é uma das poucas questões que separam a direita da esquerda. Não para inglês ver, mas para idiota ver. Para ignorante e impensante ver. Ou seja, aparentemente, para o povo português ver.

E se ganhar o sim, será uma imensa vitória do PS, a primeira e única depois das eleições. E se ganhar a abstenção e o sim, será outra vitória do PS, etc. Tal como o Salazar ganhava sempre.
Que estupidez! Que absurdo!

Eu não sou contra a despenalização do aborto. No último referendo votei sim e agora votaria sim, se não me abstivesse.
Eu sou, óbvia e absolutamente, contra esta estupidez do referendo!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Estafermo e Estupor: Novo Concurso

Quem só me conhece há um ano, aqui do blog, nada sabe a meu respeito. Nem sabe que uma das minhas paixões é a língua portuguesa: claro, eu às vezes trato-a tão mal…
Não é possível ter uma língua boa e um país bom. Por exemplo, a Holanda é um país muito bom, mas a língua não vale a ponta de… e a Noruega é o país do mundo com mais qualidade de vida, mas a língua não presta. E alguém quer ir viver para a Noruega?
Nós temos uma língua fabulosa e uns países que não prestam.
Concurso: o que querem dizer as palavras estafermo e estupor? Não me refiro aos adjectivos que nós usamos. Não.


Prémio para quem acertar: fragmento da corda do Sadam, ou do Bush, ou daquele velhito de Cuba (alguém ainda se lembra como se chama o tipo?) ou até mesmo do [Cala-te boca].

Ver resposta a esta pergunta em 18 de Janeiro deste ano de 2007

domingo, janeiro 07, 2007

Natal em 7 de Janeiro

 
 

Finalmente, Lisboa começa a ser cosmopolita. Houve hoje por cá duas grandes festas de Natal: uma para ucranianos na Praça da Figueira e outra para todos os imigrantes de Leste no Terreiro do Paço.
Fiquei com a impressão de que o Natal, para eles, é como para nós, algo que transcende e ultrapassa a religião, mas não sei.
Uma ucraniana, falando um português quase perfeito, quase sem pronúncia, leu um texto muito simpático, mas trocando sempre a palavra alegria por alergia.
Assim, desejou uma grande alergia ao Presidente da Câmara e, a todos nós, portugueses, ucranianos e outros presentes, muitas alergias durante todo o ano de 2007.
Esta língua portuguesa!!!

Parece que se trata da Igreja Ortodoxa e do rito Bizantino da Igreja Católica.
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sábado, janeiro 06, 2007

Para quê pôr todo o mundo contra todo o mundo?

Para quê pôr todo o mundo contra todo o mundo outra vez?

Ainda o aborto

A nossa lei, e outras, consagram o direito de abortar, caso se saiba que o feto vai dar origem a uma pessoa deficiente. Então, e os direitos dos deficientes?

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Sem Título

Fiquei com a impressão de que a corda do Sadam era de óptima qualidade. Nem admira, ele investiu muito neste tipo de equipamentos quando governava...
Não me parece o tipo de artefacto para usar e deitar fora, por questão de higiene, como nós temos muitos. Antes me pareceu objecto confirmado pelo uso: é das boas.
O povão português, na sua inocência e esperteza saloia, é pródigo em ditados que se adequam ao caso:

Andou a arranjar corda para se enforcar...
Quem com ferros mata com ferros morre (não é o caso).

Aceitam-se sugestões...

Como me pareceu inadequado começar o ano com tal barbaridade, só hoje, 4 de Janeiro, trato do assunto. Questão meramente estética.