Maio, maduro Maio.
Se calhar, este é o mês mais importante do ano. Pelo menos em tradições da cultura popular, parece-me único.
Como já tenho este blog há dois anos e meio, dou comigo a perguntar o que irei escrever no próximo Maio. Mas assunto não me há-de faltar.
Li o que escrevi nos últimos Maios e muito tenho a dizer...
1 de Maio - antes de ser o dia do trabalhador, era já um dia importante, dos mais importantes do ano.
Nesse dia, na minha terra, Douro Litoral, também já chamado Entre-Douro-E-Minho, depende das regionalizações, fazia-se o seguinte:
Enfeitava-se com Maias (flores amarelas, creio que das giestas)(parecidas com as do tojo aqui publicadas), o telhado das casas. Também se enfeitavam as portas de entrada na casa. A ideia era de que o Diabo andava à solta nesse dia (Dia de São Bertolameu (Bartolomeu, apóstolo de Cristo)). Se a minha memória não é muito exacta , e não deve ser mesmo, podem corrigir-me nos comentários...
Enfim, o Diabo andava à solta e não entrava nas casas que tivessem casas nas portas e janelas e, melhor ainda, no telhado.
Isto não é nenhuma tese sobre cultura popular, mas é claro que presta informação importante para que elas se façam. Por exemplo: ocorre-me que, na Bíblia, no Êxodo dos judeus, eles pintaram as portadas com o sangue do cordeiro, para ficarem imunes, não me lembro a quê, talvez emende esta parte mais tarde.
Outra tradição e esta nunca ninguém ouviu falar, a não ser algumas pessoas dessa área, é amarrar um fio vermelho no dedo anelar. adivinhem para quê...
Para não ser "crestado pelo sol" que aí vem.
Confesso que me amarraram esse fio e que ainda hoje me vejo grega para ser "crestada pelo sol".
É claro que só o povão era "crestado pelo sol"... Supõe-se então que seja uma questão de sorte ficar muito branquinho.
Estas são as tradições que conheço, do Douro Litoral.
Muito mais tarde conheci aqui O dia da Espiga, que documento em muito pormenor no ano passado
CLICAR AQUI
E recentemente nós descobrimos a tradição algarvia dos Maios
AQUI
E também aqui
Só mais um pormenor do meu conhecimento: em França, as raparigas iam para os campos colher flores de "muguet" para fazer raminhos. creio que as ofereciam aos trabalhadores (talvez não seja verdade este pormenos)...
Como a Maria Carqueija, comentadora deste blogue, vive lá, aguardemos os seus doutos esclarecimentos...
Ah, já me esquecia! E é o tempo das cerejas!
3 comentários:
Que grande confusão aqui vai!
Na noite que antecede o dia 1 de Maio, colocam-se as MAIAS (flores de giesta) nas portas e janelas (locais de entrada), para que o carrapato(diabo) não entre nas casas.
Na noite que antecede o dia 1 de Março coloca-se o fio vermelho no dedo para as pessoas não se crestarem. Quem não tivesse fio vermelho podia substituir este uso, bebendo um copo de vinho tinto em jejum e sortia o mesmo efeito.
Em Agosto no dia de S. "Bartolameu", anda o diabo à solta e vai urinar nas amoras, razão porque a partir dessa data não se podem comer estes frutos.
Um abraço
Intebe
Talvez seja assim, mas também é verdade que se colocavam as maias no telhdo. Na véspera? Pois, para estarem lá no dealbar desse dia. Faz sentido.
Quanto ao copo de vinho em jejum, é tão politicamente incorrecto, que esqueci completamente, juntamente com outras coisas desse género que também esqueci.
Se o São "Bertolameu" não é em Maio, isso é ainda mais estranho, pois existem, então, dois dias dedicados ao Diabo, tudo numa região muito católica. E não existem, que eu saiba, no resto do país.
Amarante, que fica na mesma zona, tem imagens do Diabo na Igreja do Mosteiro, de São Gonçalo, julgo eu.
Mas tudo isto é inteiramente desconhecido. É muito importante que se diga aqui, pois vêm a este blogue muitas pessoas interessadas na cultura popular.
Pessoas que entendem do assunto, juntamente com pessoas que só procuram a cura para o tressolho ou o tresorelho. Provenientes de todos os países lusófonos e às vezes de outros países.
Nunca encontrei ninguém que tivesse ouvido falar nessa tradição do fio vermelho para não crestar e no entanto ela é muitíssimo significativa dos receios de ser moreno numa sociedade que privilegiava a brancura. Isto passava-se em Portugal, há 40 anos, no máximo, talvez menos.
O Avô colocava as maias no telhado no catavento (boneco a soprar uma corneta)que tinha em cima da cozinha e que ainda lá está. Muitas vezes lá foi colocá-las e aproveitavamos para trazer pinhas de Santa Barbára(espécie de cacto em forma de flor)que se reproduziam lá, sem água nem qualquer tratamento dentro duma vasilha velha. Eram transplantadas para outra vazilha e para aliviar o espaço, que de um ano para o outro ficava replecto.
Um beijo
Intebe
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