Há muitos anos atrás, talvez dez, uns sete anos antes de existir o Facebook, ano 7 A.F., mas alguns anos após a existência de Internet, para aí ano 5 D.I., uma mulher, não digo amiga, pelas razões que vocês verão...
Enfim, essa pessoa, que atravessava uma crise existencial, perguntou-me:
- Quantos amigos tens?
Após a primeira fase de hesitação e perplexidade pela pergunta, eu, Nadinha, que sou Carneiro de signo e de ascendente, o que me leva a considerar amigas de infância as pessoas que conheci anteontem, respondi sem reflectir muito:
- Talvez aí uns 40 ou 50...
- O quê? Que dizes? Ninguém tem 40 nem 50 amigos! Que absurdo. E entre 40 e 50 vão dez!!! Mais dez menos dez é igual?
- Bem, então, se calhar não tenho nenhum, porque não estou a ver...
A minha dúvida fazia sentido. Tendo mudado várias vezes de terra, ainda que dentro de Portugal, tinha perdido o contacto com muitos amigos, (lembrem-se que o tempo era A.F.), e arranjar novos era, por assim dizer, impossível, nesta Lisboa provinciana. Que só ficou menos provinciana D.F..
Dado o imobilismo da sociedade portuguesa, em que os emigrantes não contam porque desapareceram, em que as pessoas moram na mesma casa, a casa onde já nasceram e morreram os próprios pais, com a mesma direcção toda a vida, quando, em Lisboa, eu dizia a uma pessoa que a considerava amiga, ela respondia invariavelmente:
- Amigos são pessoas que nos deram provas, nos últimos 10 anos... provas de amizade... os outros, são conhecidos.
- Ah!
- Então, não tenho nenhum amigo. Os amigos que nos deram provas, nos últimos 10 anos, também deixam de ser amigos se, num problema urgente, não nos acudirem... e eu, que andei por aí, não acudi a ninguém, nem fui acudida...
Agora, com o Facebook, tudo mudou e tornou-se normal este tipo de resposta:
- Quantos amigos tens?
- 1289. Claro!
- E amigos íntimos?
- Só 47.
O último número é determinado pelo próprio Facebook. Quando partilhamos uma mensagem de Natal ou Ano Novo, com imagem, identificando vários amigos na "foto", não podemos identificar mais de quarenta e tal: os amigos íntimos.
Claro que o Facebook traz para aqui o conceito americano, de pessoas que mudam constantemente de terra e que estão constantemente a estabelecer novas ligações...
Sinal dos Tempos? Sei lá! Este tema sempre me irritou...
Nadinha
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