Natália Correia escreveu isto no tempo de Salazar. Atualmente, Portas, o tipo dos submarinos e das decisões irrevogáveis, que se revogam imediatamente, afirma que:
"Reformar com acordo social é uma singularidade positiva de Portugal" (Clicar para ler).
Ou seja, qualquer país, no nosso lugar, já tinha feito uma revolução e decapitado ou defenestardo esta cambada horrenda que nos governa, mas nós não.
- Ke Kridos que nos somos. Não éramos? não tínhamos sido? - Diremos um dia, quando já não existirmos, por excesso de delicadeza.
Aqui vai o poema completo. Foi dito por Natália Correia num julgamento em que era acusada, o que deixou os juízes ainda mais enxofrados contra ela. Tês anos de prisão com pena suspensa, foi a pena. Acusadada de quê? De liberdade de expressão. Claro.
Ganda Natália!
Queixa das almas jovens censuradas |
Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo. Temos fantasmas tão educados Que adormecemos no seu ombro Sonos vazios, despovoados De personagens do assombro. Dão-nos a capa do evangelho E um pacote de tabaco. Dão-nos um pente e um espelho Para pentearmos um macaco. Dão-nos um cravo preso à cabeça E uma cabeça presa à cintura Para que o corpo não pareça A forma da alma que o procura. Dão-nos um esquife feito de ferro Com embutidos de diamante Para organizar já o enterro Do nosso corpo mais adiante. Dão-nos um nome e um jornal, Um avião e um violino. Mas não nos dão o animal Que espeta os cornos no destino. Dão-nos marujos de papelão Com carimbo no passaporte. Por isso a nossa dimensão Não é a vida. Nem é a morte. |
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