Estou a ler, agora que já tenho tempo para ler, o livro O Ministério da Felicidade Suprema, da autora indiana Arundhati Roy.
É o segundo livro que leio desta autora, o primeiro foi O deus das pequenas coisas.
De certa forma, é a segunda desilusão que tenho com os romances desta autora, eu que tanto gosto da Índia, que até já lá fui e tenciono voltar.
Porquê desilusão? Porque para mim, como para muita gente, a Índia será o lugar da diferença, um sítio muito alternativo, ou, como diria Fernando Pessoa, "Um oriente a oriente do oriente"
Mas esta Índia, longe de ser oriental no sentido místico e misteriosa, é, bem ao contrário, um ocidente no oriente, ou seja, é uma Índia poluída pela economia do ocidente, estragada, arruinada, para além de ter os seus próprios defeitos, que já tinha.
Já li outros livros de outros autores indianos sobre este país, mas todos se queixam do mesmo: não é a Índia autêntica, é a Índia mais estragada pela América do que foi pelos ingleses.
É, de certa forma, uma Índia descabida e ridícula.
A personagem principal, uma meretriz hermafrodita, construiu a sua habitação num cemitério, os cemitérios indianos são muçulmanos, pois os hindus são cremados. Com o tempo, foi alargando habitação até fazer uma casa de hóspedes e mais tarde também uma espécie de agência funerária.
Esta meretriz hermafrodita é, para a autora, o próprio símbolo da Índia.
Agradeço a Arundhati Roy esta visão do mundo, em que o oriente não passa de uma fraca excrescência do ocidente.
E nem falemos dos direitos das mulheres, ou dos direitos seja de quem for...
Este país tem também os seus próprios males, as terríveis lutas religiosas, os intocáveis, que normalmente não saem da terra, por falta de capacidade económica, mas, se emigrarem, continuam ser intocáveis para os outros indianos, enfim, mundos que existem também nas nossas cidades e que ignoramos.
Este país tem também os seus próprios males, as terríveis lutas religiosas, os intocáveis, que normalmente não saem da terra, por falta de capacidade económica, mas, se emigrarem, continuam ser intocáveis para os outros indianos, enfim, mundos que existem também nas nossas cidades e que ignoramos.
Mas o que salva tudo é o amor. Sempre, em todo o lado e também nos romances da autora. Neste caso o amor maternal, pois a personagem hermafrodita, mulher por opção, mas com um estatuto especial na cultura indiana, sente que foi destinada para ser mãe.
Apesar de tudo o que foi dito acima, não podemos esquecer que estes são os autores que ganham prémios ingleses. Isto, claro, vale o que vale.
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