Na fila do supermercado há uma senhora grudada em mim. Resisto a dizer-lhe que se afaste um bocadinho, em parte, por uma delicadeza que poucos me conhecem, em parte por falta de medo do COVID. Mas ela não tem desses pruridos
- Esta cigana não me larga! Veja lá se pode avançar um bocadinho na fila, mais para a frente.
Avanço um grande bocado, para constatar que a dita senhora está outra vez encostada a mim
- Esta cigana não tem qualquer noção! Não a vê colada a mim outra vez?
Não, não vejo. O que vejo é que esta senhora prefere estar encostada a mim do que estar a meio metro da cigana. Ou a ir para o fim da curta fila.
Talvez porque eu sou... reflito: sou o quê? Caucasiana? Não, nem deve saber o que quer dizer isso. Branca? Os ciganos não são pretos. Europeia? Os ciganos vivem na Europa. Então, eu sou o quê, para esta seletiva criatura?
Ah, já sei, os ciganos têm um termo para isso, uma palavra que diz logo tudo. Eu Sou... eu sou...
- Gadjó! *
- Palavra cigana que designa logo de uma vez todas as pessoas que não sejam ciganas. Lol.
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