Mostrar mensagens com a etiqueta Ficção. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ficção. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, janeiro 28, 2010

O Estado da Nação 2010

- Olá Querida! Como foi o teu dia, 'mor?
- Fracote. O meu chefe deu-me uma nota má.
- O meu também, mas isso já era de contar...
- Pois! Mas como a tua filha só tem negativas, isto nesta casa anda tudo muito mal.
- Minha filha? Ela saiu a ti em ser burra, que na minha família há vários doutores.

- Ai há? Então e tu porque é que não conseguiste passar da cepa torta?
- Olha, sei lá, os professores embirravam comigo e chumbavam-me sempre.
- Também embirram com a tua filha.
- Mas ela passa todos os anos.
- Isso é por causa do Governo. Agora passam todos, senão os professores deles também têm negativa.
- Essa agora! Boa vai ela! No meu tempo não havia nada disso!
- E a Avozinha?
- A coitada tá senil, mas obrigam-na a ir trabalhar todos os dias porque não tem idade para a reforma.
- A tua mãe ainda não tem idade para a reforma?
- Ter tem, mas tem pouco tempo de serviço...
- E que nota é que ela teve?
- Teve Muito Bom. Está convencida de que a chefe é a mãe dela e está sempre a elogiá-la.
Estamos mal. que vamos fazer?
- Eu cá, vou avaliar a mulher-a-dias e diminuo-lhe o ordenado.
- Boa ideia!

- Ó mãezinha!
- O que foi?!
- A minha stora tava chateada e pôs-me na rua!
- Estúpida. Eu já fui à escola e disse:
- A minha filha não mente. se ela própria disse que não fez nada, que vem agora essa galdéria acusá-la de dizer isto e mais aquilo?
- Eu não fiz nada!
- Pois claro que não. Mas porque é que tiveste zero a português?
- A stora mandou-nos escrever uma coisa sobre essa coisa dos animais não sei quê e não sei que mais. E eu escrevi assim:
- As vacas e as galinhas são animais em vias de extinção porque os donos abandonam os animais. Qualquer dia nem há carne para a gente comer. No tempo do rei não era assim, era melhor.
- Mas o que é que está mal nessa redacção? Fica sempre bem dizer que agora está tudo mal e que no tempo do rei é que era bom...
- Sei lá! Eu disse logo assim à mulher: olhe lá, você não deu esta matéria...
- Vem aí a avozinha.
- Olá mãe. Então como é que correu hoje o seu trabalho?
- Olá pai. A minha professora deu-me Muito Bom.
- Ó avozinha, não esteja a confundir as coisas. Ela é sua filha, não é o seu pai... Então não vê que ela é uma mulher?!
- Uma mulher de calças? Ahahah! Nunca tal vi!
- Ó maezinha! as mulheres já usam calças há séculos.
- Pelo menos desde o tempo do rei!
- Quem é este rapaz gordo que me está a chamar maezinha? A minha professora deu-me Muito Bom!

(Não perca as cenas dos próximos capítulos)

quinta-feira, janeiro 03, 2008

O Estado da Nação : O Presente

- Olá! Há que tempos que a gente se não via, Mariana! Que é feito?
- Olá, há quanto tempo, Isabel. Olha, estou desempregada. E grávida!
- Que horror! Como é que foi isso?
- Ora bem, eu trabalhava num restaurante chinês. A ASAE foi lá, disse que estava tudo imundo e fechou aquilo. Viemos todos para a rua.
- E o teu marido?
- Também está desempregado. Ele passa sempre o Inverno na cama, só se levanta na Páscoa, mas às vezes fica de atestado psiquiátrico… Agora, às vezes ficamos o s dois na cama e a minha mãe cozinha, lava a roupa, é assim…
- E de que vivem, mulher de Deus?
- Do subsídio de desemprego dos dois, do rendimento mínimo garantido nosso e do nosso mais velho, comemos tudo do Banco Alimentar e agora parece que também me vão dar dinheiro por estar grávida.
- E foi por isso que tu engravidaste aos 48 anos?
- Sempre se ganha mais algum… Eu sou uma das 33 000 grávidas de Sócrates.
- Ai sim? Não entendo. Então este governo legaliza o aborto e paga às grávidas para terem filhos? Esquisito…
- Isso depende. À minha patroa chinesa, por exemplo, não lhe pagam, e a lei a ela até lhe fez muito jeito. Como os chineses só querem ter filhos rapazes, a minha patroa fez uma ecografia: como era uma menina, fez um aborto legal e pago pelo estado.
- Ai sim!? Então qualquer dia temos aqui em Portugal mais rapazes do que raparigas..
- Chineses.
- E a casa? Como é que a pagas?
- A casa está com a renda antiga, é a casa da minha mãe, pagamos só 26 euros e 70 cêntimos por cinco assoalhadas. E é ela que paga, que tem uma boa reforma.
- Reforma? A tua mãe nunca trabalhou, pois não?
- Não, ela trabalhar nunca trabalhou, mas tinha um tio velho que tinha uma boa reforma. Quando ele estava a morrer a minha mãe casou-se com ele à cabeceira da cama. Ele já estava mais para lá do que para cá e nem percebeu nada. E ela agora tem uma boa reforma.
Mas diz-me lá, ó Isabel: então os teus filhos? Tu tinhas uma rapariga que era barra a tudo, só tinha vintes…
- Continua a ser. Agora até conseguiu entrar para o curso de enfermagem. Vai ser enfermeira.
- Enfermeira? A minha irmã é enfermeira e não tem estudos nenhuns… ele há cada uma!
- A minha filha queria ser médica, mas para isso precisava de ter vinte a tudo. E ela nunca foi boa a ginástica.
- E os rapazes?
- Esses não estudam nada, também não têm a inteligência da irmã, têm más notas… enfim, entraram agora para a Universidade. Um vai ser Advogado e o outro Gestor de empresas.
- Ai sim?
- Então e os teus?
- O meu mais pequeno bateu na professora de matemática, ele nunca atinou com a matemática. Como castigo mandaram-no tirar um curso técnico e ele agora está a gostar muito. Também já bateu noutra professora, mas ela não se queixou. Se conseguir ser canalizador, tem emprego garantido e vai ganhar uma fortuna!
- Essa agora! E o mais velho?
Esse não dá para os estudos, está em casa. Imagina-me bem que o tipo me espatifou o meu carro!
- Ai sim? Mas ele não conseguia tirar a carta por causa do código, não era?
- Ele não tem carta porque não atina com o código, mas conduz muito bem. Só o problema é que tinha bebido uns copos a mais, foi no Natal, estás a ver? Deu-me cabo do carro e eu agora não tenho dinheiro para outro, vê tu! O que me tem valido é o Mercedes do meu marido e o da minha mãe…
- Mas ao menos o teu filho não se magoou nesse acidente, em que estava bêbado e sem carta?
- Ele felizmente não sofreu nada, só matou duas velhas.
- Ah! E foi preso?
- Não, só lhe puseram a pulseira electrónica e está em casa, em prisão domiciliária.
- Não pode sai de casa?
- Poder não pode, mas isso não lhe faz diferença nenhuma porque esse meu filho sai ao pai. Está sempre metido na cama a ver a TV Cabo. No Inverno só se levanta para ir à casa de banho, no Verão já vai poder ir à praia em liberdade condicional, a avó empresta-lhe o carro. O outro meu filho sai a mim, é todo despachado. Mas tem cá um feitio…
- Bem, mas e tu, Isabel?
Eu estou bem, o meu marido está desempregado, era professor e deu duas bofetadas num aluno que o insultou, foi expulso. A prestação da casa, que só tem três assoalhadas, leva-me quase tudo o que eu ganho, mas a minha mãe também se casou com um tio dela, à hora da morte dele e também tem uma boa reforma. Também comemos do Banco Alimentar e também temos três Mercedes. E eu agora vou pedir a reforma antecipada por invalidez e vou trabalhar para uma boutique. Bem, Então adeus, e desejo-te que 2008 seja para ti melhor do que estes últimos anos.
- Ou pelo menos que seja igual, que já não é mau!

terça-feira, novembro 14, 2006

O Estado da Nação O Futuro Parte II

(Algures no futuro, talvez 2015 ou 2020)

- Ó progenitora, porque é que tu não me acordaste às 4 da manhã?
- Ó pá, porque só acordei ás 10 e meia, filha. E porque hoje é Domingo!
- Mas eu tenho de acabar de ler as obras completas de Dostoievsky…
- Ó filha, mas tu acabaste de ler as obras completas de Turgueneyev e de Dante Allighieri!
- Esqueces-te de que a minha professora de Português diz que nós não sabemos ler nem escrever Português, aliás, toda a gente diz isso da nossa geração…
- Mas também já diziam isso da minha, e da do teu avô…
- Tens a certeza?
- Pois, a tua avó, aliás, não gosta nada que tu lhe chames “antepassada ancestral”.
- Só porque gosto de falar bem? Ora, a juventude não é compreendida.
- Falar bem, falar bem... Nós temos o Camões como modelo… era o dia da raça e de Camões, agora é o dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, até parece que nos estamos constantemente a comparar ao zarolho…
- Ora, chamar-lhe zarolho, ó progenitora!
- Que até gostava de beber o seu copo… que nisso, realmente somos quase todos como ele, é verdade… e de namorar…
- Na tua geração, até admito que falem assim, mas eu preciso de ter uma média de 19,87 para entrar para o meu curso, e a minha Professora de Português idolatra o Camões. Acho que nunca leu “Os Lusíadas” duma ponta à outra, claro!
- Credo! Alguém alguma vez terá feito tal coisa?
- Creio quer o próprio Camões o deve ter feito…
- Ó filha, mas por que não tiras um cursinho mais fácil? Engenharia, Direito, Medicina?
- Ora, francamente! Os correligionários dessas profissões agora pertencem à classe média!!!...
- Pois, realmente…
- E a classe média está completamente a zeros. Em termos de dinheiro, bem entendido. Não é?
- Ai, lá isso é. Mas…
- Qual mas? Eu vou tirar o curso de canalizadora. E depois vou ser especialista em canalização de esgotos…
- Uma coisa que cheira mal…
- Mas que dá dinheiro!
- Lá isso! Já antigamente, no dicionário de interpretação dos sonhos, sonhar com m,,,, quer dizer, sonhar com isso, queria dizer dinheiro.
- E eu sonho com isso e com dinheiro.
- E como não vou ser classe média e sim proletária, tudo bem. Nem a esquerda nem a direita nem o centro se atrevem a contestar os direitos dos proletários.

P.S.. (Cruzes, credo! O que eu quero dizer é: “Post Scriptum”): Talvez vocês tenham notado que eu, Nadinha, nem sou muito de dizer palavrões. Talvez por ser do Norte… Ganhei alergia…

segunda-feira, novembro 06, 2006

Estado da Nação

Já vi que os fregueses deste blog gostam particularmente de uns textos a que dei o nome Estado da Nação, uns no presente e outro no futuro. Também há um do passado, a que chamei Shiatsu, por ser um método de massagem anti´quíantiquíquíssimo, põe antiquíssimo nisso.
Também já vi que os fregueses deste blog Terra Imunda fogem da poesia como o diabo da cruz, embora a poesia seja uma das minhas paixões.
Quanto à despenalização do aborto, obviamente, por uma questão de coerência, só posso ser a favor.
Mas, uma vitória do sim será uma vitória do PS.
Da última vez que houve este referendo, esqueci-me de votar, até que uma amiga me lembrou... desta vez, acho que me vou esquecer mesmo...
E aí vai o Estado da Nação no passado, "Shiatsu".

segunda-feira, outubro 30, 2006

O Estado da Nação O Futuro Parte I

O Futuro: talvez 2015


- Ó querida, o que estás tu aqui a fazer, ao relento?
- Estou à espera que a carrinha dos velhos me venha buscar para ir trabalhar.
- Tu, trabalhar? Tu, desde que tiveste aquela trombose…
- Pois, eu tenho que picar o ponto às 8horas e um quarto e tenho que despicar o ponto às… o quê?
- Mas hoje é domingo!
- Ai hoje é domingo? E a gente não tem que trabalhar ao domingo?
- Agora trabalha-se ao domingo?
- Chama a rapariga e pergunta-lhe!
- Como é que ela se chama?
- Sei lá. É aquela que costuma ter na mão um guarda-chuva.
- Ó querida, está a chover. Toda a gente costuma ter na mão… Ó rapariga! Venha cá!
- Diga?
- Hoje que dia é?
- Hoje é sexta-feira.
- Vês? Tenho que ir trabalhar!
- Não, hoje é feriado!
- Feriado de quê?
- É o referendo do aborto.
- Outra vez?
- Pois, umas vezes o resultado foi não, outras vezes foi sim, mas ganhou sempre a abstenção. Esperemos que desta vez… seja concludente... para ver se não se fala mais desta... desta coisa, digamos assim...
- Mas... e não é obrigatório trabalhar aos feriados?


Autora do texto: Nadinha, pseudo-heterónima de

segunda-feira, julho 24, 2006

Por acaso acertei

Parabéns a mim, Nadinha, porque há meses, no meu "rimance" "Estado da nação" levantei uma questão que é hoje notícia no DN: "Aumentam casamentos para obter passaporte da UE". E na página 5 diz assim: "Futebolistas Kostov e Bukovac casaram-se para contornar o limite de estrangeiros do Sporting". Página 3: "redes recrutam mulheres para casar com paquistaneses, homens preferem as brasileiras".
E ainda dizem que eu sou distraída...

terça-feira, junho 06, 2006

Estado da Nação - Part Six e Final: Padamon e Padamona

De volta a casa, regressa tudo à normalidade. Apenas se descobre que a afegã, ou não é nadadora ou não quer nadar… na verdade não quer fazer nada. Como este é um assunto delicado, (sobretudo para uma feminista como eu), avancemos um pouco…
Casa do ex-futebolista português:
- ó Albira, o que é esta coisa que está debaixo deste pano e que cheira tão mal?
- Ah, isso… é a segunda esposa do Padamon.
- É bonita?
- Não sei, ela nunca tira o pano…
- E o que faz?
- Nada.
- Ah, é a tal nadadora?
- Não, filha, ela não faz mesmo nada. Nadinha. Ela nem deve saber nadar. O Padamon foi outra vez aldrabado. É um incompetente!
- Como se chama?
- Não sei, a gente chama-lhe Padamona.
- De que vive?
- Á minha custa.
Agora dava jeito uma receita de cozinha.


Tchan, tchan, tchan (isto é o passar do tempo).

Um belo dia em que a Padamona cheirava particularmente mal e não se mexia, resolveram tirar o pano da burka. Descobriram que, afinal, quem estava debaixo do pano era um homem. Um afegão, talvez taliban, enfim, quem sabe? (Desta já eu me safei!)
Passaram a chamar-lhe Padamon II, sendo o Tobias, Padamon I.
Revoltada e farta, um dia Albira passa-se dos carretos: resolve colocar uns explosivos à cintura e ir explodir para casa dos sogros. Como foi o Padamon que tratou dos explosivos, os mesmos não funcionaram, como é óbvio.
Albira foi presa e os filhinhos ficaram a viver em casa do Padamon I e do Padamon II, ambos de atestado médico. Aos domingos iam ver a mãe à prisão. Coitadinha!
E assim termina esta história.

Fim Provisório.
Autora: Nadinha

Gostaram?

domingo, maio 28, 2006

Estado da Nação: Part Five: Padamon no Afeganiston

De repente, o palácio é invadido e inundado pelas sogras das esposas de Rashid, que eram muitas. Estas mulheres, traumatizadas por séculos de exploração, mas espevitadas por décadas de modernidade, desataram à chapada e ao murro e ao pontapé a tudo quanto era homem, e sobretudo à Albira (não sei porquê) e sobretudo, também não sei porquê, ao Padamon. Que neste caso até não tinha culpa nenhuma, mas é sempre assim.
Aproveitando-se da confusão e das portas abertas, Albira escapulinzipou-se dali para fora à velocidade da luz.
Conseguiram os dois (marido e mulher) sumir daquela terra e, para não serem apanhados nos aeroportos, foram de boleia em boleia até ao Afeganistão.
Lá, então, no Afeganistão (rimou), para não virem de mãos a abanar, Padamon tem uma ideia! Cuidado! Uma ideia?!
Padamon decide casar-se com uma atleta nadadora afegã de alta competição. Quando chegar a Portugal como segunda esposa de Padamon, a rapariga será uma portuguesa genuína e fará parte da selecção portuguesa de natação, para a qual ganhará grandes prémios.
Andam os portugueses a queixar-se de que estão na cauda da Europa economicamente e depois começam a gabar-se de que estão nos cornos do mundo desportivamente, com base nestas selecções que, se por um lado nos custam os olhos da cara, por outro nos deixam bem vistos como um povo que só gosta de curtir.
Neste caso, a rapariga nem chegou a pagar nada, a selecção depois pagava quando eles cá chegassem.
A questão com os tribunais é a mesma: resolve-se quando vier cá o Papa.

Laurindinha, eu estava a precisar duma receita oriental fácil. Arranja-se?

Apesar do incómodo, havia um problema um tanto embaraçoso (sobretudo para uma feminista como eu): a rapariga nunca tirava a burka! Também não a queriam obrigar, mas, por favor!


Cenas dos próximos capítulos: Padamon e Padamona.

domingo, maio 21, 2006

Estado da Nação: Padamon: Part Four

Lá na Índia, viviam as várias viúvas de Rashid num enorme palácio rodeado de jardins perfumados. E maior não era a sua felicidade, por andarem aborrecidas: como eram mulheres um tanto modernas, já não se identificavam muito com a tradição. Também não lhes agradava serem chamuscadas, mas a sua religião e a sua cultura lá as mantinham conformadas. Albira Alzira, porém, morria de medo! Um vago cristianismo e um claro materialismo não a haviam preparado para a adversidade.

Qualquer escritora moderna a sério, neste momento escreveria aqui uma receita de cozinha, para despertar sensações gustativas e olfactivas e tácteis e outras. Mas eu, que falho muito nesse ponto, enfim…
Durante muitos anos, como sempre gostei de ler livros de culinária, que me abrem o apetite (era eu magra e esqulética, o que já não sou), quando lia 2 colheres de sopa de azeite, uma colher de chá de vinagre ou de fermento, pensava que havia sopa de azeite e chá de vinagre, chá de fermento… a culinária parecia-me algo de esotérico, pois não via à venda nada disto. Porque é que ninguém explica estas coisas????????
Sopa de leite, sopa e açúcar, chá de pimenta, chá de vinagre, sopa de mel, chá de farinha…
Por favor, Laurindinha, eu e os meus leitores já estamos enjoados de mousse de manga! E de pão com queijo. Queremos outra receita de salgados, pouco engordativa e fácil. Salgados, a meu ver, serão o que não são doces, que eu não sou doceira.

Quem se sentia nas suas sete quintas era o Tobias. No palácio de Rashid, todas as suas viúvas tinham televisores, plasmas, DVDs, etc, e como andavam o seu tanto abstraídas e baralhadas, Tobias consolava-se, carregado de comandos.
As outras viúvas indianas não conseguiam dizer o nome dele, e portanto chamavam-lhe Padamon (o mesmo que murcom em português do norte (ultra versátil)). Aqui em Portugal, antes de ir, (Padamon (murcom mas nem tanto assim) ) meteu um atestado psiquiátrico e, portanto, não perdeu o emprego. Albira nem de tal se lembrou, o que significa, infelizmente que, se não morrer, perde o emprego. Eu parece que me deu a mania das vírgulas... que é quando a gente acha que faltam vírgulas...


Cenas dos próximos capítulos: a revolta das sogras.
Vocês querem ouvir os próximos capítulos? Esta história só tem mais dois, mas “quem faz um cesto, faz um cento”.

quarta-feira, maio 17, 2006

Estado da Nação: Padamon: Part Three

Não sei se sabem que um negócio que está a dar é casar com emigrantes, pagando eles. Se forem jogadores de futebol, por exemplo, ganha-se bem.
A Albira Alzira resolveu então casar com um desses, para equilibrar o orçamento e escapar do Tobias..
Rashid dizia ser brasileiro, tinha cara de indiano, falava uma coisa que ninguém entendia e, depois de casar com Albira, passou a ser português e a jogar na selecção portuguesa, no Mundial de Futebol. Como ele tinha uma religião indiana, podia casar com várias mulheres. O ser a Albira também casada era algo que os advogados iriam depois resolver, da maneira como resolvem tudo: vão adiando até que o Papa venha a Fátima. Nessa altura há uma amnistia e os processos são arquivados.
O pior é que este Papa não parece ter grande vontade de sair de casa.

Quando o anterior Papa cá vinha (isto é para a Jubi, que não sabe), havia uma amnistia. Quem tinha multas para pagar esperava até haver a amnistia, quem tinha insultado o vizinho também esperava até o processo ser arquivado: o vizinho ficava insultado e o insultador ficava ilibado.
Durante 15 dias, Lisboa parecia um daqueles bairros perigosos de Nova Iorque (do tipo Hill Street). Os polícias andavam nova roda-viva, (pareciam os do CSI Miami), menos aqueles muitos polícias que eram como o nosso Tobias, uns padamões ( o mesmo que murcões). Mas depois voltava tudo à pacatez desta terra (imunda) e os amnistiados voltavam para a cadeia, desta vez com a pena agravada por terem feito mais alguma.

Qualquer escritora moderna a sério, neste momento escreveria aqui uma receita de cozinha, para despertar sensações gustativas e olfactivas e tácteis e outras. Mas eu, que falho muito nesse ponto, enfim…
Deveria ter ervas aromáticas e palavras de som esquisito como osso da suã, (não confundir com chez Swann) rabadilha, manzanilha… esfregar com força (sensações tácteis), etc.
Por favor, Laurindinha, eu e os meus leitores já estamos fartos de mousse de manga! Queremos uma receita de salgados, pouco engordativa e fácil de fazer.

Mudou-se a Albira Alzira para casa do brasileiro (no papel) jogador de futebol português e levou os filhinhos.
Uma semana depois apareceu por lá o Tobias Jaquim e pegou logo nos comandos todos da televisão, do DVD, do iPode, etc. Isto não estava previsto, portanto não foi controlado.
No Mundial de Futebol, pela primeira vez, estava a família toda reunida a ver o jogo, quando o recente marido da Albira Alzira cai morto com uma síncope.
Alegria geral na sala: estamos ricos!
Vários dias a Albira Alzira festejou com as amigas e com o amigo gay, até que começaram a aparecer muitas pessoas esquisitas, indianas. Eram os sogros, as sogras, os cunhados, as outras esposas, etc., do Rashid. Vinham todos com um ar abatido e, apesar do problema da tradução, lá acabaram por perceber que a Albira tinha que ir com eles para a Índia.
Quando lá chegou, veio então a descobrir que o marido pertencia àquela religião em que as viúvas são queimadas vivas, juntamente com o falecido, na pira funerária.
Coitadinha da Albira Alzira! Para se livrar duma chatice, acabou por "se meter em assados" (entre aspas) ainda piores. E tudo por vossa culpa! Da vossa vocação para o martírio!

Cenas dos próximos capítulos: que fazer com o viúvo Tobias Jaquim? Isto não estava previsto, portanto não foi controlado.

Só escrevo a continuação se vocês disserem que querem ouvir.

sábado, maio 13, 2006

Estado da Nação: Padamon: Part Two


Quem me convenceu foi a Laurindinha com a receita da mousse de manga (já está no frigorífico). Eu tinha-lhe pedido, num blog muito giro que ela tem, que escrevesse receitas fáceis. Resolveu então prantá-la aqui como argumento.
Senti-me de tal modo inspirada, que inventei vários capítulos novos.A história aproxima-se agora mais do princípio do que do fim.


Esta atitude de extrema bondade e de abnegação, só comparável à das santas mártires dos primórdios do Cristianismo, deve-se ao facto de nós, pobres ingénuos, imaginarmos a situação idílica do Tobias Jaquim, da Albira Alzira e dos filhinhos. E até de pensarmos assim:
- Só eu é que não tenho uma vida tão sossegada, quem me dera a mim. Pomo-nos então a imaginar a seguinte situação, que não queremos estragar com os nossos protestos:

- Ó meu papá querido e amado, não quer ver o seu futebole?
- Não, meu filho adorado, minha flor de lótus perfumada, eu sei que tu queres jogar o teu “Age of Empires” com os teus amigos, online.
- Ai que suavíssimo cheiro! (de santidade?)
- Meu doce e amado esposo, queres tu ver o teu futebole?
- Minha doce e amada esposa, eu sei que tu queres ver o “Caldo de Nabiças com rojões de redenho”.
- Ó meu amore, essa é a telenovela brasileira, a minha é “caldo verde com chouriças”, nunca sabes essas coisas! Tão querido! ( Não confundir com Morangos com Açúcar, que já existia em 2006)
Dão um beijinho, após o que diz Albira:
- Tu, quanto mais tempo passas sem tomar banho, melhor cheiras. Pareces a Josefina do Napoleão Bonaparte! (Nota de rodapé: quando Napoleão se aproximava de casa, mandava recado à Josefina para não se lavar, pelo menos 3 dias… (gostos!))
- Já reparaste nos meus brincos novos?
- Se fui eu que tos dei! A propósito, quando vem cá jantar o teu amigo Lili? Tão simpático, mas não sei se é bonito, que eu cá não aprecio homens.
- Eu sei, meu amor, ainda me lembro da barraca que tu deste no museu quando disseste à guia que não percebias se as esculturas de Praxíteles eram bonita ou feias, porque…
- Porque não sei apreciar homens nus.
- Ai que dulcíssimo cheiro! (talvez de santidade!)

Se vocês imaginam que os baldas, incompetentes, vigaristas e parvos têm uma vida familiar invejável, melhor do que a vossa, ainda há aqui em Lisboa dois ou três sítios muito altos e que não têm uma rede a toda a volta. Já há poucos, ultimamente têm posto redes a toda a volta de todos os sítios muito altos, não sei porquê, mas eu ainda sei de alguns… em alternativa, podem seguir as instruções da Jubi e fazer como os japoneses, que furam as tripas. Esses também têm cá uma pancada!
Existe uma versão moderna, mas que não recomendo: a gente amarrar explosivos à cintura e ir explodir onde muito bem nos apetecer. Esta versão dá direito a ter 70 mulheres no outro mundo. Para quem acha que neste já há homens a menos…

Cenas dos próximos capítulos: de regresso à realidade, Albira Alzira encontra uma saída. Querem ouvir? Mas vou alternar com outras coisas.
imagem: Hermes de Praxíteles

quarta-feira, maio 10, 2006

Estado da Nação - Part One: Albira Alzira e Tobias Jaquim

Este país funciona mal porque nós não protestamos quando somos maltratados.
Deve ser por causa do Salazar (que no entanto nunca se atreveu a chamar a ele mesmo Aristóteles nem Arquimedes) e que proibia todo o mundo de reclamar. E por causa da Pide: se alguém fosse justamente acusado de fazer qualquer coisa errada (ou certa), podia bater com os ossos nos infestos calabouços, nas horrendas masmorras desta infausta excrescência da direita volver.
Meus queridos, esse tempo já passou. Talvez esteja a voltar, disfarçadamente, mas isso depende de nós.
O problema no fundo, ou um deles no fundo, é que todos nós morremos de pena das pessoas incompetentes, baldas e / ou vígaras. Digo e ou porque ser incompetente e baldas é ser vígaro, mas convenho que alguns ainda acumulam.
- Oh filha… mas porque é que tu não fizeste queixa?!
- Tive pena do pobre do homem (Tobias Jaquim ) que tem mulher e filhinhos!!!
Vocês a falar assim parecem as minhas santas (ver meu outro blog), mas esquecem-se do pormenor. Se o tipo fosse preso, a mulher e os filhinhos viam-se logo livres dele, pelo menos por uns tempos…
A bem da verdade, a mulher (Albira Alzira) já tentou de tudo para obter o divórcio, as amigas até já lhe disseram que estão fartas de fazer falsos testemunhos em tribunal:
- Albira Alzira, eu sou muito tua amiga, mas eu acho que o juiz ainda me conhece desde a outra vez em que me enganei e que dei o dito por não dito! Tenho medo.
De facto, a Albira Alzira começou por acusar o marido de adultério. Impossível. O tipo é mesmo incapaz de olhar para outra mulher. Pois se nem sequer olha para a dele, a Albira Alzira, porque é que havia de olhar para outra?
Acusou-o depois de olhar para homens, mas o amigo e testemunha gay não foi nada credível no julgamento… o Tobias Jaquim realmente não olha mesmo para ninguém, e pronto. É o que nós no Norte chamamos um murcom.
A pobre da Albira Alzira acusou-o depois de bater na mulher e nos filhos. Também não. Na verdade é ele quem apanha da mulher e dos filhos quando não se desgruda da televisão e da Internet e do plasma e do sensarround e do leitor de discos e do leitor de DVD e do iPod, tudo ao mesmo tempo, em vez de ir trabalhar, malandro.
- Tobias Jaquim, eu quero ver a minha telenovela “Caldo Verde com chouriça”! Estou farta de trabalhar para vos sustentar a todos, que tu, o pouco que ganhas, bem no gastas!
- Cala-te mulher, que eu quero ver o campeonato! Chega-te para lá!
- Ui, que cheiro!
- Pai, a minha stora mandou-me fazer um trabalho na Internet (mentira!)(isto cá para nós).
- Cala-te, que eu quero estar no chat do Benfica! Chega-te para lá!
- Ui, que cheiro!
- Papá Papá, eu queria ouvir aquela cantiga que a gente canta na creche e que é assim: “Tressolho, tressolho, passa para aquele olho”!
- Cala-te, que eu estou a ouvir o hino do Benfica! Chega-te para lá!
- Ui, que cheiro! Ó mamã, que é este cheiro?
A Albira tentou expulsá-lo de casa sem mais delongas, mas ele não foi.
Vocês estão a rir? Mas é verdade! Ó filhas, vocês aguentavam um marido destes? E não fazem queixa do baldas porque têm pena da mulher e dos filhinhos?
Tenham pena da mulher e dos filhinhos e por isso mesmo corram com o Tobias Jaquim de todo o lado! Até para se acabarem de vez os Tobias Jaquins.

Cenas dos próximos capítulos: as razões pelas quais ninguém faz queixa do Tobias Jaquim, mesmo que ele faça tudo mal, nas raras vezes em que faz alguma coisa.