Ouvi e li por toda a parte em cabo Verde esta expressão "Nha Cretcheu". Procuro na net e descubro o seu significado:
Literalmente, cretcheu quer dizer quero-te muito (cre-tcheu). Logo, nha cretcheu é meu amor, e por aí fora. Pode significar meu namorado, minha namorada, meu amor, etc...
"Nha Terra Nha Cretcheu", será algo como minha terra querida, amada, ou "minha terra, amo-te muito", ou assim...
"Nha Terra Nha Cretcheu", será algo como minha terra querida, amada, ou "minha terra, amo-te muito", ou assim...
Quando vou a uma terra, gosto de ler obras literárias que lá foram produzidas, ou por autores dessa terra, ou por outros.
Regressada do Mindelo, continuo a ler um livro que refere constantemente esta cidade, embora a localize entre o início e meados do Sec. XX, período que abrange a revolução salazarista de 28 de Maio de 1923, sobre a qual parece ter boa opinião. É Oh! mar de túrbidas vagas de Teixeira de Sousa.
Falando de literatura de Cabo Verde, refiro os autores que encontrei, enquanto consultava a biblioteca do instituto Camões, no Mindelo.
Salientarei este escritor, Teixeira de Sousa, até pelos temas escolhidos, que me agradam muitíssimo: mares, navios, navegações. É um autor simpático, que não faz sofrer as suas personagens para além do necessário para inventar uma história romanesca. Nesse aspecto, faz lembrar Júlio Dinis: não há grandes conflitos, nem problemas que não se resolvam totalmente. Além disso, fala das navegações com muito conhecimento de causa.
O seu romance Oh! mar de túrbidas vagas é um retrato heróico dos marinheiros que nessa época faziam a travessia entre Cabo Verde e a América do Norte em barcos à vela, carregando produtos e passageiros, que assim emigravam, numa viagem turbulenta e incerta.
Tem outros livros sobre navegações, que espero encontrar em Portugal, pois de momento interesso-me por narrações de vidas simples, como se fossem arquétipos de vidas, casas, barcos, etc.
Mas de repente, dou-me conta de que não se trata de escritor caboverdeano e sim português, ressuscitando uma questão de que nós, portugueses, nunca ouvimos falar, mas que é muito polémica no Brasil e nessas terras.
É o seguinte: o autor nasceu em Cabo Verde, que era Portugal nessa época. Após a independência, vem para Portugal viver em Oeiras, onde morre.
Assim, podemos considerar portugueses os escritores e artistas das colónias portuguesas até à sua independência, o que as deixa sem literatura nem arte.
Neste caso particular, sendo aparentemente Salazarista, este escritor seria completamente ignorado em Portugal após a revolução de 74, como aconteceu com outros.
Um outro autor, presente neste livro como personagem aludida, dificilmente seria considerado português. Trata-se do poeta popular
Eugénio Tavares, que escreveu em crioulo muitos dos seus poemas. É dele o verso que dá título ao romance ("Oh! mar de túrbidas vagas" ou "ondas", da sua Canção ao Mar, vídeo abaixo) e de muitas letras de mornas caboverdeanas. Mornas parece derivar da palavra inglesa mourn, significando luto, tristeza, etc.
Despertou-me muita curiosidade Baltasar Lopes e o seu livro Chiquinho, que, segundo me disseram lá, não existe à venda porque os herdeiros não permitem a publicação das suas obras. Tentarei encontrá-lo num alfarrabista, pois também poderá ser considerado, ou ter sido considerado escritor português.
Germano Almeida: já tinha lido o livro O Testamento do Senhor Nepumoceno da Silva Araújo, mas parece-me que o comprei no Brasil. É um livro muito original, que me ficou na memória, tratando sobretudo de convenções sociais, hipocrisia social, atitudes consideradas correctas, etc. O autor vive em Cabo Verde, na actualidade.
De Orlanda Amarílis, Ilhéu dos Pássaros, agradou-me pelo título e pelo que li, folheando e me pareceu interessante. O mesmo para
Dina Salústio, com o livro A Louca de Serrano.