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segunda-feira, julho 18, 2011

"Nha Cretcheu" e Literatura de Cabo Verde


Ouvi e li por toda a parte em cabo Verde esta expressão "Nha Cretcheu". Procuro na net e descubro o seu significado:

Literalmente, cretcheu quer dizer quero-te muito (cre-tcheu). Logo, nha cretcheu é meu amor, e por aí fora. Pode significar meu namorado, minha namorada, meu amor, etc...
"Nha Terra Nha Cretcheu", será algo como minha terra querida, amada, ou "minha terra, amo-te muito", ou assim...


Quando vou  a uma terra, gosto de ler obras literárias que lá foram produzidas, ou por autores dessa terra, ou por outros.
Regressada do Mindelo, continuo a ler um livro que refere constantemente esta cidade, embora a localize entre o início e meados do Sec. XX, período que abrange a revolução salazarista de 28 de Maio de 1923, sobre a qual parece ter boa opinião. É Oh! mar de túrbidas vagas  de Teixeira de Sousa.

Falando de literatura de Cabo Verde, refiro os autores que encontrei, enquanto consultava a biblioteca do instituto Camões, no Mindelo. 
Salientarei este escritor, Teixeira de Sousa, até pelos temas escolhidos, que me agradam muitíssimo: mares, navios, navegações. É um autor simpático, que não faz sofrer as suas personagens para além do necessário para inventar uma história romanesca. Nesse aspecto, faz lembrar Júlio Dinis: não há grandes conflitos, nem problemas que não se resolvam totalmente. Além disso, fala das navegações com muito conhecimento de causa.

O seu romance Oh! mar de túrbidas vagas é um retrato heróico dos marinheiros que nessa época faziam a travessia entre Cabo Verde e a América do Norte em barcos à vela, carregando produtos e passageiros, que assim emigravam, numa viagem turbulenta e  incerta.
Tem outros livros sobre navegações, que espero encontrar em Portugal, pois de momento interesso-me por narrações de vidas simples, como se fossem arquétipos de vidas, casas, barcos, etc.
Mas de repente, dou-me conta de que não se trata de escritor caboverdeano e sim português, ressuscitando uma questão de que nós, portugueses, nunca ouvimos falar, mas que é muito polémica no Brasil e nessas terras. 
É o seguinte: o autor nasceu em Cabo Verde, que era Portugal nessa época. Após a independência, vem para Portugal viver em Oeiras, onde morre. 
Assim, podemos considerar portugueses os escritores e artistas das colónias portuguesas até à sua independência, o que as deixa sem literatura nem arte.

Neste caso particular, sendo aparentemente Salazarista, este escritor seria completamente ignorado em Portugal após a revolução de 74, como aconteceu com outros.

Um outro autor,  presente neste livro como personagem aludida, dificilmente seria considerado português. Trata-se do poeta popular 

Eugénio Tavares, que escreveu em crioulo muitos dos seus poemas. É dele o verso que dá título ao romance ("Oh! mar de túrbidas vagas" ou "ondas", da sua Canção ao Mar, vídeo abaixo) e de muitas letras de mornas caboverdeanas. Mornas parece derivar da palavra inglesa mourn, significando luto, tristeza, etc. 

Despertou-me muita curiosidade Baltasar Lopes e o seu livro Chiquinho, que, segundo me disseram lá, não existe à venda porque os herdeiros não permitem a publicação das suas obras. Tentarei encontrá-lo num alfarrabista, pois também poderá ser considerado, ou ter sido considerado escritor português.


Germano Almeida: já tinha lido o livro O Testamento do Senhor Nepumoceno da Silva Araújo, mas parece-me que o comprei no Brasil. É um livro muito original, que me ficou na memória, tratando sobretudo de convenções sociais, hipocrisia social, atitudes consideradas correctas, etc. O autor vive em Cabo Verde, na actualidade.




De Orlanda Amarílis, Ilhéu dos Pássaros, agradou-me pelo título e pelo que li, folheando e me pareceu interessante. O mesmo para 

Dina Salústio, com o livro A Louca de Serrano.

Amor na Ilha e outras Paragens, de Camila Mont-Rond, que comprei e li, tem alguma graça e alguma cor local, com referência, por exemplo, à época da Independência e sequentes atitudes dos jovens, mas as vírgulas estão todas fora do sítio e não existe fio condutor da narrativa que é autobiográfica, com episódios desgarrados sobre a família. É como se fosse um livro de contos disfarçado de romance. Trata-se, contudo, de um primeiro livro.


Esta autora tem a particularidade engraçada de ter nascido num navio em viagem de Cabo Verde para Lisboa. Consta da sua certidão de nascimento a latitude a longitude do navio nesse momento.




domingo, agosto 26, 2007

Cabo Verde

Estou em Lisboa a desfazer a mala da viagem a cabo Verde e a fazer a mala para ir em direcção aos mares: Atlântico e Mediterrâneo. Não é que eu seja rica, mas há prioridades na vida...

No aeroporo, como o voo se atrasou, encontrei um amigo que sabe tudo quanto há para saber sobre Cabo Verde e me disse tudo quanto sabia.

De facto, no Sal não há miséria, mas há muita na Ribeira Grande, há até uma instituição portuguesa de solidariedade a formar-se, que vai fazer lá um orfanato.

Cabo Verde candidatou-se com o apoio de Portugal e outros países a região ultra-periférica da Europa, esperando um estatuto semelhante ao da Madeira e dos Açores, podendo receber muitos subsídios e muitos investimentos da União Europeia.

Por outro lado, e é isto que é fantástico, Cabo Verde desenvolve-se com a coolaboração e cooperação de muitos países, mas sem passar pelos erros que todos nós cometemos: não é uma sociedade de consumo (o que se verá claramente nas fotografias das pescas que vou postar) não tem nenhuma espécie de poluição...

Enfim...

Eu lá não tinha os meios informáticos de que disponho em Lisboa, mas hei-de continuar com estes temas. Talvez quando regressar de vez.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Nhôr Dês

Nhôr Deus



Este cântico tem uma música muito bonita:


Nhôr Dês, nu ta dana Nhô tudo o qui nos tene (refrão)


- Nôs miséria, nôs sofrimento; nôs amor nu ta n' trega Nhô, djunto cu ês oferta


- nôs tristeza, nôs pobreza; nôs fraqueza nu ta n' trega Nhô djunto cu ês oferta


etc...
Senhor Deus, nós te damos SEnhor, tudo o que nós temos
(Nossa miséria, etc,, nós te entregamos junto com as nossas ofertas)
+
Em geral falam bem português, mas falam crioulo uns cons os outros e às vezes falam com Nhôr Deus, que é suposto entender todas as línguas, dialectos e frases erróneas...

Cabo Verde



O barco chama-se Bomtchivé = Que bom te ver...