sexta-feira, agosto 03, 2012

Exames de Português do 12º Ano e a saga do rigor ("mortis")

Já aqui foi várias vezes referido este tema, ao ponto de se tornar recorrente neste blogue. Para ver posts anteriores, clicar na Tag  .

Também partilhei um link dum texto de António Guerreiro no Expresso, desmontando o exame da 1ª fase, bem como uma opinião do representante da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Albino Almeidaque partilho, defendendo a demissão da atual direção do Gave, ou mesmo a sua extinção, como era promessa do atual Ministro da Educação.

Segue agora a "saga" da 2ª Fase do mesmo exame.

Logo na primeira pergunta sobre um texto do Memorial do Convento, pede-se o seguinte: 

"1. Indique, de acordo com o primeiro período do texto, três elementos que caracterizam Baltasar no momento em que regressa a casa."

O primeiro período é o seguinte:

"Regressou o filho pródigo, trouxe mulher, e, se não vem de mãos vazias, é porque uma lhe ficou no campo de batalha e a outra segura a mão de Blimunda, se vem mais rico ou mais pobre não é coisa que se pergunte, pois todo o homem sabe o que tem, mas não sabe o que isso vale."

Seríamos levados a supor que a  pergunta é demasiado fácil, não fosse o critério de correção decidido em reunião do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional)  e recebido pelos  examinadores às 23 horas do dia 23 de Julho, para correção exames realizados em 13 de Julho:

"A expressão «filho pródigo» não constitui, por si só, um elemento caracterizador de Baltasar no momento em que regressa a casa."


Sendo assim, os elementos ( linguagem perfeitamente familiar e nada científica) caraterizadores aceitáveis são: tem mulher, não tem mão e é pobre. "Tem mulher" é um elemento caraterizador??? Eu não acertava essa e, portanto, ia para o filho pródigo. Perdia logo uns pontos largos.



Na verdade, Baltazar é comparado ao filho pródigo, já que só regressa a casa quando precisa de dinheiro. Havendo trabalho em Mafra e como os pais vivem nessa terra, regressa e vai para casa deles, depois de ter passado anos sem dizer se estava vivo ou morto. 



O receio de o aluno acertar por acaso, pois pode não saber quem é o filho pródigo, deveria ter sido previsto ao fazerem uma pergunta tão óbvia e tão parva, em vez de se considerar totalmente errada uma resposta totalmente certa.



Será possível haver pior? Sim. Senão, vejamos...



Quanto ao que normalmente chamamos "redação", pede-se que se faça uma reflexão sobre o papel do homem e da mulher na atualidade. Os alunos do 12º ano, que terminam agora uma escolaridade com 12 anos de português, não terão dificuldade em responder, mas correm sérios riscos.


Os melhores e mais cultos farão uma reflexão sobre o papel da mulher e sobre o modo como tem evoluído ao longo do tempo. Esta resposta poderá ser desvalorizada até zero, de acordo com os mesmos critérios recebidos pelos corretores em 23 de Julho (10 dias após o exame e 3 dias antes do dia em que deverão ser entregues os exames corrigidos - 26 de Julho). 

Sendo assim, 

"[...]quando os examinandos abordam, exclusiva ou predominantemente, a evolução verificada ao longo dos tempos, ocorre um desvio do tema e, em certos casos, um incumprimento da tipologia solicitada. Nos critérios de classificação, estão previstos níveis de desempenho correspondentes a estas situações."

Um dado que se tem evidenciado nestes exames (de há 5 ou 6 anos para cá) é o facto de os melhores alunos terem notas fracas, com uma incrível frequência, ficando muitas vezes atrás de alguns dos piores, por exemplo, um aluno muito bom tem 10, ou 9,5, ao passo que um dos piores alunos tem 11.

Será que existe, por detrás disto, uma intenção? 
Seria necessário, para isso, haver pessoas inteligentes por detrás dessa intenção, o que não parece ser o caso. António Guerreiro afirma que sim, a mim parece-me mais parolice e o reflexo das cabeças ocas que tratam do assunto. 

Ou talvez a intenção seja levar os alunos a verem os Morangos com Açúcar em vez de lerem um livro? Porque para entender o Memorial do Convento, de José Saramago é preciso conhecer a Bíblia e tanto um livro como o outro são muito chatos. Mas então o tipo não é ateu? Who cares? Whatever?


Caso para perguntar: onde é que pára a Associação De Professores de Português? 
Resposta: Como sempre, a dizer "Amen Jesus" aos ministérios, aos ministros, às ministras e ao governo, sejam eles quais forem. Felizmente, os professores de português, na sua esmagadora maioria, não são sócios dessa aberração, que até era a favor das TLEBS quando o país inteiro se movimentava ativamente contra.

Sem comentários: