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sexta-feira, agosto 27, 2021

As esteticistas sado-masoquistas ou talvez apenas sado...



Pintura "La chasse aux papillons" de Berthe Morissot

Sabemos que as mulheres têm terríveis inseguranças quanto à sua aparência física e quanto ao seu papel no mundo e isto é para não falar de outros terrores femininos.

Enquanto as feministas e os psiquiatras as tentam livrar  destes horrores, as esteticistas, também muito femininas, exploram tudo isso, com resultados in cash.

Telefonaram-me a propor uma limpeza de pele por um preço módico, alegadamente promocional. Como precisava de fazer uma, aceitei.

A rapariga, amorosa, falou durante uma hora e meia, pondo na lama da rua a minha pele e a minha aparência. Fotografou-me o rosto de vários ângulos, ampliando os aspetos piores. O resultado não parecia eu e sim uma espanhola com 89 anos, injustamente electrocutada numa prisão dos Estados Unidos da América. Cada ruga era um rio Amazonas, ladeado de perto pelo rio Nilo e pelo Grand Canal de Veneza.

Muito infeliz, lá me submeti ao tratamento, de 20 minutos e a mais outras tantas fotos. 

A rapariga foi muito simpática até me mostrar as fotos do antes e do depois, dizendo eu que gostava mais da primeira: nesta, eu tinha um ar ingenuamente alegre, na segunda, tinha o aspeto de uma prisioneira política submetido a tortura, a qual incluía muitas dores nos dentes provocada pela trepidação do aparelho e tortura psicológica. Você tem chumbo nos dentes? Chumbo, eu? Porcelana, talvez… 

A senhora ficou ainda menos simpática quando eu lhe disse que não saía de lá sem ela apagar à minha frente, todas as fotos. Sim, eu apago depois. Agora! 

Finalmente, propôs-me um tratamento feito por mim em casa, com os aparelhos emprestados, alugados, pela módica quantia de 4 mil euros, menos um cêntimo. É claro que eu podia pagar em 24 meses, 250 euros por mês, o que daria, se fizéssemos as contas, mas não fizemos, 6 mil euros. Menos um cêntimo, claro.

Convenho até que o tratamento parece dar resultado, mas, se eu fosse mais insegura ou mais vaidosa (pecado ou virtude que nunca tive) teria imediatamente assinado aquela dívida. Pensar e responder depois é alternativa que não existe, é tudo baseado nas compras por impulso. 

Se lermos as reclamações, da DECO e outras, veremos que muitas mulheres assinam contratos destes, apesar de não terem como os pagar, mas não existe piedade quando é para receber…

É uma clínica muito chique e muito bem situada, que deve estar com a corda na garganta por causa do Covid. Fazemos nós o tratamento em casa, não precisamos de lá ir e pagamos só 5 999 euros. Vale tudo…

Mas pelo ar da rapariga, parece que não resulta muito: E não me faça perder tempo dizendo que vai perguntar a opinião da sua dermatologista, não vai nada! Eu vi logo que você não é do género de perder tempo a fazer estas coisas todas! E olhe que não são 4 mil euros, olhe que é menos, gritava ela por fim, já fora de si.



quinta-feira, janeiro 01, 2009

Austrália


Hoje, em Lisboa, o dia Um de Janeiro nasceu moribundo e assim mesmo se extinguiu.
"Negro como um tição", sem "pinga de sol", chovia continuamente e havia uma névoa inusual nesta terra.
Gosto de dias assim, sobretudo porque aqui são raros.
Não havia nada aberto, nem mesmo os chineses que vendem terra, para eu plantar esta plantinha selvagem (só uma) que trouxe e que está provisoriamente num vaso emprestado.
Nada mais me restou, a não ser ir ver o filme Austrália.
É um dos melhores filmes que vi na vida, dentro do estilo cinema americano, ou seja, de acção, de romance, de suspense e com uma estrutura narrativa própria do romance do Sec. XIX e dos actuais romances, que, à americana, se escrevem para vender. Embora o filme seja australiano, ou pelo menos é-o o seu realizador.
Curiosamente, a actriz principal pareceu-me demasiado magra, o que me teria agradado muito quando eu própria era demasiado magra, mas que agora me pareceu inverosímil. Tão fraca, tão pálida, onde foi buscar tanta força, pergunto, sendo verdade que eu também tinha uma saúde de ferro, mas força física, nem vê-la.
Penso que o cinema, se quer ser uma arte, deve evoluir e não copiar o que vende bem. Penso que não devemos imitar o cimema americano, nem confundir arte com entretenimento.

O problema actual é entreter milhões de pessoas que não são capazes de ler um livro, nem de se sentarem à lareira a conversar com os filhos e netos, nem de inventarem um modo de se sentirem bem sem se aturdirem. O Know how existe, mas não se transmite de geração em geração: os avós ou bisavós não viam televisão nem eram mais infelizes por isso; talvez sofressem menos de tédio. Mas não podem transmitir essa capacidade, sob pena de serem considerados arcaicos.
Mas, dentro do estilo americano, este é dos melhores filmes que já vi.

Também fala do saber que se transmite de geração em geração e que é considerado ignorância. É um filme épico, romanesco, idealista, de acção e muito belo. Só não percebi se a personagem principal existiu mesmo, ou se é inventada.

Fazlembrar o "África Minha", de que é digno sucessor.Posted by Picasa