sexta-feira, outubro 14, 2011

Unhas encravadas e religião católica: mais uma história do Diário de Bordo

Como contava no post anterior, sendo eu uma mártir das unhas encravadas, logo pelos 10, 11 anos, vivendo numa vilória de província, no Norte, nada mais natural que ir ao hospital com as unhas e os dedos feridos de maneira esquisita. Ver fotos no Google. 
O médico, simpático e que gostava muito de mim, não viu outra solução que não arrancá-las. É claro que tentou a anestesia. Mas não pegou. Foi chato. Só não pareceu uma tortura chinesa pela simpatia do doutor.

Mas tudo isso foi pouco, direi mesmo irrelevante, comparado com o que se lhe seguiu.

Nos meses seguintes, foi necessário fazer curativos regulares. Até voltarem a crescer, o que demora muitíssimo tempo. Ora, a melhor enfermeira lá da terra, segundo alguns, a única boa segundo muitos outros, era a madre superiora das freiras, a irmã Matilde. Para além de ser o terror dos doentes. E que se tornou no meu maior pesadelo, até hoje.


Começou logo por me falar na Santa Teresinha do Menino Jesus. Que entrou para o convento aos 14 anos, embora não fosse permitido professar nessa idade tão jovem. Cortou curtos os cabelos loiros, o que era impensável na época e tanto fez e tanto andou, que conseguiu.
Como ainda me faltavam a mim uns anos para os 14, ainda tinha muito tempo para imitar a santa... Se eu ria ou sorria destes projectos que tinha para mim, de fazer de mim uma "grande mulher" nas suas palavras, ela ia logo buscar as pinças e as tesouras e os minutos seguintes eram do pior que vocês possam imaginar.
A santa Teresinha tinha o costume de beijar as imagens de Cristo e o cálice da missa, mas a patena, que é um pratinho de colocar a hóstia, só a beijava a alguns centímetros de distância, tal como eu deveria fazer.
Quando, por acaso, me atendia depois de ter dado as injecções aos doentes internados, punha as seringas todas numa mão, com o bico virado para mim e vinha atrás de mim, fingindo que mas vinha espetar todas. Depois dizia: "estás pálida de terror".
Fui obrigada a ler a biografia da santa. Era um daqueles livros a que é preciso cortar as folhas antes de ler. Era tal o meu pânico da criatura freirática, que consegui lê-lo todo sem cortar nada.
Imaginem o que passei quando lhe entreguei o livro intacto e ela não acreditou que o tivesse lido!
Eram assim as servas do senhor. Pelo menos algumas. Talvez muitas.
Se estas mulheres eram esposas de Cristo, era caso para Cristo pedir o divórcio. As esposas deixavam-no ficar mal perante a comunidade.

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