Alguns fadistas, no pior sentido da palavra, (não quer dizer que não cantem bem), andam por aí, no Facebook, a defender este inenarrável governo.
Não admira. Também é este inenarrável governo que os sustenta. Que promove o faduncho do coitadinho. E os outros inenarráveis governos que temos tido.
E o fado, na pior aceção da palavra, é isso mesmo:
"Oh, como eu sou infeliz por ter nascido póóóoóbre!!! Tchum, tchum, tchum tchum!"
"E a minha mãããããe era uma meretriz e o meu pááái era um coveiro e também era arruaceiro e também era um pantomineiro de fáááca na liiiga!" Tchum, tchum, tchum tchum!"
Tudo isto vem a propósito da Grândola: ainda há quem se aflija com uma canção da revolução anterior?
Então, esperem pelas próximas. Fadistas que acham mal cantar a Grândola aos políticos e esses e outros até acham mal as manifestações contra o Relvas...
As verdadeiras fadistas, as pessoas que nos podem representar enquanto povo, essas não estão com o sistema, essas não têm medo da Grândola e até a cantam.
Que me desculpem os fadistas homens. Deve haver, mas ainda não conheço nenhum homem fadista que não seja "fadista" - o que, no tempo de Eça de Queirós e, para citar as suas palavras , "Esse mundo de fadistas, de faias"
Vejamos, as próprias palavras de Eça de Queirós, em Os Maias:
"Falou-se logo do crime da Mouraria, drama fadista que impressionava Lisboa, uma rapariga com o ventre rasgado à navalha por uma companheira, vindo morrer na rua em camisa, dois faias esfaqueando-se, toda uma viela em sangue - uma sarrabulhada como disse o Cohen, sorrindo e provando o Bucelas.
Esse mundo de fadistas, de faias (*), parecia a Carlos merecer um estudo, um romance... Isto levou logo a falar-se do Assomoir, de Zola e do realismo: - e o Alencar imediatamente, limpando os bigodes dos pingos de sopa, suplicou que se não discutisse, à hora asseada do jantar, essa literatura latrinaria. Ali todos eram homens de asseio, de sala, hein? Então, que se não mencionasse o excremento!"
(*) - [Antigo, Depreciativo] Indivíduo considerado de baixa condição, desordeiro ou brigão, que frequentava tabernas, tinha modos e falar especiais, e costumava, nos seus folgares, cantar e tocar o fado. = FADISTA
(in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
Pois, o fado pode também ser protagonista do humor involuntário, vulgo ridículo.
Vejamos, as próprias palavras de Eça de Queirós, em Os Maias:
"Falou-se logo do crime da Mouraria, drama fadista que impressionava Lisboa, uma rapariga com o ventre rasgado à navalha por uma companheira, vindo morrer na rua em camisa, dois faias esfaqueando-se, toda uma viela em sangue - uma sarrabulhada como disse o Cohen, sorrindo e provando o Bucelas.
Dâmaso teve a satisfação de poder dar detalhes; conhecera a rapariga, a que dera as facadas, quando ela era amante do visconde da Ermidinha... Se era bonita? Muito bonita. Umas mãos de duquesa... E como aquilo cantava o fado! O pior era que mesmo no tempo do visconde, quando ela era chic, já se empiteirava... E o visconde, honra lhe seja, nunca lhe perdera a amizade; respeitava-a, mesmo depois de casado ía vê-la, e tinha-lhe prometido que se ela quisesse deixar o fado lhe punha uma confeitaria para os lados da Sé. Mas ela não queria. Gostava daquilo, do Bairro Alto, dos cafés de lepes, dos chulos...
(*) - [Antigo, Depreciativo] Indivíduo considerado de baixa condição, desordeiro ou brigão, que frequentava tabernas, tinha modos e falar especiais, e costumava, nos seus folgares, cantar e tocar o fado. = FADISTA
(in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
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