segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Regresso a casa

 







E finalmente regressarei a casa. Não sei se gostei do Rio de Janeiro, talvez não. A paisagem natural é deslumbrante, a miséria está por toda a parte, os sinais de riqueza também, as grades douradas que separam as casas e os pequenos pátios dos ricos dos sem-abrigo que dormem do lado de fora parecem simbólicas, grades douradas que tanto prendem os ricos como os pobres. Na praia juntam-se todos, é tão grande, Copacabana, que mesmo aos domingos, como ontem, não estava muito cheia. Água não muito fria, mas esteve sempre, todos estes dias, com ondas muito fortes e bandeira vermelha, que tem escrito “perigo máximo”.  

Perigo máximo também para quem tem de viver nesta pobre cidade, sempre com atenção a todos os pertences para não lhos roubarem, sempre à beira do abismo em termos económicos e sociais. A rapariga que aluga cadeiras na praia diz que não precisa de roubar porque trabalha e ganha 10 reais por dia, disseram-me depois, só nos dias comb sol. 10 reais dá para dois bilhetes de autocarro, é pouco, dois euros. Num restaurante chique no único Centro Comercial parecido com os nossos, apresentaram-me a conta com mais 11 reais de gorjeta… mas o centro é demasiado chique, só tem “brownerias” e coisas assim, quase nada de jeito para comer… lojas das mesmas marcas que em Lisboa, mas tudo mais caro.

A viagem por mar foi magnífica, a estadia no Rio, não, tem demasiada realidade para poder ser a realização de um sonho. É possível amar ou detestar o Rio. É mais fácil amar terras mais pequenas como Maceió ou Búzios.

Como é Natal, as igrejas pedem donativos para os pobres. Vejo na Catedral ofertas de roupas, carteiras e chinelos muito velhos e estragados, há também a vender chinelos velhíssimos. Como trago a mala demasiado carregada, deixo algumas coisas na igreja de Nossa Senhora de Copacabana. Chego durante a homilia da grande missa de domingo. Não é preciso entrar na igreja para ouvir a missa, cá fora há cadeiras de plástico e o som é ótimo. 

O padre, negro, recomenda a alegria: não devemos ter vergonha nem medo da alegria, a alegria cura, quanto mais rezamos mais alegria sentimos. Sim, alegria é o que se vê muito por aqui e o padre parece mais um mestre New Age pela linguagem e pelas mensagens que transmite.

Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, sente-se o pulsar da vida. Na alegria, na tristeza, no bem, no mal, nas escolhas certas ou erradas, no destino. Está tudo à vista, como se tudo fosse a ilustração de um enorme livro sobre a existência humana.

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