sábado, julho 11, 2009

Ainda sobre os exames: sorte descomunal


Que sorte descomunal!
Tive uma amiga que morreu recentemente com 60 anos. Quando estudava, era péssima aluna: pouco inteligente, não estudava nada, copiava, assinava trabalhos de grupo que não tinha feito, ia à biblioteca buscar trabalhos com boa nota, copiava-os (à mão, tanto trabalho!) e apresentava-os.
Dizem muitos que os estudantes agora é que são assim, mas isto é talvez a maioria de todas as épocas e existem hoje jovens que estudam muito mais do que antigamente e que têm uma formação muito melhor a todos os níveis.
Sendo como contei, essa minha amiga era insuspeita para dizer e repetir algo que costumava afirmar: que os bons são sempre prejudicados e desvalorizados, ao passo que os maus, ignorantes e baldas são sempre protegidos. Referia-se também aos estudos, sobretudo.
Contei-lhe uma vez que uma minha professora do mestrado me disse:
- O seu trabalho está muito bom, mas só lhe dou bom, porque você é capaz de fazer muito melhor.
Como tinha feito o trabalho em cima do joelho por falta de tempo, aceitei este comentário e até me senti satisfeita, mas diz-me essa amiga:
- Então, se um teu colega fizer um trabalho idêntico e se não for capaz de fazer melhor, tem muito bom?
- Sim, acho que sim...
- E passa-te à frente porque ele não é capaz de fazer melhor e tu és?
- Bem, de facto...

Vem isto a propósito do seguinte: enquanto alguns estudantes do 12º ano estão muito deprimidos e a estudar para a 2ª fase de exames porque só tiveram 15, 17, etc., um rapaz que conheço está felicíssimo e delirante: para passar de ano precisava de ter 8, 50 a português e 9,50 a matemática: teve, respectivamente, 8,51 e 9,51. Todos acham que teve uma sorte descomunal, incluindo a família, que está satisfeitíssima.
Mas não se trata de sorte. É realmente o que diz a minha amiga.
Ninguém tem 9,51. O que acontece é que um aluno tem 8 ou 9 e dão-lhe, para o passarem, 9,50.
Se um estudante, pelo contrário, tem 18 ninguém lhe vai dar 19,5, embora a diferença seja a mesma.
Exigimos muito mais àqueles que são bons, de facto.
O pior é que não exigimos mesmo nada aos que são maus.

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