terça-feira, julho 28, 2009

Romances Pink

Morreu recentemente Corin Tellado, a autora mais lida em Espanha a seguir a Cervantes e à Bíblia. A sua morte passou quase despercebida, pois os seus romances cor-de-rosa já não são lidos, as pessoas têm mesmo vergonha de os ter e as bibliotecas deitam-nos ao "lixo" (reciclagem) aos milhares para desentupir as estantes, até porque estão estragados e mesmo apodrecidos de terem sido lidos tanta vez.


Vem isto a propósito de 2 best-sellers que li recentemente, um deles promovido planetariamente pela Oprah, juntamente com tachos e panelas e sem nenhum lucro para ela, claro.
Chama-se esse "Comer, Orar, Amar".
Conta a história verídica duma americana que resolveu divorciar-se e se sentiu muito culpada por isso. Ficou tão infeliz que resolveu passar a vida a viajar para esquecer.
Em Itália fica um pouco melhor de tanto comer massa, no Oriente, sobretudo na Índia e depois na Indonésia, sente-se muito melhor devido às experiências místicas que decidiu viver, tudo muito "new age" e na Indonésia, no fim do livro, acaba por se sentir fantástica, devido a um rapagão que conheceu e com o qual descreve um relacionamento tórrido à americana. Resta acrescentar que este homem seria dum nível sócio-económico muito inferior, sobretudo porque, nos Estados Unidos, seria imigrante, asiático e não-branco. Acabou tudo muito bem, ele ficou na terra dele, ela foi para a dela e encontram-se muitas vezes.


Segundo livro "O Quarto Mágico". Este livro oferece um saquinho vermelho com chá de alfazema e com fitinhas.


É uma história muito complicada, passada numa terreola da América do Norte (Estados Unidos), com toda aquela mentalidade hiper-moralista, tendo à mistura fantasmas que falam e interagem com todo o mundo.
Donde se concui que os bons e desinteressados têm sempre sucesso, ao contrário dos maus e interesseiros que são sempre castigados. Como todos nós sabemos, de resto.
Os rapagões dão murros uns nos outros, à americana, as raparigas sentem-se protegidas. Tal como no romance de que falei antes e nos de Corin Tellado, os rapagões pobres são desinteressados, bons e belos.
Neste último, por exemplo, o carteiro entra no enorme Cadillac da namorada e diz-lhe qualquer coisa assim: "Este carro não é mau. Chega-te para lá, que eu conduzo." A jovem sente-se muito agradecida, claro, embora se surpreenda que um rapaz que nem tem automóvel só ache que o Cadillac não é mau.
Neste interim, a mãe da rapariga, uma viúva riquíssima e cheia de manias chiques, reapaixona-se pelo taxista da cidade (mais aldeola que cidade) e são todos muito felizes.


Todos estes livros se lêm muito bem e depressa, até por nos quererem fazer acreditar que o mundo é exctamente como deveria ser. O amor resolve tudo, o dinheiro não importa mas está sempre do lado dos bons e do amor.


Curioso este repescar do tópico romântico (sec. XIX) da união amorosa entre pessoas de classes diferentes. É estranho porque hoje em dia, através da educação e do desenvolvimento económico, há um cero nivelamento e as pessoas tendem a esquecer estas diferenças. A não ser as pessoas que gostam de ler as revistas cor-de-rosa e os romances que antigamente se chamavam cor-de-rosa e eram lidos às escondidas por esse motivo e que agora se chamam pink (traduzido: cor-de-rosa) e que toda a gente lê.
Como mais de metade da nossa população não é capaz de ler uma história a uma criança, ou se ler, a criança não a percebe por ser muito mal lida, ainda bem que há livros simples e fáceis...

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