- A minha senhora está de cama, ela já está desenganada dos médicos, mas borda estes paninhos - afirma o senhor de idade, mostrando envergonhadamente e quase escondendo logo a seguir, um paninho bordado, não muito bonito nem muito limpo, mas muito colorido.
- E eu vim aqui a ver se alguma senhora me compra este, pra môr de ver se compro uma garrafinha de azeite, umas batatinhas e umas couves para fazer uma sopa...
Algumas senhoras dão-lhe dinheiro, muitas mais dariam se não pedisse com tanta timidez, mais a esconder-se do que a mostrar-se, mas ninguém compra a mercadoria. Ninguém quer ter em casa um paninho, não muito bonito nem muito limpo, embora muito colorido, que lhe faça lembrar a miséria, a vergonha e a fome de duas pessoas que trabalharam toda a vida.
Mas também o amor.
Mas também o amor.
Ao ouvi-lo, imaginamos as muitas lágrimas choradas em conjunto, abraçados, mas também o amor que os mantém unidos no seu próprio lar.
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