Todas as terras julgam chamar-se A Terra. Todas as terras são, para quem mora nelas, o Umbigo do Mundo. Sempre que desembarquei em terra, depois de ter navegado pelos mar, senti que a terra era imunda. E enjoei.
domingo, março 29, 2009
Filme Gran Torino
Passa-se na América do Norte, a personagem principal (Clint Eastwood)é um antigo combatente do Vietnam racista e xenófobo, que cria laços de profunda amizade com um rapazito mongol, acabando por se identificar muito mais com aquela comunidade, que desprezava, do que com a sua.
A propósito, Gran Torino é a marca de um automóvel italiano antigo e com charme.
Não conto mais, pois termina de modo surpreendente.
Sinto-me sempre incomodada e aborrecida quando uma furtiva lágrima me acorre a um olho, ao ponto de ter de a limpar, como aconteceu desta vez, mas valeu a pena esse incómodo. Felizmente ninguém viu, portanto ninguém sabe.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
As Famílias
Jenny Lumet, a argumentista de "O Casamento de Rachel", disse numa entrevista que "as famílias são organismos vivos que se mexem o tempo todo como tubarões", frase que está quase à altura do que Tolstoi escreveu no início de "Anna Karenina": "Todas as famílias felizes são iguais; só as famílias infelizes são infelizes à sua maneira". Ao telefone com o Ípsilon a partir de Nova Iorque, Lumet tenta justificar-se, para que a sua observação não soe "mórbida" - "O que eu queria dizer é que uma família estagnada não é necessariamente uma família feliz..." - mas é tarde demais para varrer a insinuação da sua frase lapidar: onde houver uma família, haverá sangue.
quinta-feira, janeiro 01, 2009
Austrália
Hoje, em Lisboa, o dia Um de Janeiro nasceu moribundo e assim mesmo se extinguiu.
"Negro como um tição", sem "pinga de sol", chovia continuamente e havia uma névoa inusual nesta terra.
Gosto de dias assim, sobretudo porque aqui são raros.
Não havia nada aberto, nem mesmo os chineses que vendem terra, para eu plantar esta plantinha selvagem (só uma) que trouxe e que está provisoriamente num vaso emprestado.
Nada mais me restou, a não ser ir ver o filme Austrália.
É um dos melhores filmes que vi na vida, dentro do estilo cinema americano, ou seja, de acção, de romance, de suspense e com uma estrutura narrativa própria do romance do Sec. XIX e dos actuais romances, que, à americana, se escrevem para vender. Embora o filme seja australiano, ou pelo menos é-o o seu realizador.
Curiosamente, a actriz principal pareceu-me demasiado magra, o que me teria agradado muito quando eu própria era demasiado magra, mas que agora me pareceu inverosímil. Tão fraca, tão pálida, onde foi buscar tanta força, pergunto, sendo verdade que eu também tinha uma saúde de ferro, mas força física, nem vê-la.
Penso que o cinema, se quer ser uma arte, deve evoluir e não copiar o que vende bem. Penso que não devemos imitar o cimema americano, nem confundir arte com entretenimento.
O problema actual é entreter milhões de pessoas que não são capazes de ler um livro, nem de se sentarem à lareira a conversar com os filhos e netos, nem de inventarem um modo de se sentirem bem sem se aturdirem. O Know how existe, mas não se transmite de geração em geração: os avós ou bisavós não viam televisão nem eram mais infelizes por isso; talvez sofressem menos de tédio. Mas não podem transmitir essa capacidade, sob pena de serem considerados arcaicos.
Mas, dentro do estilo americano, este é dos melhores filmes que já vi.
Também fala do saber que se transmite de geração em geração e que é considerado ignorância. É um filme épico, romanesco, idealista, de acção e muito belo. Só não percebi se a personagem principal existiu mesmo, ou se é inventada.
terça-feira, julho 29, 2008
Eu Servi o Rei de Inglaterra - Filme
Acho boas quase todas as alternativas ao cinema americano, mas este realizador é daqueles que fizeram história.
O filme conta as peripécias de um homem que trabalhou sobretudo como criado de mesa em restaurantes chiques da Checoslováquia. Abrange a 2ª Gerra Mundial, com a ocupação do país pelos alemães, mais tarde a libertação e posterior instalação do regime comunista.
A personagem principal é um anti-herói algo cómico, mas o filme tem uma ironia subtil que faz sorrir, não provoca aquelas gargalhadas sonoras de quem não está a pensar.
É de facto um país que foi dum extremo ao outro, antes de ser desmantelado e transformado em dois. É bem apanhada a ideia de mostrar essa sociedade sob a perspectiva do luxo, que deixa de existir no regime comunista e que assume facetas diferentes durante a ocupação nazi. Também mostra o "ridículo" das ideologias e de quem as segue de forma rígida.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
A Cabo sem Cabo
Como até agora só tinha um televisorzito portátil com os quatro canais, comprei um LCD daqueles grandes para pôr na parede e encomendei a Televisão Cabo sem fios (sem Cabo?). Tudo bem. No sábado tive isto aqui cheio de técnicos a colocar tudo, mas acabaram por se ir todos embora sem fazer nada: queriam pregar na televisão a chapa de pôr na parede e não havia sítio para aparafusar, iam pôr fios para instalar a Cabo sem Cabo e não traziam o rooter para substituir os fios, informações desoncontradas para aqui, telefonemas para acolá... qualquer dia hei-de ter tudo isso! Se Alá quiser! Como não quis o Lisboa-Dakar.
Acontece que os técnicos não percebem nada destas coisas modernas e às vezes nem ouviram falar.
Entretanto só posso ver no televisor grande, instalado em cima de vários livros grandes, filmes de DVD. E vi:
1 - "Poseidon" um fime sobre um naufrágio fictício de um paquete de cruzeiro em que só não morrem 6 ou 7 - gostei porque gosto do mar, mas faltava-me o ar sempre que alguém se afogava; e foram muitos.
2 - "Chocolate" - gostei porque gosto de chocolate e também gostei do livro "Chocolate" de Johanne Harris. Ofereci à minha irmã a continuação, o último livro da autora e vou lê-lo quando ela mo emprestar. Isto de oferecer livros, discos e DVDs é porreiro, podemos sempre vê-los e ouvi-los.
3- "Ghandi" - gostei porque gosto do "Ghandi" e o filme também é óptimo.
4- "Maria Callas" - não gostei embora goste da Maria Callas. filma odioso em que a diva parece uma mulherzita.
4- E agora vou rever "Master and Commander" - vou gostar porque gosto muito do mar.
Conclusão: Enfim...
terça-feira, novembro 27, 2007
Sonata de Outono
É claro que gostei da peça. É sobre uma mulher, pianista, que descura o papel de mãe e de esposa para se dedicar à arte para a qual é dotada.
É sobre a arte, essa tirana que não permite que alguém possa conformar-se à rotina, ao dia-a-dia convencional e a uma vidinha boa.
É sobre a condição feminina, sobre a mulher que não pode amar incondicional e imoderadamente.
É sobre a arte, essa maravilhosa tirana que não deixa repousar aqueles que a amam, condenando-os à inquietação, à solidão, à tristeza, talvez à culpa, mas também à insubmissão, à felicidade buscada sem trégua, mesmo à custa do desejo de viver, à ressurreição.
É sobre a beleza, essa maravilhosa tirana que não permite que alguns a amem moderadamente.
É sobre a arte, essa que não pode nem deve ser partilhada, não pode ser dividida, não pode ser amada moderadamente por aqueles que são escolhidos para a servir.
É sobre as mulheres, que só devem amar de forma moderada e doméstica.
segunda-feira, outubro 29, 2007
Espírito Indomável
Embora eu não aprecie as virtudes guerreiras, neste caso trata-se apenas de um indivíduo americano que foi preso no Laos, ou talvez no Vietename, enfim, em parte incerta, e conseguiu sobreviver fugindo e aguentando... contra todas as probabilidades.
A imagem é magnífica, com paisagens deslumbrantes, o tipo revela de facto um espírito que nunca se abate nem desanima, no que contrasta com todos os seus colegas de presídio.
Baseado numa história verídica.
segunda-feira, setembro 25, 2006
Casa na Lagoa
Acabo de ver o filme Casa na Lagoa.
É um daqueles objectos artísticos que nos despertam os sentidos, não os mais grosseiros mas os mais requintados.
Também nos deixam na impressão, ilusão, talvez? Convicção? De que tudo é possível em termos de destino, em termos de futuro, em termos de escolha...
Enfim... não sejamos limitados nas nossas opções por aquilo que está debaixo do nariz...