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sábado, junho 22, 2013

História do rei Sardão


Maria Ferreira - História do rei Sardão from MPAGDP on Vimeo.

Mais um conto popular da região do Douro Litoral, narrado por autóctone.
O pormenor do relógio é que parece ser um acrescento recente.
Para ver outros, clicar abaixo, na tag "Conto Popular". Aparecem todos seguidos, a começar por aquele post em que clicou..

Mais contos populares: Lenda de São Macário




Já aqui partilhei vários contos populares do Norte de Portugal, narrados por mim em texto. São contos desconhecidos, a não ser para quem os leu aqui, com exceção de um ou outro, como os que se referem À preguiça e têm versões na Galiza.
Apresentarei agora dois, narrados por uma senhora do povo, da mesma região, mais autênticos na forma de narrar e que eu também não conhecia.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

A velha e a couve

Já me esquecia deste conto popular, pois os religiosos são sempre um pouco esquisitos. Vem a propósito do espírito Natalício.

Era uma vez uma velha muito avarenta, na minha terra diz-se "muito pirata" ou "muito somítica" e que não dava nada a ninguém, não dava uma esmola a um pobre, não fazia bem a pessoa nenhuma.
Um dia em que estava a lavar hortaliças no rio, fugiu-lhe uma couve e ela disse:
- Coibe, bai-te com Deus e que aproveites a quem te encontrar.
Pouco depois, morreu. Ao chegar ao outro mundo, foi para o Purgatório, mas São Pedro disse-lhe:
- Só uma vez na tua vida é que tu fizeste bem, que foi aquela história da couve. Mas eu vou-te dar uma oportunidade. Agarra-te à tua coibe e sobes dependurada nela para o Paraíso.
A velha assim fez, mas as outras almas que estavam no Purgatório, quando a viram a subir para o céu dependurada na couve, também se dependuraram nas pernas dela. Então, a velha começou a dar pontapés às outras almas, batendo-lhes com os pés na cabeça, fazendo-as cair.
- A coibe é minha!  À minha custa e à custa da minha coibe é que bós não habeis de subir para o Paraíso.
E com esta última maldade, acabou por ficar onde estava.
OH!
Moral da história: se dermos uma couve, nunca devemos depois dizer assim:
- A coibe é minha!


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

domingo, dezembro 12, 2010

Os de Mansores II

Prosseguem as histórias de Mansores (nome ligeirmente modificado). Chamava-se tolinhos a pessoas atrasadas em termos mentais, talvez por vários motivos, incluindo o de terem sido criadas ao Deus-dará, sem nenhuma educação ou instrução.

Uma vez, um pai e um filho de Mansores compraram sardinhas e, como gostavam muito, mas era muito raro chegarem sardinhas àquela aldeia da serra longe do mar, estavam a dizer assim:
- Ai quem nos dera ter sempre sardinhas para comer.
Passava nesta ocasião por lá o almocreve, que ouviu a conversa e disse:
- Se vocemecês me derem um chapéu [cheio de] dinheiro, eu ensino-vos uma maneira de vós  terdes sempre sardinhas para comer...
Lá lhe deram o chapéu de dinheiro e o almocreve explicou:
- É só sameá-las.
- Samear as sardinhas?
- Claro!
Então, pai e filho semearam as sardinhas que tinham e ficaram a vigiar a sementeira, para que ninguém lha roubasse.
- Vai ser a nossa sorte! Vamos ficar ricos a vender as sardinhas.
Quando as sardinhas começaram a apodrecer, começaram a aparecer alguns bichos. A certa altura, pousou um gafanhoto no peito do pai, mesmo por cima do coração. Então, o pai disse:
- Ó moço, mata-me este gafanhoto!
- E como é que eu o mato, meu pai?
- Dá-lhe um tiro.
E assim foi. O moço deu um tiro no coração do pai e matou o gafanhoto e o pai.

(Eu avisei que estes contos são  muito estúpidos, mas, por isso mesmo, deve haver para eles alguma interpretação interessante, parecem contos exemplares.)

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Os de Mansores

Publiquei neste blogue muitos contos populares, mas guardei para o fim os mais estranhos e mesmo disparatados. Eram contos que o meu avô contava à lareira, um homem que morreu muito velho e feliz, na sua cama, quando era suposto ter morrido na Flandres, na I Guerra Mundial, da qual desertou e muito bem, a meu ver.


Contava ele umas histórias estrambólicas que situava numa aldeia próxima, aldeia da serra. Embora fosse próxima, ficava num concelho rival, o que explica, em parte, o mal que dizia da gente de lá. 

Caros amigos: peçam-me que conte uma história de Mansores. E eu conto.


História de Mansores


Era de noite e estava muito calor na aldeia de Mansores  As pessoas estavam todas sentadas à porta, porque não aguentavam estar dentro de casa. Foi então que passou um almocreve e lhes disse:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve disse que a solução era tirarem o telhado de colmo das casas. E assim fizeram.
Enquanto durou o Verão viveram eles muito contentes e satisfeitos nas casas sem o telhado de colmo. O pior foi quando veio o Inverno!
Então, estavam eles cheiinhos de frio e todos molhados e passou por lá outra vez o almocreve:
- Se vocemessês me derem um chapéu de dinheiro, eu resolvo-vos o problema.
Deram-lhe o chapéu de dinheiro e o almocreve mandou-os voltar a pôr os telhados.
Eles assim fizeram e assim ficaram todos contentes dentro de casa à lareira, muito quentinhos e protegidos da chuva, por causa dos telhados.


(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Contos de Santo António

Tenho publicados neste blogue muitos contos populares, alguns dos quais eram inteiramente desconhecidos. Têm muita procura, em grande parte proveniente de brasileiros. Quase todos s são do Douro Litoral e era o meu avô que os contava à lareira, tantas vezes os mesmos que ficaram bem na memória. Era também para isso que eles serviam.
Há vários sobre Santo António.
Numa aldeia de Castelo de Paiva, há um solar que dizem ter sido dos avós deste santo, mas parece que há muitas outras terras que dizem o mesmo, orgulhando-se de ser o berço dos pais e avós de um dos santos mais apreciados no mundo inteiro... sobretudo em Itália.

Estou a lembrar-me bem de um deles. É assim:

Um dia, os pais e os avós de Santo António resolveram ir todos juntos a uma romaria (dizem onde é a romaria). E então mandaram o Santo António, que era criança, ficar em casa a guardar os campos e a enxotar os pássaros para que não comessem as sementes.
Santo António aborreceu-se de estar sozinho e fez o seguinte: pegou numa rede de pesca, (a terra fica perto do rio Douro e do rio Paiva) e disse aos pássaros que fossem para debaixo da rede, como se fosse uma gaiola.
As aves assim fizeram, e o menino foi ter com os pais e os avós à festa. Estes ficaram muito zangados por o santinho ter abandonado os campos e ralharam muito com ele, mas quando chegaram, deram com os pássaros todos presos dentro da rede de pesca.

Este foi-me contado por várias pessoas, sempre com muitos pormenores realistas, como se se tivesse tudo passado ali.
Um aspecto que acho muito interessante nestes contos populares é a mentalidade que lhes está subjacente, neste caso em relação ao modo como se tratavam as crianças e ao trabalho infantil. Também parecia muito convincente neste aspecto, há muitos anos atrás.
O que está bem patente neste ditado popular: "o trabalho do menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco". Neste caso, era só enxotar os pássaros...

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

quinta-feira, abril 19, 2007

O homem preguiçoso: Conto popular

Era uma vez um homem que não gostava de trabalhar.
Um dia, o homem chegou à conclusão de que não valia a pena viver, se para comer e beber era necessário tanto esforço como trabalhar toda a vida, muitas horas por dia. Sendo assim, decidiu ser enterrado.
Ia o enterro a passar, com o caixão ainda aberto e o morto ainda vivo, portanto, a respirar... e toda a gente compungida, a chorar... enfim.
Nisto, passou o homem rico e perguntou:
- O que é isto?!
Lá lhe explicaram e ele disse:
- Parem o enterro! 
Pararam o enterro e o homem rico prometeu que ia sustentar o pobre do homem, sem que ele precisasse trabalhar.
Parem o enterro, que eu dou de comer ao morto durante toda a vida! o homem não precisa de ser enterrado, porque eu dou-lhe o pão!
Nisto, o defunto senta-se no caixão, deita a cabeça de fora e pergunta ao homem rico:
- E esse pão que me dá lá, vem mastigadinho já?
Surpreendido, o homem rico diz:
- Não, isso não! Dou-lhe o pão durante toda a vida, mas não o mastigo, isso não. Era o que faltava!
Enfadado, o defunto faz um gesto com a mão, volta a recostar-se no caixão e diz:
- Siga o enterro!


Se vocês também souberem contos populares desconhecidos como estes, podem contá-los aqui.
Estes são do Norte de Portugal, da região do Douro Litoral, também designada por Entre Douro e Minho. Estes posts têm muita procura, sobretudo no Brasil, enfim, estes conto desconhecidos, do meu avô, já são conhecidos através deste blog.

(Ver "A Mulher Preguiçosa" neste blogue) Clicar AQUI

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

terça-feira, abril 17, 2007

A mulher preguiçosa Conto popular

Um pobre homem tinha uma mulher muito preguiçosa.
Um dia, o homem disse à mulher que fizesse sempre as necessidades num cesto grande, num “gigo”, e ela assim fez.
Ao fim dum mês, o homem chamou os vizinhos todos das redondezas e mostrou-lhes, numa mão, um novelinho muito pequenino de lã de ovelha, que a mulher tinha dobado. Com a outra mão, mostrou-lhes o gigo cheio de… (vocês sabem o quê) e disse-lhes:
- Trabalho de um ano, cagança de um mês. Aqui está o trabalho que a minha mulher fez.


Moral da história: as mulheres devem trabalhar. Desculpem a má palavra, mas não ficava bem se a alterasse, porque é um conto popular do Norte. Do mesmo sítio de onde veio O Ancinho, de que todos os leitores deste blogue gostaram.

Outra moral da história: nós, mesmo quando não produzimos nada material (a esmagadora maioria), produzimos mesmo assim muita....(vocês sabem o quê).
Ver também neste blogue "O Homem preguiçoso"


P.S.: Num comentário posteriormente apagado pelo autor, perguntam-me se sou eu a autora do conto. Claro que não, já disse que é um conto popular português - apenas o redigi à minha maneira.

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.

Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

sábado, setembro 16, 2006

Os nabos do cego

Era uma vez um cego que tinha um nabal fantástico. Ninguém naquela terra conseguia ter nabos como aqueles, mas, sempre que lhe perguntavam o segredo, o cego nem tugia nem mugia.
Mas o cego tinha uma amante.
Um dia, o povo da aldeia, querendo colher nabos tão grandes como os do cego, pediu à amante que usasse um truque para lhe descobrir o segredo.

A amante arrancou um nabo e mostrou-lho.
- Ora vê tu este nabo tão grande!

O cego sopesou nabo, apalpou-o, pensou, tornou a pensar e  disse:

- Ou este nabo é meu, ou foi plantado no dia de São Bertolameu.


Moral da história: devemos plantar os nabos pelo São Bertolameu [São Bartolomeu) (24 de Agosto).

Falta de moral da história: muitos dos antigos contos populares têm esta falta de moral de ridicularizar os deficientes e as deficiências.


Clicar abaixo no item Conto Popular para ler outros aqui no blogue

(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, antes de ser queimada na lareira.
Estes contos eram inéditos, antes de terem sido partilhado neste blogue, sendo muito procurados por pessoas do Brasil.
São contos do Douro Litoral, também chamado de Entre Douro e Minho, Portugal)

quarta-feira, maio 31, 2006

Contos populares: O Ancinho

Os ditados e contos populares são às vezes comicamente antiquados: “O que não mata engorda” – quem se guia agora por semelhante ideia?
Esta história foi-me contada quando eu vivia numa pequena terra onde nasci.


Uma rapariga da aldeia, filha de camponeses pobres, foi servir para o Porto. (Noutras versões poderá ter casado com um homem do Porto, o que seria um pouco estranho).
Um dia, quando voltou a casa, vinha de tal modo chiquérrima que já não se lembrava de nada e era preciso explicar-lhe tudo:
- Ó meu pai? O que é aquela coisa ali deitada no chão e cheia de picos????!
(Cá entre nós era um ancinho, uma coisa com picos que serve para apanhar as folhas que caem das árvores).
- Ai tu não sabes o que é aquilo?
- Não, meu pai. (A rapariga até era bem educada).
- Então põe o pé em cima dos picos.
A rapariga assim fez, mas, ao fazê-lo, o cabo do ancinho levantou-se e bateu-lhe no nariz. Ao sentir aquela sensação, muito desagradável mas muito familiar, a rapariga lembrou-se logo e disse assim:
- Ah, meu pai, é um inchinho! (corruptela de lá).


Moral da história:1º- Nunca devemos fingir-nos de chiquérrimos e fingir que não sabemos o que é um inchinho. 2ª- Não devemos esquecer / renegar as nossas raízes! 3ª- Convém sabermos onde pomos os pés.
Falta de moral da história: este conto foi-me narrado de forma interactiva: eu fingia que era a rapariga e punha o pé nos picos, para nunca mais me esquecer da sensação, realmente inolvidável (parece que foi ontem). Mas só o pus da primeira vez, porque eu não sou burra!
Ora, da última vez que experimentei, com muito cuidado, o cabo não me bateu no nariz, mas sim nas pernas, talvez nas ancas, no máximo. Daqui se conclui que a rapariga era criança. Quantas histórias e quantos ditados haverá, relativos ao trabalho infantil e outras coisas deste género?
“O trabalho do menino é pouco, mas quem o não aproveita é louco”.

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(Contos narrados pelo meu avô Manuel Daniel de Sousa, transcritos após a sua morte, com contribuições de várias pessoas da família. O avô contava estas historias milhares de vezes, enquanto os primos piscavam os olhos entre si, sentados em escabelos, na espreguiçadeira, ou deitados na carqueija, a ser queimada na lareira.)